Antonio Nunes de Souza*
“Atenção passageiros com destino
a S. Paulo, dirijam-se a plataforma cinco, para embarque no ônibus 6, que sairá
dentro de vinte minutos. Desejamos uma boa viagem para todos!”
Ao
ouvir esse aviso no autofalante da rodoviária, dirigi-me rápido para ocupar
minha cadeira, que, graças a Deus, meu tio me deu a passagem de presente, já
que resolvi aventurar a vida em Sampa, uma vez que tinha dois irmãos
trabalhando lá!
Seguimos
viagem, dei um bom cochilo mesmo estando nervoso com a nova vida que
despontava, até que o ônibus deu uma derrapada na pista e, horrivelmente,
desceu numa pirambeira, batendo em diversas árvores. Passei a ouvir gritos
de desespero, choros e muitos passageiros feridos, inclusive eu com a perna
sangrando e sem poder me locomover. Os carros que passavam na estrada devem ter
visto o acidente, e vários pararam para dar socorro, como também acionaram a
polícia rodoviária e a assistência médica. Eu desmaiei somente acordando no
hospital, já com a perna engessada, sentindo dores no corpo e preocupado com
minha mala, que ficou no local. Depois fiquei sabendo que bandidos saquearam as
bagagens. Infelizmente, nada podia fazer, porém fiquei puto, pois nela estavam
meus documentos e meu dinheiro!
Nesse
impasse da perna, telefonei do hospital para meus irmãos, avisei o ocorrido, pedi
que me mandassem através do hospital, uma grana para minha passagem, já que a
companhia não me deu a mínima assistência, e eu não tinha nenhuma condição de
reivindicar nada. Fiquei no hospital por 35 dias, até poder andar, mesmo com o
auxilio de uma bengala!
Veio
o dinheiro, comprei a passagem, me acomodei no ônibus e, mesmo preocupado,
segui estrada a dentro louco para chegar ao meu destino. Mas, ao pararmos num
posto, a polícia rodoviária entrou procurando um bandido que tinha sido baleado
na perna e havia fugido. Quando eles me viram andando com a bengala, me
agarraram por traz, me algemaram e um gritou: Pegamos o homem tentando escapar!
Eu tomei um puto susto e falei eu sou um homem de bem e, quando acabei de
falar, recebi um catiripapo no pé do ouvido, que vi os passarinhos rodando em
volta da minha cabeça. Quis falar, mas ele disse: cale a boca vagabundo, deixe
para falar na delegacia. Não nego não. Me mijei todo e comecei a chorar, minha
perna ainda cicatrizando, doía bastante. E quando eles me pediram os documentos,
e eu disse que não tinha, me deram outro tabefe que caí com dor e ódio dos
filhos dos puta dos guardas!
Me
colocaram num carro e me levaram para a delegacia. Lá chegando me entregaram ao
delegado, que depois que contei a minha história, ligou para o hospital, checou
minha versão, pediu-me desculpas pelos equívocos dos guardas, e arranjou para
eu dormir numa pensão, porém, eu sem dinheiro como poderia viajar, já que meu
ônibus depois que fui preso embaixo de vaias, seguiu viagem. Esperei o dia
seguinte e fui até a delegacia, pedi para telefonar para meus irmãos, para
pedir dinheiro, mas, felizmente o delegado me arranjou uma carona num caminhão
que ia para Santos, aliviando minha despesa, como também não precisei telefonar pedindo dinheiro, em função da carona, e o que tinha no bolso daria para as refeições na
viagem!
Depois
de 5 horas de viagem, fomos parados num posto e, por mais uma ironia, havia
qualquer coisa errada com relação a carga, e infelizmente prenderam o caminhão,
deixando-me mais uma vez no caminho, e ainda sem grana para pegar um ônibus.
Fiquei solidário ao motorista por horas, ele tentando convencer a patrulha,
mas, sem nenhum sucesso. Aí, no desespero, pedi ao tenente responsável pelo
posto para me conseguir uma carona, contando minha agonia desde que saí de minha
terra!
Ele
sensibilizou-se e foi para pista, parou alguns carros, até que apareceu um indo
direto para S. Paulo, a capital, que gentilmente, aceitou me levar. Vocês podem não
ter percebido, mas, já se passaram 43 dias que saí de casa, e ainda não tinha
chegado onde desejava, Imagino que meus irmãos estavam desesperados, assim como
meus parentes lá no Piauí!
A
viagem foi tranquila sem nenhum problema, contei os dramas que tinham me
ocorrido nesse longa e tenebrosa viagem, ele riu bastante, pois, na verdade
parecia uma praga que me jogaram, porém eu já estava a meia hora da capital, e
o motorista me deu 100 reais para eu tomar um taxi para o endereço de meus
irmãos. Anotei seu nome e o número do seu PIX para que enviasse depois.
Finalmente chegamos, ele me deixou num lugar mais próximo possível do bairro
que eu iria, nos despedimos e saí manquejando em direção a uma praça de táxi no
outro lado da rua. E, como se estivesse saído do nada, apareceu uma Van em
velocidade me atropelando violentamente!
Fiquei
em coma total e entubado por 86 dias, meus irmãos, que acharam o endereço em
meu bolso e avisaram, indo me visitar na enfermaria do hospital sempre, e
infelizmente, o acidente atrofiou minha coluna, não poderei mais andar, e meus
irmãos vão comprar uma passagem de avião para me mandar de volta para o Piauí.
Sinceramente, estou indo, mas com um medo filho da puta do avião cair!
Resultado
é que tentei melhorar minha vida, sofri bastante e voltei cadeirante. Agora
digam-me com sinceridade, essas expressões bastante usadas: “DEUS ESTÁ NO
COMANDO” e “O DESTINO A DEUS PERTENCE”, são de verdade?
Pois,
se são de verdade, Ele parece que vacilou bastante ao “traçar ou comandar” o meu destino, pois,
sempre fui uma pessoa boa, direita, solidária e muito bom filho. Juro que vou morrer sem
entender!!!
*Escritor,
Historiador, Cronista e Poeta!