quinta-feira, 3 de agosto de 2017

COMO ESTAMOS VULNERÁVEIS!


Antonio Nunes de Souza*

Para Roberto, ter conseguido ser motorista e dono de um táxi na capital, representava uma grande vitória, já que tinha vindo da Paraíba com quinze anos aventurar a vida em S. Paulo, façanha bastante repetida pelos esfomeados e abandonados nordestinos!
Depois de trabalhar fazendo mil coisas que aparecia, ou ele criava, foi se ajeitando até que conseguiu um velho barraco na estrada e montou uma borracharia super modesta, que no princípio não atendia caminhões em função de não possuir as ferramentas necessária. Mas, com algum tempo, economias e muito trabalho a qualquer hora do dia ou da noite, foi se firmando, chegando a equipar dignamente seu comércio de serviços!

Passados nove anos nessa brutal luta, começou a sentir dores na coluna em função das posições e pesos exercidos na profissão e, por recomendação médica, deveria deixar o seu tipo de trabalho, pois estava ameaçado a depois de algum tempo perder sua mobilidade, tendo que usar bengalas, ou talvez até cadeira de rodas. Medroso e cauteloso, colocou a sua borracharia a venda, aparecendo logo um comprador que, graças a Deus, pouco regateou com o preço e o negócio foi fechado.
Depois de pensar o que fazer, lembrou-se do seu tempo de menino que sempre havia desejado ter um carro, não com o intuito de trabalhar, e sim de passear. Mas, tendo seu carro como um táxi, também lhe mataria o desejo do passado de usá-lo para passear também!
Assim começou a nova vida de Roberto. Comprou um carro novo a vista, providenciou o alvará de funcionamento, as licenças necessárias e, mais que depressa, passou a estudar o mapa da grande metrópole, cheia de avenidas, ruas, bairros e vielas, que raríssimos são os taxistas que conhecem.
Começou o seu trabalho um tanto nervoso, porém, levava em seu rosto, um estampado de homem vencedor. O seu primeiro dia a remuneração foi fraca, menos até do que faturava na borracharia, porém, carro novo no ponto, motorista desconhecido sem ter freguesia, etc., tudo isso tinha que ser levado em conta, até ele ser um dos conhecidos colegas de profissão!

No final de semana, já que ele trabalhava de segunda a segunda, ao cair da tarde de sábado, apareceram dois homens e uma mulher para ele levar até Santos. Ele fez o cálculo pela quilometragem e acertaram o preço. Pegou seus passageiros com alegria pela boa grana que receberia e seguiu sua viagem.
Infelizmente, quando saíram do perímetro urbano, o homem estava atrás com a mulher, sacou de um revolver e, brutalmente, mandou que ele parasse no acostamento. Sem alternativa, bastante assustado, foi encostando e parou o veículo.
Pediu e implorou que não levassem seu carro, contou sua história, sua pobreza e esforços para conseguir, mas, os bandidos mandaram foi que ele se calasse, saltasse, entregasse o dinheiro da diária e seu celular.
Naquele instante, Roberto desesperado por ver todos os seus esforços virem por água a baixo, avançou no bandido que, automaticamente, disparou dois tiros em sua cabeça, deixando-o na beira da estrada e seguindo com veículo roubado!
Ainda com vida, Roberto foi socorrido, levado para um hospital, ainda teve tempo de contar o que ocorreu e, antes que fosse iniciada a sua cirurgia, faleceu em virtude de uma hemorragia cerebral em função dos disparos recebidos!

Uma lástima que ocorrem fatos dessa ordem diariamente em todas as cidades brasileiras e, muito também, em quase todos países, comprovando sempre que os homens estão se animalizando!

*Escritor-Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com

Nenhum comentário: