Antonio
Nunes de Souza*
Para
Roberto, ter conseguido ser motorista e dono de um táxi na capital,
representava uma grande vitória, já que tinha vindo da Paraíba com quinze anos
aventurar a vida em S. Paulo, façanha bastante repetida pelos esfomeados e
abandonados nordestinos!
Depois
de trabalhar fazendo mil coisas que aparecia, ou ele criava, foi se ajeitando
até que conseguiu um velho barraco na estrada e montou uma borracharia super
modesta, que no princípio não atendia caminhões em função de não possuir as
ferramentas necessária. Mas, com algum tempo, economias e muito trabalho a
qualquer hora do dia ou da noite, foi se firmando, chegando a equipar
dignamente seu comércio de serviços!
Passados
nove anos nessa brutal luta, começou a sentir dores na coluna em função das
posições e pesos exercidos na profissão e, por recomendação médica, deveria
deixar o seu tipo de trabalho, pois estava ameaçado a depois de algum tempo
perder sua mobilidade, tendo que usar bengalas, ou talvez até cadeira de rodas.
Medroso e cauteloso, colocou a sua borracharia a venda, aparecendo logo um
comprador que, graças a Deus, pouco regateou com o preço e o negócio foi
fechado.
Depois
de pensar o que fazer, lembrou-se do seu tempo de menino que sempre havia
desejado ter um carro, não com o intuito de trabalhar, e sim de passear. Mas,
tendo seu carro como um táxi, também lhe mataria o desejo do passado de usá-lo
para passear também!
Assim
começou a nova vida de Roberto. Comprou um carro novo a vista, providenciou o
alvará de funcionamento, as licenças necessárias e, mais que depressa, passou a
estudar o mapa da grande metrópole, cheia de avenidas, ruas, bairros e vielas,
que raríssimos são os taxistas que conhecem.
Começou
o seu trabalho um tanto nervoso, porém, levava em seu rosto, um estampado de
homem vencedor. O seu primeiro dia a remuneração foi fraca, menos até do que
faturava na borracharia, porém, carro novo no ponto, motorista desconhecido sem
ter freguesia, etc., tudo isso tinha que ser levado em conta, até ele ser um
dos conhecidos colegas de profissão!
No
final de semana, já que ele trabalhava de segunda a segunda, ao cair da tarde
de sábado, apareceram dois homens e uma mulher para ele levar até Santos. Ele
fez o cálculo pela quilometragem e acertaram o preço. Pegou seus passageiros
com alegria pela boa grana que receberia e seguiu sua viagem.
Infelizmente,
quando saíram do perímetro urbano, o homem estava atrás com a mulher, sacou de
um revolver e, brutalmente, mandou que ele parasse no acostamento. Sem
alternativa, bastante assustado, foi encostando e parou o veículo.
Pediu
e implorou que não levassem seu carro, contou sua história, sua pobreza e
esforços para conseguir, mas, os bandidos mandaram foi que ele se calasse,
saltasse, entregasse o dinheiro da diária e seu celular.
Naquele
instante, Roberto desesperado por ver todos os seus esforços virem por água a
baixo, avançou no bandido que, automaticamente, disparou dois tiros em sua
cabeça, deixando-o na beira da estrada e seguindo com veículo roubado!
Ainda
com vida, Roberto foi socorrido, levado para um hospital, ainda teve tempo de
contar o que ocorreu e, antes que fosse iniciada a sua cirurgia, faleceu em
virtude de uma hemorragia cerebral em função dos disparos recebidos!
Uma
lástima que ocorrem fatos dessa ordem diariamente em todas as cidades
brasileiras e, muito também, em quase todos países, comprovando sempre que os
homens estão se animalizando!
*Escritor-Membro
da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário