segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Toalha do amor!

Antonio Nunes de Souza*

Padaria Venezia. Esse era o letreiro imenso da maior padaria e pastelaria do bairro, que abocanhava uma clientela dos bairros circunvizinhos, graças as suas maravilhosas massas italianas ministradas e administradas pelo velho italiano Gino Bartilloti e alguns membros da família, seguindo todos uma linhagem profissional de algumas gerações, desde a Cecília, onde morava os tradicionais padeiros Bartilloti.

Até aí tudo normal, pois também ocorrem fatos parecidos com famílias de espanhóis, árabes e portugueses, que chegaram ao Brasil e foram recebidos com a generosidade e bom acolhimento do nosso povo. Mas, como cada uma tem suas histórias, a da padaria Venezia é interessante e vale a pena ser contada: O filho mais velho do senhor Gino era uma figura permanente em frente a todos os problemas, ajudando, não só na administração e confecção das iguarias, ficava, no fim da tarde no balcão principal, despachando sua seleta e querida freguesia!
E, com esse contato diário, jovem de seus 21 anos, Giovanni fazendo faculdade de tecnologia de alimentos, conheceu dona Beatriz (Bia para os íntimos), que diariamente, mesmo sendo de classe média alta, gostava de ir pessoalmente fazer sua compra diária de pães fresquinhos e quentes. Mulher de uns quarenta anos, mas, conservadíssima, bonita e bem cuidada. Passaram a ter trocas de olhares, conversinhas tolas sobre as propriedades dos tipos de pães típicos da Itália e, terminaram, começando um namorico, já que Dona Bia, mulher casada e bem casada, morava num edifício bem em frente a padaria!

Por enquanto, a coisa não passava de um pequeno flerte, umas pegadinhas de mãos rápidas na hora de entregar as compras, e olhares e sorrisos cheios de desejos. Um dia ela foi bem mais cedo, a casa ainda, praticamente vazia, e combinou com ele que seu marido sempre viajava e que ela colocaria uma toalha branca estendida na janela, que seria o sinal para ele subir até o apartamento, afim de completar a sequência amorosa de ambos. Que ele ficasse atento para não perder as oportunidades. Ele ficou eufórico, menino jovem, cheio de tesão e uma aventura dessa, ainda aumentava suas expectativas e fazia crescer seu precioso desejo carnal!
Giovanni passou a não tirar os olhos da janela durante todo tempo, na expectativa de ver a querida e esperada toalha branca. Uma noite, sem que esperasse, aconteceu. Estava lá o toalhão pendurado na sacada, sacudida pelo vento do quinto andar, como estivesse chamando ele para subir. Tomou um banho rápido, se perfumou e, astutamente, fez um embrulho com diversos tipos de pães, pegou o pacote e seguiu. Quando chegou lá  em cima, tocou a campainha e, para sua surpresa, quem veio atender foi o dr. Victor, marido de Bia que, inadvertidamente, tomou um bom banho e colocou a toalha para secar na janela, enquanto Bia estava na sala vendo a novela e não percebeu tal gesto!
Doutor Vitor perguntou: o que você deseja?
Geovanni tomou um susto tão grande que, literalmente, se urinou todo e disse: Eu estou doente de dengue, com febre, mas, vim trazer uns pães que a dona Bia pediu. Aqui está a encomenda e depois ela acerta. Vou para casa tomar um banho, me medicar e descasar um pouco!
Saiu às pressas, super nervoso, pegou seu carro e foi para casa se refazer do grande susto e risco que passou.
Depois disso, Geovanni nunca mais quis saber de conquistas dentro do trabalho, quando via dona Bia chegar ia para o fundo e nunca mais trocaram uma palavra. Até hoje, quando ele vê uma toalha branca fica arrepiado, imaginando que poderia ter até morrido! Passou a seguir o velho adágio: “Onde se come o pão, não se come a carne!”

*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com


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