Antonio
Nunes de Souza*
Padaria
Venezia. Esse era o letreiro imenso da maior padaria e pastelaria do bairro,
que abocanhava uma clientela dos bairros circunvizinhos, graças as suas
maravilhosas massas italianas ministradas e administradas pelo velho italiano
Gino Bartilloti e alguns membros da família, seguindo todos uma linhagem
profissional de algumas gerações, desde a Cecília, onde morava os tradicionais
padeiros Bartilloti.
Até
aí tudo normal, pois também ocorrem fatos parecidos com famílias de espanhóis,
árabes e portugueses, que chegaram ao Brasil e foram recebidos com a
generosidade e bom acolhimento do nosso povo. Mas, como cada uma tem suas
histórias, a da padaria Venezia é interessante e vale a pena ser contada: O
filho mais velho do senhor Gino era uma figura permanente em frente a todos os
problemas, ajudando, não só na administração e confecção das iguarias, ficava, no
fim da tarde no balcão principal, despachando sua seleta e querida freguesia!
E,
com esse contato diário, jovem de seus 21 anos, Giovanni fazendo faculdade de
tecnologia de alimentos, conheceu dona Beatriz (Bia para os íntimos), que
diariamente, mesmo sendo de classe média alta, gostava de ir pessoalmente fazer
sua compra diária de pães fresquinhos e quentes. Mulher de uns quarenta anos,
mas, conservadíssima, bonita e bem cuidada. Passaram a ter trocas de olhares,
conversinhas tolas sobre as propriedades dos tipos de pães típicos da Itália e,
terminaram, começando um namorico, já que Dona Bia, mulher casada e bem casada,
morava num edifício bem em frente a padaria!
Por
enquanto, a coisa não passava de um pequeno flerte, umas pegadinhas de mãos
rápidas na hora de entregar as compras, e olhares e sorrisos cheios de desejos.
Um dia ela foi bem mais cedo, a casa ainda, praticamente vazia, e combinou com
ele que seu marido sempre viajava e que ela colocaria uma toalha branca
estendida na janela, que seria o sinal para ele subir até o apartamento, afim
de completar a sequência amorosa de ambos. Que ele ficasse atento para não
perder as oportunidades. Ele ficou eufórico, menino jovem, cheio de tesão e uma
aventura dessa, ainda aumentava suas expectativas e fazia crescer seu precioso
desejo carnal!
Giovanni
passou a não tirar os olhos da janela durante todo tempo, na expectativa de ver
a querida e esperada toalha branca. Uma noite, sem que esperasse, aconteceu.
Estava lá o toalhão pendurado na sacada, sacudida pelo vento do quinto andar,
como estivesse chamando ele para subir. Tomou um banho rápido, se perfumou e,
astutamente, fez um embrulho com diversos tipos de pães, pegou o pacote e
seguiu. Quando chegou lá em cima, tocou a campainha e, para sua surpresa, quem
veio atender foi o dr. Victor, marido de Bia que, inadvertidamente, tomou um
bom banho e colocou a toalha para secar na janela, enquanto Bia estava na sala
vendo a novela e não percebeu tal gesto!
Doutor
Vitor perguntou: o que você deseja?
Geovanni
tomou um susto tão grande que, literalmente, se urinou todo e disse: Eu estou
doente de dengue, com febre, mas, vim trazer uns pães que a dona Bia pediu.
Aqui está a encomenda e depois ela acerta. Vou para casa tomar um banho, me
medicar e descasar um pouco!
Saiu
às pressas, super nervoso, pegou seu carro e foi para casa se refazer do grande
susto e risco que passou.
Depois disso, Geovanni nunca mais quis saber de
conquistas dentro do trabalho, quando via dona Bia chegar ia para o fundo e
nunca mais trocaram uma palavra. Até hoje, quando ele vê uma toalha branca fica
arrepiado, imaginando que poderia ter até morrido! Passou a seguir o velho
adágio: “Onde se come o pão, não se come a carne!”
*Escritor
– Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com
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