Antonio
Nunes de Souza*
Como
é peculiar e normal, quando a seca é terrível nos sertões do norte e nordeste,
saírem caminhões, apelidados de pau de arara, levando dezenas, ou centenas de
famílias, que vão em busca de melhores dias e oportunidades nas capitais do
sul, principalmente, S. Paulo! E, dentre essas levas coletivas, vou me ater a
falar sobre a família de dona Laura, composta dela (viúva) e três filhos com
idades de 7, 8 e 9 anos!
Já
de se esperar, sem dinheiro para a mais simples das hospedagens, foram parar
embaixo de uma ponte/viaduto no centro, com suas camas de papelão e um lençol
pregado em volta para dar alguma privacidade. Como muitos que ali moravam, seus
rendimentos para a subsistência era nas condições de pedintes, não só aos
pedestres, como, principalmente, aos motoristas que paravam nos semáforos.
Pobremente, mas dignamente, a arrecadação de moedas dava para que todos se
mantivessem alimentados. Coisa que não acontecia em sua terra natal.
Certo
dia, Chiquinho, o filho do meio, teve o azar de ser atropelado por um motorista
que estava falando no celular e, distraído, pegou a criança de raspão jogando-a
no chão causando alguns ferimentos. Nada de grave, mas, que necessitava de um
atendimento com curativos, etc., o homem educado, prestimoso e reconhecedor do
seu erro, imediatamente prestou-se para levar a criança a um médico e fazer o
que fosse necessário. Dona Laura bastante nervosa, consentiu que o garoto fosse
levado, apontou onde moravam e que aguardaria o retorno!
Doutor
Lauro, engenheiro dono de uma construtora, colocou Chiquinho na parte de trás
do carro e partiu para a clínica de um amigo, no sentido de cuidar do pobre atropelado
que, mesmo sem chorar, via-se em seus olhos o espanto do ocorrido e, ao mesmo tempo,
a satisfação de estar andando de automóvel de luxo, coisa que nunca tinha feito
e jamais esperava fazer. Feita a assistência médica, remédios para serem usados
posteriormente, foi sugerido pelo médico, que ele ficasse em observação, pelo
menos 3 dias, já que tinha recebido uma pancada na cabeça onde se via um
pequeno “galo”, ou hematoma. Doutor Lauro se despediu e voltou para levar
Chiquinho, mas, na ida passou por sua casa, contou o acidente a sua mulher que,
preocupada, vendo a criança encolhida e assustada, resolveu acompanha-lo na
devolução do doente!
Lá
chegando, o casal ficou pasmo e triste de ver as condições precárias e terrível
que vivia a família e, como o médico determinou a observação de 3 dias, eles
levariam Chiquinho e trazeriam assim que fosse restabelecido. Chiquinho nada
dizia, dona Laura mostrava certa desconfiança e medo, mas, a esposa que
acompanhava lhe deu créditos para permitir e, guardando o cartão de visita de
Lauro, seguiu ele para casa levando a assustada criatura. Chegando lá deram-lhe
um bom banho, dona Dayse arranjou uma improvisação de roupas para ele, mandou
que as empregadas preparassem, um quarto para colocá-lo, mas, que antes lhe
alimentasse da melhor forma, observando os horários dos remédios! Chiquinho
estava como hipnotizado, pois nunca tinha entrado numa casa como aquela que
parecia que ele estava participando de um filme no cinema ou tv. No dia
seguinte, dona Laura saiu e comprou algumas roupinhas para ele, chegando em
casa mandou que vestissem, que quando Chiquinho se olhou no espelho, penteado,
perfumado e com roupas decentes, nem se reconheceu, tomando até um susto e
doido para voltar e se mostrar para seus irmãos. Colocaram ele embaixo de um sombreiro
na beira da piscina, onde a sapeca filha caçula de 4 anos, estava banhando-se
na parte infantil e rasa, mas, a babá se descuidou e a menina pulou na parte
funda para adultos começando a afogar-se. E a babá, mandando mensagens em seu
celular nem percebeu. Chiquinho, mesmo sem saber nadar, voou na piscina e pegou
a menina pelos cabelos, começou a gritar e, foi uma correria dos pecados, todos
avançando na piscina, tiraram a criança, quase esquecendo de Chiquinho que se
batia e procurava a borda para se segurar e subir. Da parte alta da casa, dona
Dayse viu o ocorrido, desceu rápido e a menina já estava restabelecida, apenas
Chiquinho tremia de frio, e bastante nervoso!
Daí
pra frente, Chiquinho passou a ser o herói da casa, tratado com o maior
carinho, dona Dayse pediu que deixasse ele morar lá, estudar e fazer companhia
aos seus dois filhos. A menina do acidente, Lúcia, e o garoto um ano mais
velho, Levy!
Para
encurtar nossa história, Levy e Lúcia ficaram inseparáveis, estudando nas
mesmas escolas, uma afetividade fora do comum, como se ela somente vivia graças
a ele (e era verdade), se formaram em engenharia, casaram e trabalham na
construtora junto ao doutor Lauro. Vejam vocês quando Deus quer como acontece
as coisas certas por linhas tortas: um acidente de automóvel, outro acidente
aquático e encontrarem uma família de pessoas decentes e solidárias!
Esse
exemplo serve para que você, quando acontecer algo inesperado e constrangedor,
tenha fé, seja paciente, não se desespere, pois Deus sabe o que está fazendo!
*Escritor
– Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com
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