Antonio
Nunes de Souza*
Com
esse título super controvertido, logicamente criará uma ponta de curiosidade,
já que, normalmente, quem perde jamais ganha. Ou quem ganha é porque não perdeu!
Porém,
nesse caso, aconteceu exatamente o que ele diz com esse título, completamente
fora dos padrões da realidade!
Perto
de chegar no meu ponto de saltar do metrô, coloquei minha bolsa ao lado no
banco e, penteando os cabelos, foi quando o vagão parou e, como as portas se
fecham automaticamente e rápidas, corri pra saltar e, tolamente, esqueci de
pegar a bolsa, esquecendo-a no banco e, já com lágrimas nos olhos, lamentei o
vacilo vendo o trem longe, não vi como conseguir fazê-lo retornar de ré para me
atender!
De
tão apavorada e enraivada, nem atentei para olhar a numeração do trem para que
fosse mais facilitada a busca. Saí em disparada e fui direta para a repartição
de atendimento aos clientes, que junto funcionava o balcão de objetos perdidos.
Contei a minha história e, prontamente (coisa rara), o funcionário pegou o
telefone e ligou para o trem (identificou pelo trajeto e horário), solicitando
a um fiscal que fosse no lugar e classe indicada verificasse o fato e pegasse a
bolsa.
Ficamos
aguardando uma resposta, que demorou uns 15 minutos, nos relatando que nada foi
encontrado, mesmo com uma procura minuciosa! A essa altura eu já estava puta da
vida, pois, além de todos meus documentos dentro, tinha seguido meu celular de
ponta, com todos meus endereços. Preenchi a notificação de perda e segui com o
maior ódio pra o trabalho, já sabendo que teria um dia FDP pela frente.
Espertamente
liguei para meu celular para ver se teria alguma resposta, ou se foi um ladrão
que havia surrupiado minha bolsa. E, inesperadamente, uma voz bem impostada e
meio rouca, atendeu. Relatei minha agonia e preocupação, na esperança da pessoa
se penalizasse e me devolvesse tudo.
-Calma
senhorita Maria de Lourdes de Oliveira Carneiro, sou um homem direito, honesto
e educado e, com certeza, aceitará a minha modesta proposta e receberá de volta
sua preciosa bolsa com todos os pertences.
-O
senhor que me chantagear? Exigir recompensa? Com essa atitude não está sendo e
tendo os predicados ditos.
-Curiosamente,
olhando nos seus documentos, pude ver que somos colegas, engenheiros de minas e
energia, trabalhamos para o mesmo ministério, só que você em Salvador e eu em
Juazeiro, vale do S. Francisco!
Não
pude deixar de rir bastante com essa confissão, mas, ficando ainda uma ponta de
desconfiança, já que ele disse que eu teria que fazer algo. E, pela animosidade
masculina atualmente, imaginei logo que desejava me levar para cama! No íntimo
pensei: por minha bolsa, juro que irei para cama ou para o sofá!
-Gostaria
de lhe conhecer pessoalmente, já que temos algumas coisas em comum e, mais ainda,
o desejo de ver a seu rosto de alegria ao pegar novamente na bolsa. Então lhe
convido para jantar, você vir acompanhada de quem você desejar, que será um
grande prazer, pois, não passará mais do que um começo de uma nova e acidental
amizade!
Isso
me deixou mais tranquila, pois, pensei logo em levar meu pai para me sentir
mais segura e, com a presença dele, nada demais poderia acontecer.
Concordei
de pronto, marcamos para o dia seguinte, deu o meu endereço e marcamos a hora
que ele me pegaria, juntamente com minha companhia, sem que eu tivesse dito de
quem se tratava!
No
dia seguinte, na hora certa e prevista, chega um bonito e novo carro, salta um
homem de uns 40 anos, cabelos grisalhos nas têmporas e super bem vestido, mesmo
estando esportivamente. Me apresentei e em seguida o meu pai, percebendo eu que
não houve espanto da parte dele, eu ter levado meu pai como protetor.
Entramos
no carro, olhei logo em volta e vi a minha bolsa no banco trazeiro, me dando um
puto alívio, e com vontade de dar um grande beijo nele pelo seu ato. Fomos para
um restaurante de linhas clássicas e elegante, onde ao entramos o “piano Bar”
executava “Besame Mucho” com uma suavidade, parecendo que eu estava vivendo uma
novela da globo.
Conversamos
bastante, sorrimos, nos distraímos, trocamos saberes e informações
profissionais, nos identificamos tão bem que, uma hora depois já parecíamos
amigos de infância. Eu, já com minha bolsa nas mãos, super feliz e, ao mesmo
tempo, cheia de quedas por Arturo Fernandes de La Costa (ele era filho de
espanhóis).
Terminado
nosso jantar, agradeci, mais de dez vezes durante a refeição e, obviamente, até
meu pai percebeu que esse encontro ia dar samba! Rs rs rs
Arturo
nos levou e, desta feita, foi meu pai que, maravilhosamente, o convidou para um
churrasco lá em casa, para que conhecesse o restante da família. Lógico que ele
aceitou de pronto, e saltamos já com a despedida dos duplos beijinhos na face,
e meu pai com um abraço apertado e afetivo, cheio de simpatias! Todo combinado
para o próximo domingo.
Posso
dizer que “ganhei porque perdi”, pois com a perda da bolsa, terminei conhecendo
meu atual marido, pai dos meus três filhos, lindos e com os olhos azuis.
Só
posso aconselhar que, quando algo inesperado lhe acontecer, saiba enfrentar os
acidentes de percursos com fé e perseverança, pois, muitas vezes, é sinal que
algo bem maravilhoso vai acontecer como compensação!
O
desespero nunca foi uma atitude para soluções!
*Escritor-Membro
da Academia Grapiúna de
Letras-AGRaL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário