quarta-feira, 13 de setembro de 2017

GANHEI PORQUE PERDI!

Antonio Nunes de Souza*

Com esse título super controvertido, logicamente criará uma ponta de curiosidade, já que, normalmente, quem perde jamais ganha. Ou quem ganha é porque não perdeu!
Porém, nesse caso, aconteceu exatamente o que ele diz com esse título, completamente fora dos padrões da realidade!

Perto de chegar no meu ponto de saltar do metrô, coloquei minha bolsa ao lado no banco e, penteando os cabelos, foi quando o vagão parou e, como as portas se fecham automaticamente e rápidas, corri pra saltar e, tolamente, esqueci de pegar a bolsa, esquecendo-a no banco e, já com lágrimas nos olhos, lamentei o vacilo vendo o trem longe, não vi como conseguir fazê-lo retornar de ré para me atender!
De tão apavorada e enraivada, nem atentei para olhar a numeração do trem para que fosse mais facilitada a busca. Saí em disparada e fui direta para a repartição de atendimento aos clientes, que junto funcionava o balcão de objetos perdidos. Contei a minha história e, prontamente (coisa rara), o funcionário pegou o telefone e ligou para o trem (identificou pelo trajeto e horário), solicitando a um fiscal que fosse no lugar e classe indicada verificasse o fato e pegasse a bolsa.

Ficamos aguardando uma resposta, que demorou uns 15 minutos, nos relatando que nada foi encontrado, mesmo com uma procura minuciosa! A essa altura eu já estava puta da vida, pois, além de todos meus documentos dentro, tinha seguido meu celular de ponta, com todos meus endereços. Preenchi a notificação de perda e segui com o maior ódio pra o trabalho, já sabendo que teria um dia FDP pela frente.
Espertamente liguei para meu celular para ver se teria alguma resposta, ou se foi um ladrão que havia surrupiado minha bolsa. E, inesperadamente, uma voz bem impostada e meio rouca, atendeu. Relatei minha agonia e preocupação, na esperança da pessoa se penalizasse e me devolvesse tudo.
-Calma senhorita Maria de Lourdes de Oliveira Carneiro, sou um homem direito, honesto e educado e, com certeza, aceitará a minha modesta proposta e receberá de volta sua preciosa bolsa com todos os pertences.
-O senhor que me chantagear? Exigir recompensa? Com essa atitude não está sendo e tendo os predicados ditos.
-Curiosamente, olhando nos seus documentos, pude ver que somos colegas, engenheiros de minas e energia, trabalhamos para o mesmo ministério, só que você em Salvador e eu em Juazeiro, vale do S. Francisco!
Não pude deixar de rir bastante com essa confissão, mas, ficando ainda uma ponta de desconfiança, já que ele disse que eu teria que fazer algo. E, pela animosidade masculina atualmente, imaginei logo que desejava me levar para cama! No íntimo pensei: por minha bolsa, juro que irei para cama ou para o sofá!
-Gostaria de lhe conhecer pessoalmente, já que temos algumas coisas em comum e, mais ainda, o desejo de ver a seu rosto de alegria ao pegar novamente na bolsa. Então lhe convido para jantar, você vir acompanhada de quem você desejar, que será um grande prazer, pois, não passará mais do que um começo de uma nova e acidental amizade!
Isso me deixou mais tranquila, pois, pensei logo em levar meu pai para me sentir mais segura e, com a presença dele, nada demais poderia acontecer.

Concordei de pronto, marcamos para o dia seguinte, deu o meu endereço e marcamos a hora que ele me pegaria, juntamente com minha companhia, sem que eu tivesse dito de quem se tratava!
No dia seguinte, na hora certa e prevista, chega um bonito e novo carro, salta um homem de uns 40 anos, cabelos grisalhos nas têmporas e super bem vestido, mesmo estando esportivamente. Me apresentei e em seguida o meu pai, percebendo eu que não houve espanto da parte dele, eu ter levado meu pai como protetor.
Entramos no carro, olhei logo em volta e vi a minha bolsa no banco trazeiro, me dando um puto alívio, e com vontade de dar um grande beijo nele pelo seu ato. Fomos para um restaurante de linhas clássicas e elegante, onde ao entramos o “piano Bar” executava “Besame Mucho” com uma suavidade, parecendo que eu estava vivendo uma novela da globo.

Conversamos bastante, sorrimos, nos distraímos, trocamos saberes e informações profissionais, nos identificamos tão bem que, uma hora depois já parecíamos amigos de infância. Eu, já com minha bolsa nas mãos, super feliz e, ao mesmo tempo, cheia de quedas por Arturo Fernandes de La Costa (ele era filho de espanhóis).

Terminado nosso jantar, agradeci, mais de dez vezes durante a refeição e, obviamente, até meu pai percebeu que esse encontro ia dar samba! Rs rs rs
Arturo nos levou e, desta feita, foi meu pai que, maravilhosamente, o convidou para um churrasco lá em casa, para que conhecesse o restante da família. Lógico que ele aceitou de pronto, e saltamos já com a despedida dos duplos beijinhos na face, e meu pai com um abraço apertado e afetivo, cheio de simpatias! Todo combinado para o próximo domingo.
Posso dizer que “ganhei porque perdi”, pois com a perda da bolsa, terminei conhecendo meu atual marido, pai dos meus três filhos, lindos e com os olhos azuis.

Só posso aconselhar que, quando algo inesperado lhe acontecer, saiba enfrentar os acidentes de percursos com fé e perseverança, pois, muitas vezes, é sinal que algo bem maravilhoso vai acontecer como compensação!
O desespero nunca foi uma atitude para soluções!

*Escritor-Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRaL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com


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