quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Uma verdade triste!


Antonio Nunes de Souza*

Filha de mãe prostituta, moradora em uma pequena cidade, quase um vilarejo, situada em um tronco rodoviário, com o exemplo materno e o descaso de nem ter pai, ou saber quem foi ele, desde cedo, aos 12 anos começou a fazer vida com os caminhoneiros que paravam para pernoitar numa modesta pensão, ou, também, com aqueles que passavam, paravam e a levava, estacionando no caminho para se saciar do sexo oral, anal e vaginal, pagando a miséria de dez reais e, as vezes, mais um prato de comida como complemento!
Não era bonita Raquel. Moreninha com características comuns, pela pobreza das roupas e maquiagens, nada tinha de especial a não ser sua jovialidade e os desempenhos sexuais pela prática adquirida durante as experiências diárias. Na maioria das vezes, era deixada em algum posto de gasolina e, na passagem de um novo caminhão em direção contrária, pegava sua carona, repetindo suas amorosas façanhas pelo caminho, conseguindo ampliar o seu cachê do dia. Quando a sorte bafejava, dava até quatro viagens, chegando a uma arrecadação, para ela, invejável!
O tempo passando, com 15 anos, como já poderia ter acontecido antes, mas, sempre protegida por Deus, terminou ficando grávida e, como ela mesma, nem sabia quem foi o pai. Isso foi um baque, pois, além de debilita-la em função da sua alimentação pobre e insuficiente, passou a minimizar seus rendimentos que, na verdade, eram para sua sustentação, já que sua mãe envelhecida precocemente pela vida que levava, não conseguia mais vender-se cotidianamente. Raquel há algum tempo já era a mantenedora do modesto lar, mesmo a mãe apoiando e sabendo de onde procedia aquele dinheiro!
Passados uns meses, barriga grande, anêmica, depauperada e bastante debilitada, passou a viver de mendicâncias e generosidades das pessoas do lugarejo e, ironicamente, quando se dirigia para o posto médico para marcar o parto, deu com a mão para um caminhão para pegar uma carona para a cidade vizinha, e o veículo, por uma tragédia inesperada, atropelou Raquel, jogando-a para cima, provocando a sua morte imediata!
A pobre menina, que viveu toda sua vida encima dos caminhões, cumprindo um destino triste, terminou encontrando a morte embaixo de um deles!
Uma verdade triste que, lamentavelmente, acontece pelas rodovias do nosso país!
*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL - antoniodaagral26@hotmail.com

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