quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Copiando a delação "lava jato"!

Antonio Nunes de Souza*

Não posso dizer o meu nome, nem mostrar o meu rosto nos jornais ou televisão. Tenho que privar a minha integridade e, logicamente, não dar oportunidade de ser perseguido ou sofrer alguma retaliação, em função da poderosa máquina que estarei delatando!
Arrependido de participar de um série de coisas em uma instituição que não citarei nome nem detalhes, ficando para que as pessoas inteligentes e perspicazes percebam e cheguem a uma conclusão. Vendo alguns dos diretores da operação “lava jato”, fazendo denúncias para amenizar suas penas, desejo fazer o mesmo, para que Deus perdoe meus pecados e me conceda o Reino do céu!
Trabalhei de “obreiro” por quatro anos em uma rede espiritual e, no quinto ano, já com a ficha de “confiável”, fui escalado para trabalhar na divisão bastante importante, denominada: Divisão dos Milagres! Nessa divisão, que estava situada em um galpão super discreto e privativo, instalada com equipamentos modernos e automáticos, para que fossem preparadas as prendas e oferendas, capazes até de ressuscitarem uma múmia, afirmação essa, dita aos gritos pelos chefões dessa instituição, levando o pobre e carente povo a uma verdadeira loucura e alucinação, acreditando, piamente, naqueles dizeres, mais comerciais que espirituais!
O meu específico trabalho era encher frasquinhos de penicilina de óleo, que chegavam em tambores vindo dos mercadões (mas, divulgados como sagrados vindo de Jerusalém), que eram vendidos aos pobres e humildes esperançosos por dez reais cada!
Programava também, selecionando artistas amadores de bairros desconhecidos, para se fazerem de aleijados e, com uma oração e uma torção na cabeça, espantar o Satanás e o farsante sair andando normalmente, ou falando se era também o seu defeito, como se um grande milagre tivesse acontecido!
Fiz muitas vezes nas noites programadas para que se conseguisse emprego, sair cobrando dez ou vinte reais, a depender das condições do carente e tolo, para que ele tivesse o direito de levantar a carteira profissional para o alto, na hora que o chefão solicitava as divindades para logo arranjar empregos!
Cansei de ir nas fazendas pegar ramos de palmeiras, para dividir em pequenos galhos, que, pela simples quantia de vinte reais, trazia a paz, harmonia, tranquilidade para o lar dos pagantes. Quando o movimento estava fraco e a instituição estava precisando de mais dinheiro, eu conseguia um especialista em arte dramática, que aos gritos, babando, se batendo no chão, era a representação da encarnação do demônio e, com passes e performances preparadas, o chefão fazia o exorcismo do Capeta da alma daquele monstro! Quando ele se levantava, já docilmente demonstrando-se curado, era uma gritalhada e palmas por esse milagre maravilhoso!
Hoje, arrependido estou de ter participado desse espetáculo circense, enganando o pobre povo, estou fazendo esse depoimento, no sentido de Deus me perdoar, minimizar meus pecados e, a partir dessa data, jamais cairei em outra armadilha enganadora!
Seria tão bom que a mídia trabalhasse no sentido de esclarecimento popular, mas, infelizmente, pelos poderes econômicos dessas instituições, todos se curvam para ganhar seus trocados, deixando o barco correr a deriva e destinos errados!
*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com

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