Antonio Nunes de Souza*
Não
posso dizer o meu nome, nem mostrar o meu rosto nos jornais ou televisão. Tenho
que privar a minha integridade e, logicamente, não dar oportunidade de ser
perseguido ou sofrer alguma retaliação, em função da poderosa máquina que
estarei delatando!
Arrependido
de participar de um série de coisas em uma instituição que não citarei nome nem
detalhes, ficando para que as pessoas inteligentes e perspicazes percebam e
cheguem a uma conclusão. Vendo alguns dos diretores da operação “lava jato”,
fazendo denúncias para amenizar suas penas, desejo fazer o mesmo, para que Deus
perdoe meus pecados e me conceda o Reino do céu!
Trabalhei
de “obreiro” por quatro anos em uma rede espiritual e, no quinto ano, já com a
ficha de “confiável”, fui escalado para trabalhar na divisão bastante
importante, denominada: Divisão dos Milagres! Nessa divisão, que estava situada
em um galpão super discreto e privativo, instalada com equipamentos modernos e
automáticos, para que fossem preparadas as prendas e oferendas, capazes até de
ressuscitarem uma múmia, afirmação essa, dita aos gritos pelos chefões dessa
instituição, levando o pobre e carente povo a uma verdadeira loucura e
alucinação, acreditando, piamente, naqueles dizeres, mais comerciais que
espirituais!
O
meu específico trabalho era encher frasquinhos de penicilina de óleo, que
chegavam em tambores vindo dos mercadões (mas, divulgados como sagrados vindo
de Jerusalém), que eram vendidos aos pobres e humildes esperançosos por dez
reais cada!
Programava
também, selecionando artistas amadores de bairros desconhecidos, para se
fazerem de aleijados e, com uma oração e uma torção na cabeça, espantar o
Satanás e o farsante sair andando normalmente, ou falando se era também o seu
defeito, como se um grande milagre tivesse acontecido!
Fiz
muitas vezes nas noites programadas para que se conseguisse emprego, sair
cobrando dez ou vinte reais, a depender das condições do carente e tolo, para
que ele tivesse o direito de levantar a carteira profissional para o alto, na
hora que o chefão solicitava as divindades para logo arranjar empregos!
Cansei
de ir nas fazendas pegar ramos de palmeiras, para dividir em pequenos galhos,
que, pela simples quantia de vinte reais, trazia a paz, harmonia, tranquilidade
para o lar dos pagantes. Quando o movimento estava fraco e a instituição estava
precisando de mais dinheiro, eu conseguia um especialista em arte dramática,
que aos gritos, babando, se batendo no chão, era a representação da encarnação
do demônio e, com passes e performances preparadas, o chefão fazia o exorcismo
do Capeta da alma daquele monstro! Quando ele se levantava, já docilmente
demonstrando-se curado, era uma gritalhada e palmas por esse milagre maravilhoso!
Hoje,
arrependido estou de ter participado desse espetáculo circense, enganando o
pobre povo, estou fazendo esse depoimento, no sentido de Deus me perdoar,
minimizar meus pecados e, a partir dessa data, jamais cairei em outra armadilha
enganadora!
Seria
tão bom que a mídia trabalhasse no sentido de esclarecimento popular, mas,
infelizmente, pelos poderes econômicos dessas instituições, todos se curvam
para ganhar seus trocados, deixando o barco correr a deriva e destinos errados!
*Escritor
– Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com
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