Antonio
Nunes de Souza*
Fogosa como sempre foi desde mocinha,
Letícia não dispensava de brincar o carnaval todos ao dias, participando
ativamente de tudo que era possível, curtindo desde as barracas com sambas de
roda e pagodes até os trios e blocos, dentro ou fora, mas, acompanhando por
todas avenidas!
Casada com Marcelo há cinco anos,
porém, sendo ele evangélico e não brinca carnaval, não fuma e não bebe, ela
exigiu quando na ocasião do noivado que casaria, mas, nos carnavais, ela teria
sua liberdade para brincar todos dias sem que houvesse nenhuma observação ou
reclamação! Ele apaixonado, acatou a ideia e concordou que, nos carnavais, ele
iria para um sítio retirado da cidade, pertencente a sua mãe. E assim sempre
fez, voltando sem nem querer saber como foi o festejo.
Como já estamos, praticamente, nos dias
de carnaval, Letícia já esquematizou todas suas peripécias mundanas que sempre
fez e continuou fazendo depois de casada, preparando-se para as maiores
sacanagens que normalmente rolam nos dias momescos em todo Brasil,
principalmente na nossa Bahia de todos os Santos e de todos os pecados! No ano
passado ela conheceu Luiz Felipe, casado e morador de Santa Catarina, passaram
todos os dias num hotel da orla, perto do farol e, alegremente, dividia a noite
e o dia em horas gostosas de putaria. Felipe era um jovem empresário, surfista,
forte e bonito que, sem se esforçar, fazia Letícia ter orgasmos múltiplos e
seguidos, que chagava a entortar os olhos parecendo que estava morrendo.
Morrendo estava sim, mas, de prazer. O prazer que seu marido, embora adorável,
não sabia lhe dar!
Ela, através do Facebook e celular, já
tinha combinado tudo com Felipe, o mesmo hotel já reservado e a chegada dele um
dia antes. Ou seja, na quarta feira, que era exatamente, quando Marcelo iria
para o sítio. Como ele era arquiteto, disse que aproveitaria para rever,
cuidadosamente, uns projetos!
Como normalmente fazem as amantes, Letícia já
marcou e agendou cabelereira, manicure, massagista e uns banhos de mar e
piscina para pegar uma cor mais sexy (coisas que muitas esposas vacilam e não
fazem depois que fisgam os maridos), logicamente para se apresentar despertando
a mesma tesão do ano que passou. Felipe, logicamente, deve estar fazendo o
mesmo, pois essa vaidade atinge ambos os gêneros!
O curioso de tudo isso é que, Marcelo,
na surdina, leva todo ano uma “irmã” da igreja para o sítio e, na maior
tranquilidade e sem medo de ser feliz, transam deliciosamente “em nome de
Jesus!”!
E assim seus segredos vão passando de
ano para ano, ambos felizes, alegres, sem nem pensarem que estão se enganando.
Como são meus amigos, as vezes, isoladamente, conversam que, por remoço, estão
com vontade de contar e pedir perdão. Mas, rapidamente eu digo: “Nada disso!
Tudo pode se complicar, então como vocês estão felizes, deixe tudo ficar para
ver como é que fica!!”
O que me deixa numa grande dúvida é se
o carnaval é uma coisa divina ou uma invenção do capeta?
*Escritor - Membro da Academia Grapiúna
de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com
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