terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Tem sentido isso?

Antonio Nunes de Souza*

O primeiro poema que aprendi em minha vida, no início da juventude, apareceu um poeta que foi fazer um recital no cinema (em S. Amaro da Purificação esses eventos literários, eram comuns), e declamou sendo muito aplaudido: 

NÃO ENTENDO

Não entendo, não entendo,
Pelas ruas da cidade,
Havia um louco dizendo: 
Com toda sinceridade
Não entendo, não entendo!

As casadas sempre puras,
As viúvas procedem bem,
As mocinhas coitadinhas,
De donzelas o nome tem!

No entanto os asilos
Vão enchendo de pequeninos,
Meu Deus me responda:
De quem são esses meninos?

Infelizmente, pelos sessenta anos passados, não lembro-me quem ele falou que era o autor (uma pena), mas, curiosamente, peguei o programa do espetáculo e terminei decorando esse histórico e sempre atual poema!
Temos a desditas de ver, atualmente e crescentemente, o número absurdo de milhões de crianças abandonadas, a grande maioria sem a felicidade de encontrar abrigos em instituições governamentais, vivendo precariamente em suas favelas, embaixo das pontes, construções abandonadas, bancos de jardins ou embaixo de marquises! Mais lamentável ainda é ter a tristeza de vê-las remexendo latas de lixo e apanhando restos contaminados para se alimentarem.
Repugna-me e sinto dor no coração, principalmente quando vejo nos jornais, revistas e televisões, grupos enormes de dondocas, atores e atrizes, fazendo campanhas fervorosas para salvar os cães e gatos abandonados, mostrando seus animaizinhos de estimação com roupinhas, colares, laços de fitas, maletas especiais para transportes, planos de saúde, etc.

Em nenhuma hipótese sou contra os animais domésticos, acho claro e lógico que seus donos tenha cuidados especiais, porém, que suas preocupações externas e públicas sejam com nossas crianças que, logicamente, são humanas e vivem sofrendo num mundo desigual e desumano!

Reafirmo que Não tem sentido isso, ou seja, as grandes preocupações e movimentos, muito mais pelos gatos e cachorros que com as crianças, pois, comprovadamente, com essa vida de desprezo, discriminação e abandono, terminam, como já presenciamos, se transformando em verdadeiros marginais e bandidos!

Falei apenas citando os cães e gatos, mas, conheço um rato branco que tem vida de príncipe: Casa, comidinha, cama e roupinhas lavadas!

*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com

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