Antonio Nunes de Souza*
Confesso meus
momentos de tristeza, quando caiu minha ficha, vendo que tinha perdido meus
antigos encantos e como realmente fiquei com a aparência péssima, e estavam me
rotulando de coroa. E essa denominação deixa nossa moral arrastando no chão. Eu
com apenas 45 anos, como tive o privilégio de ter nascida linda, charmosa,
corpo invejável daqueles que a gente ouve toda vez que passa, a expressão chula
de “gostooooosa”, e eu fechava a cara, mas, o ego ia lá “pras cabeceiras” de tanta
alegria!
Por conta
dessa aparência bonita e disputada por todos os rapazes, não me preocupava com academias,
exercícios, alimentação, ou nenhuma dessas coisas que a moda todos os dias
impõe, para nos escravizar e gastar dinheiro. Achava que minha beleza iria
perdurar, e idiota, fazia o maior cu doce com os caras, escolhendo demais, e
deixei de dar dezenas de transadas legais, que hoje me arrependo!
Com vinte e
três anos, terminei casando com um cara babaca, vivemos uns dois anos, tivemos
uma filha, e logo depois nos separamos, pois vi que não era isso que eu queria,
principalmente o idiota que escolhi como marido (Quem muito escolhe, pega no
pior). E eu, com meu cu doce, terminei na amargura. Porém, dei a volta por
cima, tinha feito faculdade, fui trabalhar e cuidar da minha nova vida e da
minha filhinha!
O tempo
passou, minha filha formou-se, casou-se e foi cuidar da sua própria vida.
Então, como me anulei completamente, preocupando-me em lhe dar uma boa
educação, depois da sua saída de nossa casa, que um dia olhando-me no espelho,
pude perceber, o que eu era, e o bagulho terrível que me transformei!
Rapaz! Tomei
um susto do caralho. (Adoro nomes feios, eles enfatizam os tamanhos das coisas).
Imediatamente tomei a decisão que, urgentemente, iria para uma academia colocar
as coisas nos lugares. Porém, fazendo uma análise mais detalhada, vi meus
peitos que no passado eu os levantava e colocava um cotonete embaixo e, quando
eu os soltava, o cotonete caía. E, sem exagero, se eu os levantasse agora e
colocasse uma lata de Coca-Cola, poderia solta-los e sair correndo que a porra
não iria cair. Fiquei de perfil e foi aí
que a tristeza aumentou. Minha bunda estava mais caída que a moral de Bolsonaro,
e ainda cheia de celulites. Meu Deus! Será que eu estava cega esse tempo todo?
E estava mesmo, pois, ao olhar para as pernas, minhas coxas pareciam um mapa
geográfico de tantos vasos e varizes, que batiam dos calcanhares até o pé da
boceta (se é que boceta tem pé). A essa altura qualquer nome feio que eu
dissesse era pouco para o muito da desesperada situação. Meu rosto não tinha
pés de galinha (você que está lendo diz: Ainda bem!). Mas, nada rapaz, tinha
era pés de dinossauro de tão marcados que eram. Parecia a Avenida Nove de julho
Não nego que
comecei a chorar de desgosto, lembrando de quando eu fui miss em minha cidade.
E, de repente, quando aproximei o meu rosto do espelho para enxugar as lágrimas,
horrorizada, percebi que tinha duas enormes bolsas embaixo dos olhos, que
pareciam aquelas conchas que servem siri catado nas praias. Embaixo do queixo
havia um papo tão filho da puta, que dava a impressão que eu tinha acabado de
engolir uma laranja, e ela estava entalada em minha goela!
Caí na cama
chorando torrencialmente, determinanda que antes de tudo, iria a um cirurgião
plástico para fazer uma reforma geral, custe o que custar, mesmo que tivesse de
vender o carro ou fazer um empréstimo bancário!
Tenha uma
amiga enfermeira chamada Stela, que conhecia bem a área médica, e ela me
indicou um cirurgião bom e famoso, para eu não cair nas mãos de um desses
filhos da puta, que deixam a gente parecendo a filha de Frankstem!
Acertei
todos os detalhes, pedi uma licença no trabalho e, cinco dias depois de ter
feito uma batelada de exames, já estava entrando na clínica para iniciar minha
reforma geral, jurando que só sairia de lá depois de todos os procedimentos
executados, pois, por morar sozinha, seria importante ficar sobre na clínica
durante as completas recuperações!
Cara! Fui
mais fatiada do que pão de fôrma! Só não tomei talho na boceta porque já
existia. Mas, no resto do corpo, o bisturi a laser chegou a ficar cego de tanto
trabalho. Fiquei mais enfaixada que a múmia de Tutakamom. A única parte
descoberta eram os olhos. Não posso deixar de dizer que estava com um medo
filho da puta da merda não dar certo! Mas, minha amiga Stela, para me
acalentar, quando olhava para meus olhos esbugalhados, como se eu estivesse
tomando no cu sem vaselina, sempre me dizia que ficasse calma que tudo iria dar
certo!
Os dias
foram passando, passando, os curativos minimizando, comecei a ver que estava
mais inchada do que corpo de afogado. Mas, para me tranquilizar, o médico disse
que era normal até as completas cicatrizações!
Cada dia
minha expectativa aumentava mais, até que um mês e meio depois, já sem nenhum
curativo no corpo, mesmo tendo que depois continuar algum tempo usando umas faixas,
pedi ao médico para eu me olhar completamente nua. Depois da insistência, ele
atendeu meu pedido e, quando juntamente com a enfermeira me olhei no grande
espelho, dei um sorriso tão largo que quase desmanchava o bordado que foi feito
no meu rosto. Mesmo com algumas inchações eu estava uma outra pessoa, bonita e
com tudo nos devidos lugares!
Hoje, um ano
depois, já completamente restabelecida das cirurgias, sem marcas ou cicatrizes,
tenho que confessar para todos a minha plena felicidade de estar inteiríssima
e, seguindo os conselhos sábios daquela minha amiga enfermeira, estou cuidando
do meu corpo e minha alma através de aulas de bio-dança, com uma professora
competentíssima na área, que nos deixa com o ego pra lá de Bagdá, e uma leveza
de espírito que nos enche de vontade de viver intensamente, colocando todas as
nossas ansiedades e inseguranças pra
fora e, consequentemente, todos os homens pra dentro!
Pó!
Distrai-me escrevendo e já está em cima da hora de minha aula de bio-dança que
não falto nunca, pois, além de divertida e salutar, minha professora Olga é
maravilhosa!
*Escritor,
Historiador, Cronista e Poeta!
Um comentário:
Interessante kkkkkkk
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