Antonio Nunes de Souza*
Depois
de circular pelo comércio distribuindo currículos, já puto da vida de tanto
ouvir “não” e “se tiver uma vaga lhe chamo”, resolvi voltar para a pensão de
terceira onde moro, e já devendo dois meses, vesti minha sunga e me mandei a pé
para o Porto da Barra, para espairecer a cabeça, olhar as mulheres e ver se
imaginava algo para aliviar minha agonia!
Depois
de uma hora (moro no Tororó), cansado cheguei ao meu destino. Parei na balaustrada,
procurei um lugarzinho vago para já descer na certa e, tranquilamente, fui em
sua direção. Tirei a camisa e a bermuda e sentei na areia, começando a
vislumbrar o panorama de lindas bundas, que desfilavam molhadas, secas ou com
areias, mas, sempre sedutoras, pois, quem tem bunda bonita sabe que mostrando
bem a mercadoria, nunca faltam fregueses para desfrutá-las e proporcionar bons momentos.
Que não é o meu caso. Dos meus cem reais que me restam na vida, trouxe apenas o
do transporte de volta!
Com
um medo retado que os ratos de praia roubassem minhas roupas, pedi ao casal de
idosos que estava ao meu lado para olhar pra mim, enquanto iria me banhar. Eles
assentiram e eu fui, mas, mesmo de longe, mergulhava e não tirava os olhos para
não ficar nu e ter que voltar a pé de novo e cheio de sal!
Voltei,
agradeci e vi que tratava-se de pessoas de fino trato, com todas as
características de ricos. E como estávamos muito perto, pude ouvir quando ele
falou para ela que tinha que conseguir um bom motorista, até o dia seguinte,
mas, precisaria ter ótimas referências, boa aparência, mínimo curso secundário
e educado. Dei uma risadinha na mente e pensei: Puta que pariu, esse homem me
descreveu de cima a baixo, tenho que aproveitar essa bruta chance que caiu do céu!
-Senhor,
desculpe a minha ousadia, mas, sem querer ouvi o senhor falar que está
precisando de um bom motorista e, curiosamente, a descrição que o senhor falou
bate perfeitamente com meu modesto currículo!
Ele
olhou para a esposa, depois cuidadosamente para mim, e disse: Eu não o conheço
e não posso contratar alguém que estou vendo em pleno meio de semana, se
divertindo na praia, não é uma boa referência!
-Posso
dizer ao senhor que estou aqui, simplesmente para não enlouquecer, pois, tenho
dois meses distribuindo currículos, e até agora nada consegui. Então, para
amainar minha desilusão, resolvi tomar um banho de sal para ver se a coisa
melhorava. E, como resultado, fui sentar-me bem ao lado do senhor!
Dando
um sorriso, ele falou: Tudo bem. Amanhã as 8:00 horas vá na empresa,
apresente-se no departamento de Recursos Humanos e, caso você tenha os
predicados exigidos, devem contratado. Tome meu cartão, e chegando lá com seu
currículo, pode se apresentar para ser entrevistado!
Agradeci
bastante, vesti minha roupa, e despedindo-me fui pegar o ônibus seguindo para
casa, lógico que com alegria!
Resultado:
Fui a empresa construtora, mostrei o currículo, minhas referências foram checadas,
provei que estudei até o segundo ano de administração de empresas, e meu último
emprego trabalhei cinco anos como motorista servindo a diretoria, saindo em
função da Covid, que causou processo de economia. E com tudo comprovado, fui
admitido para atender, exatamente a família dos donos da empresa, que era o
casal que encontrei casualmente na praia!
Isso
acontecei há quatro anos, e esse ano já estarei concluindo meu curso de
administração de tinha parado, com a promessa de Dr. Rommel Vasconcelos, de me
promover para o depto. financeiro, numa carteira que ganharei mais que o dobro!
Quero
dizer pra vocês, que quando lhe disserem que deve lutar, pois as chances não
aparecem na praia. Pode dizer a eles que as vezes é lá que elas aparecem!
*Escritor,
Historiador, Cronista e Poeta!
Um comentário:
Nada acontece por acaso.
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