quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

O RESULTADO DO SEU DESCASO!

 

Antonio Nunes de Souza*

Naquele cortejo triste, uma família chorava copiosamente, acompanhando o final de uma curta trajetória de mais um menor que, na loucura e desespero da sua luta pela sobrevivência, tinha tido um fim trágico e simplório, de mais uma vítima dessa sociedade cruel e egoísta, que, erroneamente, comporta-se muito alheia as evidências, imaginando que estão agindo corretamente!

Robertinho ou Roberto, que era mais conhecido na favela como Betão, filho de pai desconhecido, como acontece com a maioria das crianças dos pobres e periféricos recantos, morava com sua mãe e mais dois irmãos menores. Desde sua mais tenra infância já sofria no seu barraco de restos de tábuas e papelão, cobertura com dez telhas de Eternit, apenas dois cômodos, onde todos se arranjavam, se maldizendo do calor escaldante no verão e frio e goteiras no inverno, pegando suas gripes e enfrentando as invasões de água e corrimentos de terras das encostas. O retrato perfeito de uma família de miseráveis pobres, completamente esquecidos e desprezados por essa maravilhosa sociedade consumista e egoísta que, pelos seus interesses financeiros, criou um podre sistema de “levar vantagem em tudo” e, todas as culpas, são atribuídas aos governos. Esse capitalismo sórdido, lamentavelmente, enoja aos poucos homens de bem, que se preocupam com a humanidade!

Esse jovem, o pobre Betão, olhado como um criminoso canalha, nada mais foi que uma criação meticulosa do sistema social existente, pois, começou sua infância limpando vidros de carros nos semáforos para ajudar na alimentação em casa, até que ouviu de um motorista a frase que nunca esqueceu: “Saia da frente seu neguinho descarado!” E um dos filhos, no banco de trás, cuspiu em sua cara e saíram rindo debochando. Desde então, revoltado começou a praticar pequenos furtos, até que foi convidado a atuar com os traficantes do morro, para fazer entrega (o popular avião), ganhando uma quantia que melhorou, consideravelmente, as condições de sua família. Os anos foram passando, as oportunidades sempre escassas, continuou até transformar-se em um pequeno traficante e, como acontece, participando de alguns assaltos!

Até que a casa caiu e ele foi baleado mortalmente, com apenas 17 anos. E, nesse momento, todos aplaudem esse triste resultado, esquecendo que, Betão, foi nada mais, nada mesmo, uma criação da sociedade, que plantou, regou, podou e fez florescer mais um bandido nas ruas das cidades!

Estou sempre massacrando com essas mensagens, não por ser apologista de bandidos, mas, veementemente, abomino esse descaso social existente, que despreza a pobreza, não se dando conta que estão, literalmente, proliferando a marginalia!

*Escritor – Historiador - Membro da Academia Grapiúna de Letras – antoniodaagral26@hotmail.com

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