*Antonio Nunes de
Souza
Tem
dias que estamos um pouco nostálgicos e começamos a lembrar de fatos que
marcaram nossa vida. Alguns deixaram lembranças vivas, doces e alegres, mas,
por mais que queiramos apagá-los, surgem como um encanto, passagens que nos
perturbam somente em relembrá-las, pois foram marcantes e, mesmo tendo nos dado
prazeres momentâneos, fixam marcas em nossas memórias, provavelmente para o
resto da vida.
Esses
fatos, onde são evidenciadas seqüelas, sempre foram atitudes que tomamos por
impulsos e, por mais que os exemplos estejam estampados em nossa frente, sempre
achamos que conosco será diferente, nos baseando na barata filosofia popular de
que: “O que não foi bom para Chico, pode ser ótimo para Francisco”. E foi em
uma dessas minhas interpretações, que comprovei em condições desagradáveis, que
ouvindo a experiência, muitas vezes evitamos dissabores.
Creio,
talvez até com absoluta certeza, que esse fato que vou relatar, acontecido
quando eu tinha 17 anos, foi algo totalmente inexplicável, já que ele é
abarrotado de prazeres e ilusões e, ao mesmo tempo, tristezas e melancolias.
Não posso dar uma explicação mais detalhada, em função da complexidade e
mistura paradoxal desses adversos sentimentos. Apenas para ilustrar, vou
exemplificar comparando-o a uma fruta que todos conhecem: O tamarindo (ele é
gostoso e azedo ao mesmo tempo e todos ficam com água na boca só em olha-lo).
Pois é! Até hoje ainda sinto o acre-doce desse meu tamarindo, que não me deixa
esquece-lo através da presença do meu filho, hoje com 21 anos de idade!
Como
sou do interior, neta e filha de fazendeiros, naquela época era comum e normal
nossas idas nos fins de semana para a roça (como são chamadas às fazendas de
cacau em nossa região), onde curtíamos bastante montando a cavalo, tomando
banhos de rio, pescando, indo cedo ao curral para beber leite quentinho após a
ordenha, subir em árvores para pegar frutas, correr atrás das galinhas,
espalhar cacau nas barcaças e uma infinidade de coisas divertidas e bem
diferentes dos nossos hábitos urbanos.
No
fim do dia estávamos todos exaustos, fazíamos aquela fila para tomar um bom
banho e vestir umas roupinhas velhas e puídas, sentando todos à mesa para
saborear um delicioso café regado à fruta-pão, batata doce, aipim, beiju,
cuscuz, mingau de tapioca e milho verde, ovo caipira estrelado, inhame e outras
iguarias mais, que só em me lembrar à boca enche de água.
Também,
após essa farra alimentar, como não havia televisão, reuníamos na sala,
deitados nos sofás, redes e esteiras, ocasião onde havia a verdadeira reunião
familiar, todos contando como foi o seu dia, muitas risadas pelos acontecidos,
os mais velhos enveredavam contando estórias e, aos poucos, cada um ia
adormecendo e meus pais chamando pelos nomes, mandando fazer xixi e ir para
suas camas. Mas, sempre acontecia de alguns ficarem abancados na própria sala
até o dia amanhecer.
Nas
ocasiões especiais (férias, S. João, semana santa, etc), além de meus pais e
irmãos, sempre iam alguns amigos ou amigas, primos, colegas de escola, pois,
para nós, era importante ter companhia para compartilharmos da farra campestre.
Como todos nós sabemos, entre irmãos na fase adolescente, dificilmente existem
confidências. Preferimos contar nossos segredinhos aos nossos amigos, que
confiamos mais. Com irmãos é terrível. Na primeira briga eles saem espalhando
pra Deus e o mundo. E quando não é assim, passam a fazer chantagem.
Embora
a turma fosse sempre grande, era dividida em grupos por faixas etárias, uma vez
que os maiores detestavam aquela penca de crianças atrás, pedindo para esperar,
chorando porque entrou um espinho no pé, reclamando que estão com sede, etc.
Para nós que já estávamos entre os 15 e 17 anos e nossos assuntos eram mais
picantes, voltados para namoros e os pães do colégio (pão era o que hoje é
gato), era um saco!
Falar
em pão, me fez lembrar de um rapaz do colégio que seu apelido era Manteiga e,
como ele era um gato, as meninas diziam que ele era completo: Um pão com
manteiga! Ele era até bonitinho, mas doido de pedra. Tomara que tenha tomado
juízo.
Por
orientação do meu pai, havia um filho do administrador que sempre nos
acompanhava, no sentido de nos dar cobertura e ajudar nas nossas tarefas de
diversão, já que ele conhecia todos os lugares e, em caso de alguma
necessidade, nos daria o apoio imediato. Gustavo era o seu nome e tinha 16
anos, porém com um aspecto de muito mais, pois era forte, alto, mulato com os
cabelos carapinha e meio amarelados (quase sarará), olhos de cores indefinidas,
tanto que todos o chamavam pelo apelido de Olho de gato. Era um pouco tímido,
mas, como pessoas dessa característica, pouco nos olham, porém, quando fazem,
fixam o olhar e nos deixam uns tanto desconsertados. E ele, mesmo sem saber
esse efeito que causava, sempre pegávamos o seu olhar direcionado para nossos
rostos e, principalmente, para nossas pernas, já que andávamos muito de short
durante o dia. Quando ele tirava a camisa para fazer qualquer coisa que urgia
essa necessidade, eu e minha prima Maria de Lourdes ficávamos olhando seu peito
musculoso e sem cabelos e descíamos os olhos até seu umbigo, imaginando o que
estaria escondido bem abaixo. Como se estivéssemos lendo nossos pensamentos,
após nossa repedida olhada, virávamos uma para a outra e caíamos na gargalhada.
Isso porque sempre comentávamos a respeito dele que, embora um matuto, tinha as
coisas nos lugares. Até sua bundinha era arredondada e empinada. Quando nós
íamos para a cachoeirinha tomar banho, nós (eu e Lourdinha), insistíamos para
que ele também tomasse banho, já que estava suado e também tinha direito a
refrescar-se. Mas, na verdade, o que nós desejávamos era ver ele naquele calção
de saco de aniagem branco, que depois de molhado, deixava transparecer o volume
das suas coisas, que nos encantava profundamente. Esse segredo nós tínhamos. E
os outros, por serem bem mais jovens, nem percebiam que havia alguma
maledicência em nossos banhos.
Uma
noite, acordei com o balançar da cama e, com medo, fiquei parada, apenas abri
bem devagar os olhos e percebi que era Lourdinha se masturbando ao meu lado.
Fiquei calada e na manhã seguinte contei pra ela o que tinha visto. Ela, sem
nenhum arrependimento, contou-me que naquela tarde, quando Olho de gato
mergulhou, ela por trás viu uma parte do seu membro, que saíra pela boca do
calção. Aquilo tinha lhe dado um tesão enorme e a noite não conseguia dormir,
somente acontecendo depois de se satisfazer. Ouvi tudo, mas não disse nada.
Porém fiquei com inveja porque não vi e por ela não ter me contado
absolutamente nada dessa cena maravilhosa. Percebi que também passaria a ter os
meus segredos dali em diante.
Nossos
dias eram maravilhosos e cheios de encantos. Nada nos preocupava, além das
bobagens de flertes, namoros, festinhas, etc., disso tenho uma saudade
profunda, que daria tudo para voltar ao passado, mesmo desfrutando de um
presente que não é de se jogar fora.
Certa
vez, Lourdinha estava “naqueles dias”, e como naquele tempo não existia a
modernidade de apetrechos que você pode até praticar esportes radicais, ela
ficou em casa lendo e eu fui com as crianças e Olho de gato tomar banho na
cachoeirinha. Era uma pequena queda de uns 6 metros, que descia morro
abaixo fazendo uma gostosa cortina, onde embaixo, devido à força e pressão da
água, terminou fazendo uma grande piscina, apenas com alguma profundidade
inferior a 1,80 metros,
na base da vazão. Os meninos ficavam no raso brincando de jogar barro ou areia
nos outros, e nós maiores tínhamos o privilégio de ficar recebendo aquela
hidromassagem pelo corpo, proporcionada pela bendita cachoeirinha. Nesse dia,
estando sozinha (sem Lourdinha), resolvi ficar por mais tempo curtindo a água,
enquanto Olho de gato brincava e tomava conta das crianças. Aí, num vacilo da
minha parte, escorreguei para o lado mais fundo e, como tinha mais ou menos a
mesma altura de hoje (1,66), desci completamente, bebendo alguma água e tendo
dificuldades para voltar a minha posição anterior. Quando voltei a tona pela
segunda vez, consegui gritar chamando Olho de gato que, ao me ver desesperada,
saiu apressado ao meu encontro, pois os meninos nem perceberam o que estava
acontecendo.
Ele
foi chegando, me abraçou por trás carregando-me para o lado mais raso, porém,
mesmo já fora do perigo, ele nervoso e estarrecido, continuava me apertando por
trás. E eu, mesmo com um pouco de pânico, não deixei de sentir aquele volume,
embora em estado adormecido pela fria água, mas, bastante significativo,
roçando em minhas nádegas, fazendo com que esquecesse, momentaneamente, que
quase me afogará minutos atrás.
-A
senhora está bem? Bebeu água? Quer ir para casa?
Com
essa torrente de perguntas, eu apenas respondi que estava tudo bem, mas que ele
continuasse me segurando, pois estava um pouco tonta. Porém, na verdade o que
eu queria era continuar sendo abraçada por ele, sentindo a presença de algo que
começou a me excitar. Ele instintivamente ou não, me apertava cada vez mais e,
como era de se esperar, passei a perceber algo intumescido roçar bem na divisão
da minha bunda. Logicamente, por estarmos cobertos pelo véu de água, procurei
demorar-me ao máximo em demonstrar minha recuperação, aproveitando-me daquela
inesperada e gostosa sensação.
Isso
tudo não demorou cinco minutos, mas, para mim e creio que para ele também,
pareceu uma eternidade. Assim que ele percebeu estar acima dos limites e em
respeito à filha do patrão, soltou-me bruscamente já na parte rasa, ficando
cabisbaixo, receoso de alguma atitude condenatória da minha parte. Mas,
permaneci tranqüila e não deixei transparecer que havia notado nada, apenas
agradecendo a sua bendita intervenção em meu favor.
Como
disse, as crianças nem deram conta do fato do afogamento, nem tão pouco
prestaram atenção ao meu erótico salvamento. Aquilo foi uma delícia, pois,
naquele tempo, nós já comentávamos que: “uma esfregadinha valia por um
bifinho”. E eu tinha ganho um filet mignon como prêmio náutico.
Voltamos
todos para casa, aproveitando ainda a luminosidade do entardecer, e eu pelo
caminho, louca de dúvidas se contava ou não para Lourdinha aquela deliciosa
ocorrência. Assim como eu, Olho de gato evitava me encarar, entretanto ambos
percebiam que algo de bom havia acontecida para as duas partes. Mas, na
qualidade de empregado, pairava no ar o medo dele com alguma complicação, caso
eu dissesse que ele havia me desrespeitado. Longe de mim estava essa idéia,
pensava mais era em me afogar todos os dias. Isso eu pensei sorrindo
internamente. Mas, só para provoca-lo, como éramos os últimos da fila da
picada, falei pra ele:
Até agora ainda estou pensando no perigo que
passei. Coloque a mão aqui no meu coração pra você como ainda está batendo
forte!
Ele colocou a mão levemente, porém eu
peguei em seu pulso e coloquei propositadamente sua mão em meu peito, fazendo
ele sentir o biquinho endurecido e as batidas descompassadas, não pelo
acidente, mas pelo socorro.
É mesmo! Eu também fiquei com um medo danado. Se
acontecer alguma coisa com a senhora eu vou entrar bem.
-Não vamos contar nada para ninguém, senão vão
ficar preocupados sem razão e vai terminar atrapalhando nossos banhos e nossos
passeios.
-Então está combinado. Falou Olho de gato, feliz
por ver que não haveria problema, como também ter notado que não foi ele
somente que gostou do ocorrido.
Na porta da sede da roça, me despedi de Olho de
gato dando um adeus com um sorriso meio enigmático, que na cidade é chamado
vulgarmente de frete (corruptela de flerte).
Lourdinha estava deitada no sofá da sala, lendo a
revista Realidade que meu pai havia trazido de Itabuna no dia anterior.
-Foi tudo bem? Dormi quase o dia todo!
-Ah! Não foi melhor porque eu fiquei sozinha.
Senti muito sua falta! Disse eu, mentindo cinicamente, pois adoraria que a
menstruação dela provocasse bastante cólicas e amanhã ela também não pudesse
nos acompanhar. Meu Deus! Veja o que é que homem e sexo faz! Desejar mal a
melhor amiga e mentir sem o mínimo pudor.
A partir desse pequeno acidente, passamos a nos
olhar com a cara meio safadinha, entretanto sem nenhuma investida, restringindo-se
apenas a um deboche matreiro, não só pela falta de oportunidades, como também
pela preocupação com a família. Mas, que começou a despertar um desejo de
ampliar mais as intimidades, isso era claro no olhar dele de gato e no meu
sorrateiro de cobra.
Como tinha que fazer segunda época de uma matéria
que perdera, Lourdinha foi para cidade e eu passei a ter maiores liberdades
para fazer minhas provocações, porém, sempre pensando apenas em coisas sem
maiores importâncias, somente para curtir minhas férias.
Um belo dia, acordei bem cedo e fui chamar Olho de
gato para selar um cavalo para mim, pois queria ir na roça vizinha visitar um
pessoal amigo dos meus país. Ele estava acordado há algum tempo, já tinha ido
ao curral ajudar na ordenha e estava suado e sem camisa, dando ao seu corpo um
brilho sedutor que me fez arrepiar toda, imaginando estar em seus braços,
abraçada pelos seus braços pegajosos, sentindo o calor do seu forte corpo e sua
virilidade em minhas entranhas. Sinceramente, não pude me conter! Passei a mão
em seu peito, dizendo como ele estava suado. Tirei um corpete que estava usando
e comecei a enxuga-lo carinhosamente, deixando evidente que estava totalmente
em suas mãos.
Ele, mesmo de cabeça baixa e temeroso, me abraçou
bruscamente e me deu um beijo na boca, deixando o gosto do leite que acabara de
beber.
Puxei ele para trás da baia e começamos a nos
agarrar numa agonia que mais parecíamos cachorros no cio. Ele, brusca e
brutamente, jogou-me no chão da cocheira encima de um monte de capim, suspendeu
a minha saia, baixou minha calcinha e, sem tirar ao menos o calção, sacou o seu
grosso membro e colocou entre as minhas pernas. Eu estava tão louca pela minha
primeira sensação de estar a vontade com um homem, que não ligava nada ou
ninguém, apenas desejava que ele me penetrasse, com carinho ou não, mas me
fizesse mulher naquele momento. Nossas inexperiências não atrapalharam em nada.
Tudo aconteceu como queríamos que acontecesse. Aquilo foi entrando em mim. Ora
com delicadeza, ora com violência e sofreguidão, mas, o que eu realmente sentia
era o prazer divino do orgasmo que se aproximava. Ele, como um garanhão,
abafava-me no chão segurando-me pelo pescoço e beijando minha boca seca,
enquanto introduzia tudo em minha vagina molhada.
Poderíamos ficar ali por várias horas, devido as
nossas tesões de adolescentes, mas, o medo de sermos pegados em flagrante, fez
com que, após um delicioso momento de prazer, levantássemos, eu vestisse as
roupas e voltássemos para nossas casas. No curto caminho, eu não sabia se
morria de preocupação ou se chorava de felicidade.
Fui direto para o banheiro, tirei as roupas e
percebi aquele liquido viscoso escorrendo pela minha vagina, mesclado de
vermelho, que devia ser em função da perda de minha virgindade e o ganho da
minha felicidade.
Esse episódio foi na véspera do nosso retorno para
Itabuna e, até a hora de nossa despedida pela manhã, não vi Olho de gato.
Imagino que ele estava assustando bastante e com medo de que algo acontecesse a
ele.
Dias depois soube por meu pai que seu Isídro (o
administrador) havia recebido um convite para trabalhar em Altamira, pediu as
contas e foi embora com sua mulher e seu filho Olho de gato. Jamais soube
notícias de ninguém da família. Mas, como não havia nenhum sentimento de amor,
apenas desejo, nada me preocupou, até que, dois meses depois, comecei a sentir
a barriga crescer, minhas menstruações encerrarem e, a trágica notícia de que
estava grávida.
Escândalo seria uma palavra super amena para eu
descrever as reações familiares. Mas, com muita discrição, meus pais
mandaram-me para Salvador para ficar com uma tia, até que a criança nascesse.
Fiquei lá, continuei meus estudos, fiz faculdade e
criei o meu filho com muito carinho. Não casei, mas, sempre namoro e divirto-me
levando uma vida agradável no meu trabalho e nas horas de lazer.
Foi um momento de loucura em busca do prazer que,
embora tenha me causado transtornos, deixou uma lembrança viva que amo
profundamente e é minha doce e maravilhosa companhia.
Até hoje Lourdinha pensa que meu filho foi fruto
de algum namorado em Salvador. Achei por bem guardar esse meu segredo dentro de
mim e jamais comentei com ninguém quem é o pai do meu querido Adriano.
*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras
de Itabuna – antoniodaagal26@hotmail.com
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