sábado, 26 de março de 2016

Férias na fazenda!

                                                                       
                                            *Antonio Nunes de Souza

Tem dias que estamos um pouco nostálgicos e começamos a lembrar de fatos que marcaram nossa vida. Alguns deixaram lembranças vivas, doces e alegres, mas, por mais que queiramos apagá-los, surgem como um encanto, passagens que nos perturbam somente em relembrá-las, pois foram marcantes e, mesmo tendo nos dado prazeres momentâneos, fixam marcas em nossas memórias, provavelmente para o resto da vida.
Esses fatos, onde são evidenciadas seqüelas, sempre foram atitudes que tomamos por impulsos e, por mais que os exemplos estejam estampados em nossa frente, sempre achamos que conosco será diferente, nos baseando na barata filosofia popular de que: “O que não foi bom para Chico, pode ser ótimo para Francisco”. E foi em uma dessas minhas interpretações, que comprovei em condições desagradáveis, que ouvindo a experiência, muitas vezes evitamos dissabores.
Creio, talvez até com absoluta certeza, que esse fato que vou relatar, acontecido quando eu tinha 17 anos, foi algo totalmente inexplicável, já que ele é abarrotado de prazeres e ilusões e, ao mesmo tempo, tristezas e melancolias. Não posso dar uma explicação mais detalhada, em função da complexidade e mistura paradoxal desses adversos sentimentos. Apenas para ilustrar, vou exemplificar comparando-o a uma fruta que todos conhecem: O tamarindo (ele é gostoso e azedo ao mesmo tempo e todos ficam com água na boca só em olha-lo). Pois é! Até hoje ainda sinto o acre-doce desse meu tamarindo, que não me deixa esquece-lo através da presença do meu filho, hoje com 21 anos de idade!
Como sou do interior, neta e filha de fazendeiros, naquela época era comum e normal nossas idas nos fins de semana para a roça (como são chamadas às fazendas de cacau em nossa região), onde curtíamos bastante montando a cavalo, tomando banhos de rio, pescando, indo cedo ao curral para beber leite quentinho após a ordenha, subir em árvores para pegar frutas, correr atrás das galinhas, espalhar cacau nas barcaças e uma infinidade de coisas divertidas e bem diferentes dos nossos hábitos urbanos.
No fim do dia estávamos todos exaustos, fazíamos aquela fila para tomar um bom banho e vestir umas roupinhas velhas e puídas, sentando todos à mesa para saborear um delicioso café regado à fruta-pão, batata doce, aipim, beiju, cuscuz, mingau de tapioca e milho verde, ovo caipira estrelado, inhame e outras iguarias mais, que só em me lembrar à boca enche de água.
Também, após essa farra alimentar, como não havia televisão, reuníamos na sala, deitados nos sofás, redes e esteiras, ocasião onde havia a verdadeira reunião familiar, todos contando como foi o seu dia, muitas risadas pelos acontecidos, os mais velhos enveredavam contando estórias e, aos poucos, cada um ia adormecendo e meus pais chamando pelos nomes, mandando fazer xixi e ir para suas camas. Mas, sempre acontecia de alguns ficarem abancados na própria sala até o dia amanhecer.
Nas ocasiões especiais (férias, S. João, semana santa, etc), além de meus pais e irmãos, sempre iam alguns amigos ou amigas, primos, colegas de escola, pois, para nós, era importante ter companhia para compartilharmos da farra campestre. Como todos nós sabemos, entre irmãos na fase adolescente, dificilmente existem confidências. Preferimos contar nossos segredinhos aos nossos amigos, que confiamos mais. Com irmãos é terrível. Na primeira briga eles saem espalhando pra Deus e o mundo. E quando não é assim, passam a fazer chantagem.
Embora a turma fosse sempre grande, era dividida em grupos por faixas etárias, uma vez que os maiores detestavam aquela penca de crianças atrás, pedindo para esperar, chorando porque entrou um espinho no pé, reclamando que estão com sede, etc. Para nós que já estávamos entre os 15 e 17 anos e nossos assuntos eram mais picantes, voltados para namoros e os pães do colégio (pão era o que hoje é gato), era um saco!
Falar em pão, me fez lembrar de um rapaz do colégio que seu apelido era Manteiga e, como ele era um gato, as meninas diziam que ele era completo: Um pão com manteiga! Ele era até bonitinho, mas doido de pedra. Tomara que tenha tomado juízo.
Por orientação do meu pai, havia um filho do administrador que sempre nos acompanhava, no sentido de nos dar cobertura e ajudar nas nossas tarefas de diversão, já que ele conhecia todos os lugares e, em caso de alguma necessidade, nos daria o apoio imediato. Gustavo era o seu nome e tinha 16 anos, porém com um aspecto de muito mais, pois era forte, alto, mulato com os cabelos carapinha e meio amarelados (quase sarará), olhos de cores indefinidas, tanto que todos o chamavam pelo apelido de Olho de gato. Era um pouco tímido, mas, como pessoas dessa característica, pouco nos olham, porém, quando fazem, fixam o olhar e nos deixam uns tanto desconsertados. E ele, mesmo sem saber esse efeito que causava, sempre pegávamos o seu olhar direcionado para nossos rostos e, principalmente, para nossas pernas, já que andávamos muito de short durante o dia. Quando ele tirava a camisa para fazer qualquer coisa que urgia essa necessidade, eu e minha prima Maria de Lourdes ficávamos olhando seu peito musculoso e sem cabelos e descíamos os olhos até seu umbigo, imaginando o que estaria escondido bem abaixo. Como se estivéssemos lendo nossos pensamentos, após nossa repedida olhada, virávamos uma para a outra e caíamos na gargalhada. Isso porque sempre comentávamos a respeito dele que, embora um matuto, tinha as coisas nos lugares. Até sua bundinha era arredondada e empinada. Quando nós íamos para a cachoeirinha tomar banho, nós (eu e Lourdinha), insistíamos para que ele também tomasse banho, já que estava suado e também tinha direito a refrescar-se. Mas, na verdade, o que nós desejávamos era ver ele naquele calção de saco de aniagem branco, que depois de molhado, deixava transparecer o volume das suas coisas, que nos encantava profundamente. Esse segredo nós tínhamos. E os outros, por serem bem mais jovens, nem percebiam que havia alguma maledicência em nossos banhos.
Uma noite, acordei com o balançar da cama e, com medo, fiquei parada, apenas abri bem devagar os olhos e percebi que era Lourdinha se masturbando ao meu lado. Fiquei calada e na manhã seguinte contei pra ela o que tinha visto. Ela, sem nenhum arrependimento, contou-me que naquela tarde, quando Olho de gato mergulhou, ela por trás viu uma parte do seu membro, que saíra pela boca do calção. Aquilo tinha lhe dado um tesão enorme e a noite não conseguia dormir, somente acontecendo depois de se satisfazer. Ouvi tudo, mas não disse nada. Porém fiquei com inveja porque não vi e por ela não ter me contado absolutamente nada dessa cena maravilhosa. Percebi que também passaria a ter os meus segredos dali em diante.
Nossos dias eram maravilhosos e cheios de encantos. Nada nos preocupava, além das bobagens de flertes, namoros, festinhas, etc., disso tenho uma saudade profunda, que daria tudo para voltar ao passado, mesmo desfrutando de um presente que não é de se jogar fora.
Certa vez, Lourdinha estava “naqueles dias”, e como naquele tempo não existia a modernidade de apetrechos que você pode até praticar esportes radicais, ela ficou em casa lendo e eu fui com as crianças e Olho de gato tomar banho na cachoeirinha. Era uma pequena queda de uns 6 metros, que descia morro abaixo fazendo uma gostosa cortina, onde embaixo, devido à força e pressão da água, terminou fazendo uma grande piscina, apenas com alguma profundidade inferior a 1,80 metros, na base da vazão. Os meninos ficavam no raso brincando de jogar barro ou areia nos outros, e nós maiores tínhamos o privilégio de ficar recebendo aquela hidromassagem pelo corpo, proporcionada pela bendita cachoeirinha. Nesse dia, estando sozinha (sem Lourdinha), resolvi ficar por mais tempo curtindo a água, enquanto Olho de gato brincava e tomava conta das crianças. Aí, num vacilo da minha parte, escorreguei para o lado mais fundo e, como tinha mais ou menos a mesma altura de hoje (1,66), desci completamente, bebendo alguma água e tendo dificuldades para voltar a minha posição anterior. Quando voltei a tona pela segunda vez, consegui gritar chamando Olho de gato que, ao me ver desesperada, saiu apressado ao meu encontro, pois os meninos nem perceberam o que estava acontecendo.
Ele foi chegando, me abraçou por trás carregando-me para o lado mais raso, porém, mesmo já fora do perigo, ele nervoso e estarrecido, continuava me apertando por trás. E eu, mesmo com um pouco de pânico, não deixei de sentir aquele volume, embora em estado adormecido pela fria água, mas, bastante significativo, roçando em minhas nádegas, fazendo com que esquecesse, momentaneamente, que quase me afogará minutos atrás.
-A senhora está bem? Bebeu água? Quer ir para casa?
Com essa torrente de perguntas, eu apenas respondi que estava tudo bem, mas que ele continuasse me segurando, pois estava um pouco tonta. Porém, na verdade o que eu queria era continuar sendo abraçada por ele, sentindo a presença de algo que começou a me excitar. Ele instintivamente ou não, me apertava cada vez mais e, como era de se esperar, passei a perceber algo intumescido roçar bem na divisão da minha bunda. Logicamente, por estarmos cobertos pelo véu de água, procurei demorar-me ao máximo em demonstrar minha recuperação, aproveitando-me daquela inesperada e gostosa sensação.
Isso tudo não demorou cinco minutos, mas, para mim e creio que para ele também, pareceu uma eternidade. Assim que ele percebeu estar acima dos limites e em respeito à filha do patrão, soltou-me bruscamente já na parte rasa, ficando cabisbaixo, receoso de alguma atitude condenatória da minha parte. Mas, permaneci tranqüila e não deixei transparecer que havia notado nada, apenas agradecendo a sua bendita intervenção em meu favor.
Como disse, as crianças nem deram conta do fato do afogamento, nem tão pouco prestaram atenção ao meu erótico salvamento. Aquilo foi uma delícia, pois, naquele tempo, nós já comentávamos que: “uma esfregadinha valia por um bifinho”. E eu tinha ganho um filet mignon como prêmio náutico.
Voltamos todos para casa, aproveitando ainda a luminosidade do entardecer, e eu pelo caminho, louca de dúvidas se contava ou não para Lourdinha aquela deliciosa ocorrência. Assim como eu, Olho de gato evitava me encarar, entretanto ambos percebiam que algo de bom havia acontecida para as duas partes. Mas, na qualidade de empregado, pairava no ar o medo dele com alguma complicação, caso eu dissesse que ele havia me desrespeitado. Longe de mim estava essa idéia, pensava mais era em me afogar todos os dias. Isso eu pensei sorrindo internamente. Mas, só para provoca-lo, como éramos os últimos da fila da picada, falei pra ele:
Até agora ainda estou pensando no perigo que passei. Coloque a mão aqui no meu coração pra você como ainda está batendo forte!
     Ele colocou a mão levemente, porém eu peguei em seu pulso e coloquei propositadamente sua mão em meu peito, fazendo ele sentir o biquinho endurecido e as batidas descompassadas, não pelo acidente, mas pelo socorro.
É mesmo! Eu também fiquei com um medo danado. Se acontecer alguma coisa com a senhora eu vou entrar bem.
-Não vamos contar nada para ninguém, senão vão ficar preocupados sem razão e vai terminar atrapalhando nossos banhos e nossos passeios.
-Então está combinado. Falou Olho de gato, feliz por ver que não haveria problema, como também ter notado que não foi ele somente que gostou do ocorrido.
Na porta da sede da roça, me despedi de Olho de gato dando um adeus com um sorriso meio enigmático, que na cidade é chamado vulgarmente de frete (corruptela de flerte).
Lourdinha estava deitada no sofá da sala, lendo a revista Realidade que meu pai havia trazido de Itabuna no dia anterior.
-Foi tudo bem? Dormi quase o dia todo!
-Ah! Não foi melhor porque eu fiquei sozinha. Senti muito sua falta! Disse eu, mentindo cinicamente, pois adoraria que a menstruação dela provocasse bastante cólicas e amanhã ela também não pudesse nos acompanhar. Meu Deus! Veja o que é que homem e sexo faz! Desejar mal a melhor amiga e mentir sem o mínimo pudor.
A partir desse pequeno acidente, passamos a nos olhar com a cara meio safadinha, entretanto sem nenhuma investida, restringindo-se apenas a um deboche matreiro, não só pela falta de oportunidades, como também pela preocupação com a família. Mas, que começou a despertar um desejo de ampliar mais as intimidades, isso era claro no olhar dele de gato e no meu sorrateiro de cobra.
Como tinha que fazer segunda época de uma matéria que perdera, Lourdinha foi para cidade e eu passei a ter maiores liberdades para fazer minhas provocações, porém, sempre pensando apenas em coisas sem maiores importâncias, somente para curtir minhas férias.
Um belo dia, acordei bem cedo e fui chamar Olho de gato para selar um cavalo para mim, pois queria ir na roça vizinha visitar um pessoal amigo dos meus país. Ele estava acordado há algum tempo, já tinha ido ao curral ajudar na ordenha e estava suado e sem camisa, dando ao seu corpo um brilho sedutor que me fez arrepiar toda, imaginando estar em seus braços, abraçada pelos seus braços pegajosos, sentindo o calor do seu forte corpo e sua virilidade em minhas entranhas. Sinceramente, não pude me conter! Passei a mão em seu peito, dizendo como ele estava suado. Tirei um corpete que estava usando e comecei a enxuga-lo carinhosamente, deixando evidente que estava totalmente em suas mãos.
Ele, mesmo de cabeça baixa e temeroso, me abraçou bruscamente e me deu um beijo na boca, deixando o gosto do leite que acabara de beber.
Puxei ele para trás da baia e começamos a nos agarrar numa agonia que mais parecíamos cachorros no cio. Ele, brusca e brutamente, jogou-me no chão da cocheira encima de um monte de capim, suspendeu a minha saia, baixou minha calcinha e, sem tirar ao menos o calção, sacou o seu grosso membro e colocou entre as minhas pernas. Eu estava tão louca pela minha primeira sensação de estar a vontade com um homem, que não ligava nada ou ninguém, apenas desejava que ele me penetrasse, com carinho ou não, mas me fizesse mulher naquele momento. Nossas inexperiências não atrapalharam em nada. Tudo aconteceu como queríamos que acontecesse. Aquilo foi entrando em mim. Ora com delicadeza, ora com violência e sofreguidão, mas, o que eu realmente sentia era o prazer divino do orgasmo que se aproximava. Ele, como um garanhão, abafava-me no chão segurando-me pelo pescoço e beijando minha boca seca, enquanto introduzia tudo em minha vagina molhada.
Poderíamos ficar ali por várias horas, devido as nossas tesões de adolescentes, mas, o medo de sermos pegados em flagrante, fez com que, após um delicioso momento de prazer, levantássemos, eu vestisse as roupas e voltássemos para nossas casas. No curto caminho, eu não sabia se morria de preocupação ou se chorava de felicidade.
Fui direto para o banheiro, tirei as roupas e percebi aquele liquido viscoso escorrendo pela minha vagina, mesclado de vermelho, que devia ser em função da perda de minha virgindade e o ganho da minha felicidade.
Esse episódio foi na véspera do nosso retorno para Itabuna e, até a hora de nossa despedida pela manhã, não vi Olho de gato. Imagino que ele estava assustando bastante e com medo de que algo acontecesse a ele.
Dias depois soube por meu pai que seu Isídro (o administrador) havia recebido um convite para trabalhar em Altamira, pediu as contas e foi embora com sua mulher e seu filho Olho de gato. Jamais soube notícias de ninguém da família. Mas, como não havia nenhum sentimento de amor, apenas desejo, nada me preocupou, até que, dois meses depois, comecei a sentir a barriga crescer, minhas menstruações encerrarem e, a trágica notícia de que estava grávida.
Escândalo seria uma palavra super amena para eu descrever as reações familiares. Mas, com muita discrição, meus pais mandaram-me para Salvador para ficar com uma tia, até que a criança nascesse.
Fiquei lá, continuei meus estudos, fiz faculdade e criei o meu filho com muito carinho. Não casei, mas, sempre namoro e divirto-me levando uma vida agradável no meu trabalho e nas horas de lazer.
Foi um momento de loucura em busca do prazer que, embora tenha me causado transtornos, deixou uma lembrança viva que amo profundamente e é minha doce e maravilhosa companhia.
Até hoje Lourdinha pensa que meu filho foi fruto de algum namorado em Salvador. Achei por bem guardar esse meu segredo dentro de mim e jamais comentei com ninguém quem é o pai do meu querido Adriano.

*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras de Itabuna – antoniodaagal26@hotmail.com
                             

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