Antonio
Nunes de Souza*
Vida de
andarilhos itinerantes, os artistas circenses, nunca tem rotinas, pois, além de
estarem sempre mudando de lugares, além de climas diferentes, estão lidando com
plateias com reações diversas, hábitos e costumes, tipos de alimentações
regionais, receptividades das mais variadas pelas autoridades públicas e o
comércio em geral!
Como vocês
podem ver, são verdadeiros aventureiros maravilhosos, corajosos que, com
alegria, enfrentam todas essas coisas sempre sorrindo e com seus diários
trabalhos e atrações completamente radicais. Quer seja do simples palhaço até
os mais malabaristas em aparelhos perigosos! Uma vez que todos participam de
tudo, não somente no picadeiro como atrações, como também nas horas de armar e
desarmar suas imensas empanadas, arquibancadas e camarotes para acolher seus
espectadores!
Fiz esse
preâmbulo acima para ativar a memória das pessoas, que apenas se preocupam de
ver os espetáculos, mas, não atinam com os detalhes das vidas dessas pessoas,
suas grandes alegrias que proporcionam e também as grandes decepções e
tristezas, quando as chuvas torrenciais estragam suas apresentações por
semanas, ou até meses, prejudicando suas rendas significativamente! O fato é
que, por baixo daquelas imensas lonas existem pessoas comuns, famílias com e
sem filhos, geralmente, muitos casais que se apresentam juntos desde crianças
ou jovens, já substituindo seus avós e pais nas mesmas peripécias. E, o Circo
Internacional da América, não era diferente dos outros. Seguia as mesmas
características, e tinham dois casais que se apresentavam um no trapézio e
outro no globo da morte com suas motocicletas. Só que Paulo era casado com Ana
Bela que era trapezista com Lúcio, e Andressa trabalhava com Rodrigo no globo
da morte. Todos jovens, bonitos, sarados pelos exercício diários e constantes e
os cuidados de se apresentarem com seus charmes e belezas que, seguramente, são
importantes para o público!
E, como as
tentações sempre aparecem, inesperadamente, Rodrigo começou a ter um caso com
Ana Bela, logicamente, sem o conhecimento de Paulo e nem de Andressa. Andressa
ficava girando de bicicleta no globo enquanto seu parceiro Rodrigo fazia mil
malabarismos e voltas em altas velocidades sem que ambos se triscassem.
Percebe-se que é um número arriscadíssimo. E Paulo era trapezista e aparador de
Ana Bela que dava saltos tríplices, sem redes, e era segura pelos pés por ele,
numa altura de 15 metros! Percebe-se que eles tinham responsabilidades imensas
e perigosas em suas apresentações diárias!
Aconteceu
que, numa tarde de vacilo, Paulo flagrou sua mulher transando com seu parceiro
em sua própria cama na sua barraca privada. Foi um escândalo dos grandes, alvoroço
e muitos tentando acalmar. O fato é que, depois de muitas lamurias e discussões, separaram os casais para conversarem, apaziguarem os ânimos, pois,
infelizmente, era o dia da estreia na cidade e, as atrações principais não
poderiam, em nenhuma hipótese, deixarem de ser apresentadas! Mas, como
apaziguar o casal que foi enganado? Qual a confiança de ser aparada por um
traidor? Como confiar numa infiel na bicicleta dentro do globo?
Foi um
trabalho enorme para contornar e que eles fizesse as apresentações, deixando de
lado a vida sentimental e olhassem o profissionalismo em primeiro lugar,
deixando para depois resolver suas decepções amorosas. E, com as caras
amarradas e sem se falarem até a noite, ficou combinado que se apresentariam e
depois resolveriam a questão com as cabeças frias.
A noite,
como as duas apresentações eram simultâneas em função dos eminentes perigos, o
Mestre de Cerimônia bradou no microfone as atrações máximas: A trapezista
voadora e a Moto Acrobática no Globo da Morte! Depois da saudação peculiar da
orquestra, entram os dois casais, cada se dirigindo para seus aparelhos e,
cinco minutos depois, ouviu-se o ronco ensurdecedor da moto, o rufar dos
tambores, começando as apresentações com as suas grandes e radicais peripécias.
Porém, infelizmente, com alguns minutos de iniciadas, ouviu-se um baque
terrível e gritos no globo, pois havia batido a moto em alta velocidade na
bicicleta e, ao mesmo tempo que a plateia levantava e gritava de espanto,
ouve-se um grande baque no chão do picadeiro, onde via-se o corpo da trapezista,
tremendo ensanguentada e nos estertores da provável morte! Chamou-se
ambulância, médicos que estavam na plateia correram para prestar socorro, mas,
infelizmente, as mulheres estavam mortas e o motociclista com lesões na coluna,
além de ferimentos diversos. Somente o trapezista aparador estava ileso, pois,
soltou a trapezista em função do susto com os gritos nas arquibancadas que
desviou sua atenção. Essa foi a sua alegação, que realmente tinha sentido. Resultado:
O motociclista ficou paraplégico e passou a ser o bilheteiro do circo, o
trapezista aparador foi embora e tornou-se um alcoólatra pelas ruas, e o circo
continuou com suas viagens, apenas arranjando novas apresentações substitutas,
evitando sempre atrações com casais diferentes. Essa grande lição foi
aprendida!
Isso tudo é
para que vocês vejam que, mesmo o circo sempre trazendo festas e alegrias para
as cidades, no seu interior também existem problemas graves, sérios e
constrangedores. Nem sempre vivem de palhaçadas e sorrisos!
*Escritor –
Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário