Antonio Nunes de Souza*
Poderia
ser um dia normal de plantão para mim, dentro da rotina hospitalar, mas,
inesperadamente fui chamado para socorrer uma moça, que por querer provocar um
aborto com um instrumento pontudo, estava tendo uma brutal hemorragia, com
sérios perigos de leva-la a óbito!
Saí
na ambulância, que corre desbragadamente, conforme a necessidade do caso em
pauta, já que, pelo telefone, a solicitação tinha sido feita por um médico, que
infelizmente, não era ginecologista, e sim otorrino!
Ao
chegarmos com o barulho da sirene, logicamente chamou a atenção no pobre e
modesto bairro, juntando logo um grupo de curiosos na frente da humilde casa.
Os enfermeiros desceram, pegaram suas ferramentas de trabalho, ou seja, a maca,
enquanto eu fui entrando e dirigindo-me ao quarto, quando assustado me deparei
com um quadro deplorável de uma menina, que vim a saber depois ter quatorze
anos e, escondida dos pais, transava na região, para poder ter celular
sofisticado e roupinhas bonitas da moda. Se os país sabiam eu não consegui
saber, mas, deveriam pelo menos desconfiar!
Comecei
a fazer os atendimentos cabíveis de praxe, já dentro da ambulância, que
retornava para o hospital na mesma disparada com que veio. Quem quiser que diga
diferente, mas, essa trajetória na ambulância em alta velocidade, sirene
ligada, guardas apitando pedindo passagem urgente, você atendendo uma pessoa
ensanguenta e gemendo é, sinceramente, desesperadora para qualquer médico!
Fomos
diretos para a sala de cirurgia, as enfermeiras com as medicações recomendadas
por mim através do rádio e, com a ajuda de dois colegas, passamos a trabalhar
incessantemente durante quatro horas, tentando salvar a pobre e desesperada
menina, que quase inconsciente, gemia bastante!
Infelizmente,
depois de usarmos de todos recursos possíveis e cabíveis, a garota veio a óbito,
nos deixando cansados e tristes, por não termos alcançado nossos objetivos!
Já
passava das vinte horas, quando peguei meu carro e segui para casa, sem
conseguir esquecer o rosto de Emanuelle se contorcendo de dores. Assim se
chamava ela!
Ao
chegar em casa, super cansado e acabrunhado, louco para tomar um banho
reparador, fui até a sala, peguei um copo, fui a cozinha abro o refrigerador,
retiro umas pedras de gelo, volto, coloco uma grande dose de Whisky para
acertar a cabeça, daqueles momentos desagradáveis que acabei de vivenciar!
Aí
entra minha filha única, de quinze anos, estudante secundarista, meia
cabisbaixa, e com o rosto tristonho, e me diz sem coragem de me olhar nos olhos:
Papai, eu estou grávida!
Tenho
que confessar com tristeza, que esse foi “um dia inesquecível”, e muito cruel na
minha vida!
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos membros fundadores da Academia Grapiúna
de Letras!
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