quinta-feira, 6 de março de 2025

UM DIA INESQUECÍVEL! (Clique e leia)

Antonio Nunes de Souza*

Poderia ser um dia normal de plantão para mim, dentro da rotina hospitalar, mas, inesperadamente fui chamado para socorrer uma moça, que por querer provocar um aborto com um instrumento pontudo, estava tendo uma brutal hemorragia, com sérios perigos de leva-la a óbito!

Saí na ambulância, que corre desbragadamente, conforme a necessidade do caso em pauta, já que, pelo telefone, a solicitação tinha sido feita por um médico, que infelizmente, não era ginecologista, e sim otorrino!

Ao chegarmos com o barulho da sirene, logicamente chamou a atenção no pobre e modesto bairro, juntando logo um grupo de curiosos na frente da humilde casa. Os enfermeiros desceram, pegaram suas ferramentas de trabalho, ou seja, a maca, enquanto eu fui entrando e dirigindo-me ao quarto, quando assustado me deparei com um quadro deplorável de uma menina, que vim a saber depois ter quatorze anos e, escondida dos pais, transava na região, para poder ter celular sofisticado e roupinhas bonitas da moda. Se os país sabiam eu não consegui saber, mas, deveriam pelo menos desconfiar!

Comecei a fazer os atendimentos cabíveis de praxe, já dentro da ambulância, que retornava para o hospital na mesma disparada com que veio. Quem quiser que diga diferente, mas, essa trajetória na ambulância em alta velocidade, sirene ligada, guardas apitando pedindo passagem urgente, você atendendo uma pessoa ensanguenta e gemendo é, sinceramente, desesperadora para qualquer médico!

Fomos diretos para a sala de cirurgia, as enfermeiras com as medicações recomendadas por mim através do rádio e, com a ajuda de dois colegas, passamos a trabalhar incessantemente durante quatro horas, tentando salvar a pobre e desesperada menina, que quase inconsciente, gemia bastante!

Infelizmente, depois de usarmos de todos recursos possíveis e cabíveis, a garota veio a óbito, nos deixando cansados e tristes, por não termos alcançado nossos objetivos!

Já passava das vinte horas, quando peguei meu carro e segui para casa, sem conseguir esquecer o rosto de Emanuelle se contorcendo de dores. Assim se chamava ela!

Ao chegar em casa, super cansado e acabrunhado, louco para tomar um banho reparador, fui até a sala, peguei um copo, fui a cozinha abro o refrigerador, retiro umas pedras de gelo, volto, coloco uma grande dose de Whisky para acertar a cabeça, daqueles momentos desagradáveis que acabei de vivenciar!

Aí entra minha filha única, de quinze anos, estudante secundarista, meia cabisbaixa, e com o rosto tristonho, e me diz sem coragem de me olhar nos olhos: Papai, eu estou grávida!

Tenho que confessar com tristeza, que esse foi “um dia inesquecível”, e muito cruel na minha vida!

*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta e um dos membros fundadores da Academia Grapiúna de Letras!


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