Antonio Nunes de Souza*
Sempre que
nada tenho a fazer, escolho algo fora dos meus padrões normais de
comportamento, no sentido de ver e ouvir coisas inusitadas, para conhecer novas
estórias dessa maravilhosa vida louca!
E hoje,
casualmente acertando o meu rádio/relógio, resolvi sintonizar em uma emissora
qualquer, e comecei a ouvir um programa dedicado a conselhos sobre relações
amorosas! Como acho engraçadas essas cartas para os locutores pseudos
psicólogos, comecei a prestar atenção ao que ele dizia!
Com um fundo
musical bem romântico, começou a falar: Na nossa programação de hoje
dedicaremos a responder a carta da ouvinte Sara Bernadete, moradora do bairro
da Liberdade em Salvador, que com muita preocupação, relata o seguinte:
Prezado J.
Castro,
Tenho 22
anos, sou solteira, trabalho na Secretaria de Educação, tenho boa aparência e
estou fazendo faculdade, mas, infelizmente, não consigo namorar, porque me
preocupa muito relacionar-me com um rapaz, em função dos perigos que podem
causar os contatos que tenho que me submeter, durante nossos encontros. Posso
exemplificar os diversos riscos que correrei, assim que começar um namoro: Se
ele pegar em minhas mãos, sem que as tenha lavado antes, ou não passar
alcoolgel, imagino logo que ele está me passando uma série de bactérias e vírus
trazidos pelos lugares que ele andou pegando pelo caminho, deixando-me
contaminada com possibilidade de Covid, unheiro, ou alguma doença de pele. Se
ele me beijar (ai meu Deus que nojo), já imaginou quantos estafilococos, ou
bacilos, ele pode ter na boca e através da saliva, debilitar a minha saúde com
uma tuberculose, hepatite, uma tremenda gripe ou bronquite? Ave Maria. Não
quero nem pensar. Isso sem falar se ele tiver também alguns dentes cariados,
mal hálito e implantar umas placas bacterianas em meus dentinhos. Chega até a
me dar brutos arrepios de medo!
Pior ainda
será, se eu conseguir suportar esses contatos iniciais, e por ironia do destino,
ou uma loucura momentânea, eu vá para a cama com ele (só em pensar me dá náuseas)
e tivermos uma relação sexual. Claro que vou exigir preservativo, mas, se a
camisinha romper? Já imaginou a tragédia? Ele poderá ter uma porção de doenças
transmissíveis. Tem algumas que ainda são curáveis, mas e a herpes, sífilis e a
mortal aids? Só em escrever, já estou suando e morrendo de nojo e medo!
Portanto,
caro locutor, gostaria de ouvir sua opinião se seria justo, eu solicitar aos
rapazes que se aproximam de mim, uma bateria de exames clínicos e laboratoriais,
atestado de saúde, vacina, justamente com um atestado psíquico de sanidade
mental (imagine se ele for louco e querer me submeter a urgias satânicas e
masoquistas?)
Creio que
não estou sendo exagerada, apenas, uma modesta precaução básica, que com certeza,
me proporcionará um relacionamento bom e saudável!
Estou
ansiosa por sua abalizada e sensata resposta!
Assinado:
Sara Bernadete
Depois de
lida a carta, com um fundo musical a meia altura, o locutor analista/psicólogo,
começou com a voz macia o seu comentário abalizado (?):
Querida e
estimada consulente rádio ouvinte, facilmente percebe-se que você é uma pessoa
bastante previdente, chegando as raias de certos exageros, que para não
contrariar seus cuidados, sugiro que não tenha relacionamento de nenhuma
espécie, esteja sempre usando luvas, abolir, definitivamente, as preliminares
de um namoro, ou transa, comprar um ótimo vibrador auto-lavável para suas
relações sexuais, e se adaptar aos seus orgasmos solitários, sem os perigos que
hoje lhe afligem. Acredito que você será uma moça feliz, livre dessas doenças
desastrosas, que são disseminadas pelos homens que não se cuidam dignamente!
Qualquer
dúvida volte a me escrever que, tranquilamente, estarei ao seu dispor!
Aí o fundo
musical foi aumentado e o divertido e absurdo programa continuou, com outra
carta de uma nova consulente!
*Escritor e
cronista irreverente!
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