Antonio Nunes de Souza*
Sentado
em sua cadeira, cinto já abotoado na cintura, Leôncio com os olhos fechados
recordava o que passara tempos atrás, quando ainda rapazinho, se despediu dos
seus pais e subiu na carroceria de um pau de arara, para ir procurar melhora de
vida no Estado que era conhecido por todos, como a salvação dos nordestinos:
São Paulo!
Ao
chegar, nervoso e cheio de expectativas, não sabia o que o esperava, pois, suas
calejadas mãos, apenas sabiam lidar com a enxada, e não tinha nenhuma
experiência na área urbana. Mas, sendo muito religioso como são os pobres do
nordeste, tinha entregue a Deus a sua vida, desde a hora em que saiu da sua
terra!
Tudo
isso passara-se há 15 anos, quando chegou sentindo-se um minúsculo ser naquela
multidão jamais vista, perdido em sua mente por alguns dias, esperando a ficha
cair, e se sentir mais seguro para enfrentar qualquer batente que aparecesse,
no sentido de lhe dar o dinheiro das despesas de uma humilde pensão, e a
alimentação provida de um feijão com arroz e umas pelancas de carne de terceira,
que ele mesmo preparava durante a noite antes de dormir.
Não
era nada diferente de milhares de nordestinos, que partiam sempre em busca do
paraíso da famosa pauliceia, ou o El dourado dos que buscam refazer suas vidas
em outras plagas!
Ao
seu lado no avião, sua mulher Celina, baiana que esse pernambucano aventureiro
conheceu no seu bairro e casou-se, controlando os três filhos que corriam pelo
corredor do avião, olhavam pelas janelas e, sem a cerimônia das crianças ricas
e habituadas a voarem, gritavam bem alto que estavam vendo as nuvens e, em
algumas horas, algumas cidades ou mar lá embaixo, numa distância jamais vista
por eles. O pequenino e caçula, com apenas três aninhos, meio gripado, deixava
escorrer pelo nariz aquele catarro, e ele, sem a mínima noção de higiene,
lambia ou passava a mão e limpava na sua calça nova, comprada especialmente
para essa histórica viagem aérea, que jamais contavam um dia pudesse acontecer!
Leôncio
não abria os olhos, somente pensando em rever os seus velhos pais, dois irmãos
mais velhos que se apegaram ao pedacinho de terra que tinham e, certamente,
alguns outros parentes e amigos do passado sofrido, mas, cheio de carinho, amor
e solidariedade, que é peculiar entre os pobres. Mesmo antes de chegar, já
preocupava-se com as 12 parcelas de R$ 120,00, que teria que pagar pelo pacote
promocional para essa inesquecível viagem, jamais imaginada que um dia fosse
possível.
Sem
poder se controlar, podia-se perceber duas lágrimas que rolavam dos olhos
daquele homem, diante da emoção de ter vencido uma modéstia etapa de sua vida,
mas, que tinha a significação de estar crescendo e sendo olhado como um ser
humano trabalhador, honesto e vencedor!
A
aeromoça ajudou a colocar os meninos em seus lugares, afivelar seus cintos de
segurança e, alguns minutos depois, aterrissava o grande avião no aeroporto de
Guararapes, de onde eles de ónibus, seguiriam para o interior para um encontro
de afetividade e saudade dos longos anos sem se encontrarem.
Tudo
isso foi a concretização de um sonho realizado por uma família, que hoje,
através do trabalho e luta para a realização dos seus sonhos e projetos, está
vendo acontecer coisas que nunca poderiam esperar!
Essa
linda história tem milhares de repetições, mostrando e demonstrando, que o
nordestino é valente e guerreiro, além de trabalhador, que enfrenta uma série
de adversidades, mas, heroicamente, mesmo sem ser oportunizado, consegue
alcançar seus objetivos!
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos membros fundadores da Academia Grapiúna
de Letras!
Nenhum comentário:
Postar um comentário