MEU REVELLION DO ANO
PASSADO! (Clique e leia) Antonio Nunes de Souza*
-Desse
fim de ano não passa!
Fiquei
feito uma tola escolhendo a vida toda um príncipe encantado, guardando minha
castidade somente para ele e, resultado, todas as minhas amigas e colegas de
colégios, casaram, tiveram filhos produções independentes, outras se separaram
e recasaram, uma grande maioria faz biscates semanais, e eu, como uma idiota,
nunca senti o prazer de uma boa transada, sendo inclusive ridicularizada pela
minha imbecil atitude. Mas, nesse fim de ano, vou fazer tudo que tenho direito
e descontar o castigo que dei a minha “perseguida”.
Imagine vocês, estou com trinta e dois anos, já
era para ter em meu currículo pelo menos uns vinte caras, centenas de orgasmos
e, se não fosse minhas bolinações pessoais, meus eventuais sonhos eróticos, não
teria nem a idéia do que seria essa sensação, descrita por todos como o apogeu
do prazer. E não é que essa merda até em sonho ou manipulado é gostoso?
Pelas confidências das minhas amigas o bom mesmo
era com um cara nos beijando, agarrando, sugando, mordendo, por cima, por
baixo, de lado, de costas, etc., que para mim, mais parecia uma luta de judô no
tatame, que uma relação sexual. Eu imaginava logo que, além de entrar com a
xoxota, ainda teria que ter uma resistência física para enfrentar essa tal
transa, que mais parecia uma briga de rua. Na minha idiota pureza, imaginava
que a posição “papai/mamãe” era satisfatória para se chegar ao ápice.
-Que
nada,
Mirelle! Papai/mamãe hoje nem as
meninas de quinze anos querem mais. A coisa vai de boquete até anal, com
abundantes variações, que antes terminava em 69, mas agora com o funk e o
arrocha vai até 100 fácil, fácil. O que precisa é ter ao seu lado a pessoa
certa, pois, tem essa meninada sarada que bebe, bebe e chega à cama se
transforma
-Pensei que fosse mais fácil e esses caras de
academias eram os maiores rufiões do mundo!
-Nada minha filha! Homem fortão cheio de músculos
é bom quando a gente vai fazer mudança. Carregam uma geladeira e um armário com
uma facilidade danada. Na cama são uns babacas narcisistas!
-Pode ter certeza Lucienne, que eu vou escolher um
cara legal, vou mandar ver seguindo suas instruções, e todas aquelas loucuras
que vejo nos filmes de sacanagens, que pensava tratar-se de loucas fantasias.
Quando eu era menina li uma frase que marcou em minha vida: “Não há maior
prazer do que dançar”. Por isso é que gosto tanto de dançar.
-Pois, quem essa asneira escreveu, vê-se logo que
nunca fodeu!
-Há! Há! Há! Você é doida mesmo! Mas, amanhã no
nosso revellion na praia, quando estiverem soltando os fogos, eu estarei
soltando a xoxota para iniciar o ano sendo uma mulher de verdade!
Noite do dia 31, todos se preparando para seguir
para a praia, onde seriam os festejos e as oferendas para Iemanjá, eu ainda
pensei brincando e sorrindo: Não vou comprar nem perfumes, nem espelhos para
ela. Vou dar de presente é o meu velho e enferrujado cabaço!
Entramos no carro de Mirelle, eu e mais duas
amigas e seguimos para a Cabana Sonhos de Verão, local que seria a base de toda
nossa festança. Ainda eram 22 horas quando chegamos, pois preferimos ir mais
cedo, uma vez que o trânsito sempre congestiona na avenida da praia, como
também estávamos sozinhas e seria importante chegarmos cedo, para nos
“arrumarmos” para uma noitada inesquecível. Sentamos em uma mesa bem localizada
e começamos a beber alguma coisa ao som do DJ que mandava ver, por enquanto,
músicas românticas e pop para ir dando clima ao ambiente!
Por incrível que pareça, com meia hora a cabana já
estava lotada e, ao lado de nossa mesa, sentou-se um casal e mais dois caras
com boas aparências, idade entre
Nem titubeei. De um salto, o abracei e começamos a
dançar “Emoções” de Roberto Carlos, canção digna para se iniciar uma esfregação
no salão, imaginando que no fim iria dar samba!
-Meu nome é Raul e o seu?
-Mirelle. Você é daqui de Ilhéus?
-Não sou de Porto Alegre e estou a negócios. Atrasei-me
com algumas coisas e tive que ficar aqui para passar as festas!
-E você é de onde?
-Sou de Itabuna, e todos os anos venho curtir a
“passagem” de ano aqui na praia de Ilhéus, que é uma maravilha!
Continuamos a conversar abobrinhas, rostinhos
colados e, algumas músicas depois, voltamos a nos sentar. E ele, juntamente com
os outros, fizeram a proposta para juntarmos nossas mesas. As meninas apoiaram
e nem deram maior importância ao fato, pois, como eram cobras criadas, já
estavam entrosadas com uns caras e dançavam numa esfregação tão grande que,
comparada com o “arrocha”, esta pareceria Ciranda Cirandinha. O casal da mesa
estava sempre dançando, o outro homem de nome André circulava direto pelo salão
e em volta da cabana, enquanto eu e Raul bebíamos, dançávamos e conversávamos,
demonstrando uma intimidade de meses.
Quinze para meia noite, como eu queria cumprir
minha promessa de começar o novo ano sem a rotulação de virgem, chamei Raul
para darmos uma volta pela praia, e fazer uma caminhada por lugares mais
sossegados e desertos, para admirarmos a lua e os fogos na hora da comemoração.
Senti que ele achou estranha a minha proposta, pois todo mundo sempre comemora
em conjunto, mas, mesmo assim, pegou uma garrafa de champanhe, dois copos e
saímos caminhando para um lugar longe da barraca, escuro, deserto e a areia
sequinha e limpa. Cenário ideal para desenrolar o que se passava em minha
cabeça. Embora não sendo mais uma menina, minhas mãos estavam molhadas de suor
pelo nervosismo daquela nova situação para mim!
Sentamos, ele colocou champanhe nos copos, e
deixamos do lado para brindarmos exatamente a meia noite. Aí, não me contendo
mais, comecei a beijar Raul e fui empurrando-o lentamente para trás, já
pensando em deitar-me sobre ele e começarmos o que planejei realizar.
Disfarçadamente, olhei para o relógio e faltavam cinco minutos para meia noite.
Nisso, ele calmamente se esquivou para o lado e disse:
-Eu tenho que lhe confessar uma coisa.
-Você quer me dizer que é casado? Para mim não tem
problema, pois será apenas uma noite de festa, alegria e prazer, e depois é
provável que nunca mais nos encontremos!
-Infelizmente a história não é essa. A verdade é
que sou homossexual e André, aquele rapaz que está na mesa é o meu caso há mais
de 10 anos, e eu não vou traí-lo, como também, embora você seja uma moça
bonita, não é exatamente o que realmente gosto. Me desculpe, mas, não deveria
ter alimentado o papo, porém, o casal que está conosco são os empresários que
viemos tratar de negócios e não queríamos dar bandeira para eles.
Nesse instante, além da puta explosão que deu em
minha cabeça, começaram a estourar os fogos, todos a gritar Feliz Ano Novo,
Boas Festas, etc, e Raul saiu em disparada dizendo que ia cumprimentar André!
Fiquei chorando sentada na areia, esperei por mais
de meia hora para acalmar os ânimos, e parar de ouvir os fogos e gritarias. Saí
andando de volta para a barraca, imaginando com que cara iria encarar o povo da
mesa e minhas amigas!
Felizmente, quando entrei no salão, olhei e vi que
a mesa deles estava vazia, somente na nossa estava uma das meninas, a Lucienne,
sentada no colo de um cara e dando o maior chupão do mundo na boca do rapaz!
Quando encostei, que ela me viu sozinha, com a
cara bastante assustada me perguntou:
-Mirelle cadê o Raul?
-Eu puta da vida, respondi: Deve estar por aí
tomando no cu!
Foi a resposta que saiu automaticamente da minha
boca, demonstrando como eu estava totalmente fora de mim. Depois dessa merda
toda e uma decepção desgraçada, fui para o carro dormir e esperar até de manhã
as meninas, como sempre, se darem bem!
Juro que passei o ano todo na fossa curando essa
desilusão, sem sair para lugar nenhum. Me segurei por esses seis meses, mas, até
o fim do ano esse cabaço vai para o espaço!
Podem esperar que depois eu conto.
*Escritor, Historiador, Cronista e Poeta!
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