Antonio Nunes de Souza*
Trabalhando
num jornal, responsável por reportagens investigativas, como não tinha nada de
especial naquele dia resolvi ir até a penitenciária do Estado, pedir licença ao
diretor e, aleatoriamente, escolher um dos reclusos para fazer um artigo ou
crônica, escrevendo sobre a sua vida, a razão da sua prisão, sua condenação,
etc. enfim, uma história que fosse esclarecedora para o público que, como
consequência, teriam maiores cuidados e se comportariam de uma maneira mais
adequada dentro da sociedade!
Depois
do assentimento do diretor, dirigi-me a secretária e, numa rápida “clicagem” no
PC, apareceu o nome de Fernando Caldas, desconhecido na roda da malandragem, mas,
segundo o delegado, tratava-se de um cidadão perigoso pela sua capacidade de
convencimentos e uma conversa bastante envolvente. Jamais foi violento com suas
vítimas!
Nos
sentamos numa sala fechada, lhe tiraram as algemas, pedi ao guarda que nos
deixasse a sós para que houvesse maior liberdade e imediatamente fui atendido.
Expliquei para ele a minha intenção em revelar uma história real nos jornais e
revistas, contada pela própria pessoa que vivenciou!
-Tudo
bem. Mas, como minha vida é longa nessa área de assuntos condenados pela
justiça, vou me ater apenas a razão que agora estou cumprindo pena e o que
aconteceu: Em frente a minha casa morava um casal, cuja mulher era de uma
beleza pecaminosa e tentadora, que ela, sabendo disso, trocava de roupas com as
janelas ou cortinas abertas, deixando sempre que a vizinhança admirasse aquele
corpão abençoado por Deus! Então...como não sou de ferro, comecei a dar algumas
“bandeiras”, sempre distribuindo uns sorrisos nas suas passagens, fazendo a
volta de carro passando por sua garagem, até que um dia tomei coragem em função
de um sorriso maroto que ela me deu, parei o carro, saltei, me apresentei e,
prontamente, a convidei para um chope e batermos um papo para nos conhecer
melhor. E não é que ela aceitou de estalo! -Nos encontramos ao meio dia,
tomamos chopes, conversamos e foi mais fácil que eu pensava. Aí marcamos para
aquela noite, e ela me disse que seu marido tinha viajado, então poderíamos
ficar à vontade, e concidentemente, minha mulher estava no Rio visitando seus
país e só voltaria em uma semana. Pensei comigo mesmo: Puta merda, acertei de
primeira com essa mulher deslumbrante, que eu não sabia que era tão receptiva! -Aí
ela me disse que adorava umas fantasias nas suas noites eróticas, e que naquela
noite, gostaria que eu levasse uma roupa de Papai Noel e um saco com
brinquedos, que ela iria se vestir de criancinha e seria bem divertido. Dei um
sorriso e pensei: pra lhe comer eu me visto até de mulher maravilha. Nos
despedimos e eu fui correndo comprar uma roupa de Papai Noel, um saco vermelho
e, numa loja de 1,99, comprei um bocado de bugigangas chinesas, deixando minha
fantasia pronta para a noite maravilhosa que me esperava!
-Saí
de casa já vestido com meu disfarce, saco nas costas e, na hora combinada,
saltei do carro rapidamente e entrei para o hall da casa, tocando a campainha.
Rapaz, quem veio me atender foi o marido da desgraçada, que havia chegado antes
do previsto, e ela foi gritando logo para livrar sua cara: Esse vizinho sem
vergonha, me ligou dizendo que tinha uma surpresa para mim, mas, nem liguei.
Agora ele aparece aqui vestido de Papai Noel. O marido apanhou um revólver numa
gaveta, apontou para mim, mandou eu não falar nada e, sem pena, me deu um ponta
pé no saco, não o de brinquedos, foi no meu mesmo. Juro que vi estrelas e
passarinhos rodando em volta da cabeça, meus ovos pareciam que iam sair pela
boca e, antes de desmaiar, ainda senti outro chute no mesmo lugar, que fez eu
me cagar e mijar ao mesmo tempo, mesmo estando desacordado!
-Resultado:
O cara chamou a polícia, alegou que eu quis violentar a sua mulher usando um
disfarce natalino e, com certeza, poderia até matá-la por saber quem era ele,
ou quem sabe, roubar alguns objetos da casa. Quando acordei na UTI do hospital,
meu saco parecia uma bola de basquete, sentia dores da cabeça aos pés e, na
minha frente, vi dois policiais e o delegado que me disse: Descarado você está
preso, vai ser indiciado por quatro crimes e vai ter vários anos atrás das
grades, para se vestir de Papai Noel nos dias de Natal da penitenciária!
-Minha
mulher me abandonou, perdi meu emprego, gastei todo dinheiro da divisão da
venda de minha casa com advogados e, como não tinha testemunhas, a palavra do
casal era o forte da minha condenação. Estou aqui há três anos e daqui a mais
dois deverei conseguir liberdade condicional!
-Por
essa razão é que eu odeio NATAL!
*Escritor,
historiador, Cronista e Poeta!
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