Antonio
Nunes de Souza*
Seria
mais lúcido e normal, eu estar lhe informando, com detalhes, as mais diversas
maneiras e comportamentos que nunca lhe estressasse, dando uma vida linda,
sadia e feliz! Mas, sinceramente, qualquer vivente ajuizado sabe de cor e
salteado o que se faz necessário para que possamos viver pacificamente feliz,
sem ter que enfrentar as agruras do inferno, vivendo na terra!
Ao
acordar, Carlos Eduardo, já cheio de preguiça para ir para o trabalho, vai
tomar um banho e, como acontece ultimamente, está faltando água. Putíssimo da
vida, pega uma garrafa de água mineral para lavar o rosto e, por azar, todas
estão no refrigerador e ele tem que lavar o rosto com água gelada. Claro que
não é nada agradável estando ainda com o corpo quentinho. Depois desse pequeno
asseio. Vai até a janela olhar o tempo e vê que está o maior toró e as ruas
alagadas. Fica revoltado, sem atinar que, essa bendita chuva está enchendo os
mananciais para que venha a água encanada em abundância. Veste uma calça de
tropical e uma blusa de lã com mangas compridas para enfrentar o tempo e sai,
como de costume, vai tomar café na lanchonete em frente e percebe que está
fechada em função da água da chuva ter subido o passeio, e invadido o recinto
em quase um palmo.
Vai
até a garagem pegar o carro e vê, logo de cara, um dos pneus da frente vazio.
Provavelmente, furado! Não pode chamar o porteiro para ajuda-lo, pois o mesmo
está preocupado em tirar a água que está avançando pela entrada.
Então...todo
pronto e a caráter, começa com a operação socorro, suando pelos esforços e, ao
mesmo tempo, a chuva começou a passar e abriu um sol daqueles causticantes e
inesperados. A roupa que estava vestido, obviamente, incomodando e começando a
grudar no corpo. Olhando o relógio viu que já está atrasado para uma reunião
com a diretoria e resolve entrar no carro e seguir para a empresa. Liga o ar
condicionado, se refresca um pouco e, como uma miragem, aparece em sua frente
um grupo de policiais, armados fortementes, parando todos os carros e fazendo
vistorias. Fica louco da vida, se esquecendo que, se não tem polícia, os
ladrões e bandidos passam livremente, se tem polícia as pessoas se revoltam
achando que estão atrasados. Com o trânsito travado pela blitz, olhou para o
relógio e já era 09:45 e a reunião era as nove horas. Pegou o celular e ligou
para a secretária avisando as razões do atraso e que ela justificasse sua
ausência.
Depois
dessa luta toda, chegou ao local da empresa e teve que dar umas 5 voltas no
quarteirão para encontrar uma vaga para estacionar. Subiu o elevador e, por
ironia do destino, faltou energia e o grupo gerador do edifício estava em
manutenção e demoraria pelo menos quarenta minutos. Mas, por sorte, a energia
voltou em dez minutos. Chegou a sua sala, sem tomar nem um cafezinho até aquela
hora, pegou seu material relativo aos assuntos que deveriam ser tratados e
seguiu para a sala de reunião. Chegando lá a reunião estava acabando e, entre
os assuntos que foram tratados, um deles seria a contenção de despesas com o
pessoal, restrições de gerentes e, lamentavelmente, ele foi um dos despedidos
sumariamente. Boquiaberto e puto da vida, no auge do estresse, pegou a pasta
com toda papelada, jogou na cara dos diretores, mandou todo mundo para puta que
pariu e, sem nem vacilar, correu para a janela e se atirou do décimo sétimo
andar.
Lá
embaixo na rua estava seu corpo todo quebrado, lavado de sangue e, em volta,
entre as pessoas da rua, os funcionários da empresa comentavam. “Que loucura
meu Deus, apenas por que foi despedido ele faz uma bobagem dessa!”
Até
hoje, ninguém sabe o que passou com Carlos Eduardo aquela manhã de primavera,
para que o deixasse tão estressado ao ponto do desespero! São coisas do mundo
moderno e o que, idiotamente, chamamos de progresso e melhoria de vida!
*Escritor
– Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com
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