segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

A mulher que gosta de mulher!


                                                                                                                Antonio Nunes de Souza*

Há muito tempo, ainda na minha saída da puberdade para adulto, um colega apontou para uma bonita garota que passava no outro lado da rua e, quase cochichando, disse para mim: Aquela dali de vestido azul gosta de mulher!

Ao acabar de falar, ficou olhando para mim com os olhos esbugalhados, esperando minha reação. Mas, como ele não esperava, apenas olhei para moça com meiguice, admiração e ainda com um sorriso nos lábios que denotava estar diante de uma normalidade.

-Não é uma vergonha?

-Não acho não!

-Você está maluco, cara!

Essa foi e ainda é a expressão idiota dos puritanos e falsos moralistas com relação a esse fato. Mas, para mim, já conhecedor desse ser maravilhoso, encarava e encaro tal preferência com a maior naturalidade, pois não conheci durante toda minha longa vida, nada mais agradável e gostoso do que a mulher, mesmo com seus efeitos colaterais trabalhosos, caros e possessivos. E, gostar de mulher, prova que tal pessoa tem um ótimo gosto e sabe escolher o que é deveras bom.

Se você parar para pensar direito e com imparcialidade, vai chegar a conclusão que o péssimo e de mal gosto é gostar de homem! Eu por exemplo, não fosse as necessidades profissionais, os encontros nos eventuais drinks para falar de mulher, extirparia da minha vida esse segundo sexo (o primeiro é o feminino, claro!), não dando a ousadia de nem dar um bom dia ou boa tarde. Boa noite muito pior!

Os homens, na sua grande maioria, em função da sua criação machista milenar, têm a arrogância e o ar de superioridade estampados na cara, provocando um comportamento nada humilde, desejando sempre que a mulher, além de se submeter aos seus caprichos, seja uma empregada de luxo (cama, mesa e banho), e muitos ainda querem pagar mal por esses serviços, não proporcionando o conforto que elas, regiamente, merecem. Ainda têm a ousadia de, estupidamente, classifica-las como seres inferiores.

Se eu pudesse, todas as vezes que encontrasse uma mulher que gosta de mulher, daria um bouquet de rosas, um beijo na testa e diria: Tô com você até a morte! Eu também adoro mulher!

Como eu posso ter desprezo por alguém que tem gosto semelhante ao meu?

Fico abismado é que elas só tenham descoberto isso ou colocado em prática com maior assiduidade ou dado o grande grito de liberdade, do meado do século passado pra cá. Eu sei que esse negócio vem rolando em surdina há séculos. Mas, com medo das represálias por parte de uma sociedade falsa e tipicamente machista, somente depois da revolução dos anos 60, elas, corajosamente, resolveram encarar o problema de frente (de frente sim, mas, problema nunca), chutando os pênis pra cima sem ter pena das dores nos sacos.

Vocês podem estar espantados com o que estou dizendo, mas, qualquer mulher que tenha um relacionamento íntimo com outra mulher, sem que existam inibições, complexos de culpas e muito desejo, nunca mais vai querer saber de homem fungando em seu cangote, tateando nos lugares errados e ainda tendo suas ejaculações precoces, esquecendo-se de que a mulher também merece sentir prazer. E pior! Ainda saem cantando de galo dizendo aos amigos que são bons de cama.

Mulher nenhuma merece isso!



Vocês não sabem como me sinto bem quando vou a uma festinha com uma amiga de igual preferência, que ao chegarmos, vislumbramos uma série de gatinhas assanhadas e loucas pelo prazer. Cochicho logo: Nós hoje vamos nos dar bem!

E, como resposta, vejo estampado em seu rosto um sorriso maroto de cumplicidade. Aí, já sabe, tomamos o primeiro drink e vamos à luta para conseguir a paz espiritual e corporal.

Quando saio nas baladas da vida, sempre acompanhado com amiga de gosto similar, podemos nos ajudar mutuamente, pois quando visualizamos alguém interessante e alimentamos um papo inicial para chegarmos aos nossos objetivos, e percebemos que a mulher está em outra que não é a nossa, um ou outro encaminha a vítima para o parceiro da preferência desta. E é uma delícia esse processo de triagem e colaboração espontânea. Sempre nos damos bem, pois não existe aquele ar competitivo existente quando você vai a algum lugar acompanhado de outro homem. Ele quer logo comer todo mundo e deixar você a ver navios, somente para provar que é o tal.

E ainda tem mais uma coisa bastante agradável que, eventualmente, ocorre: Quando nem eu nem minha amiga não conseguimos nada nas caçadas das baladas e os drinks nos sobem à cabeça, ainda a convenço de dar uma comigo como se fosse uma penitência pela nossa falta de habilidades nas conquistas. Aqui pra nós, de qualquer forma sempre me dou bem fazendo o papel de genérica para ela.

Jamais temerei essa concorrência imaginando que nunca mais terei mulher, pois sei que sempre existiram as burras que preferirão os homens. E, como para uma boa transa a inteligência não é tão preponderante, não tenho nenhuma queixa a fazer.

Muito bem mulheres sábias continuem gostando de mulheres que eu, orgulhosamente, continuarei fazendo o mesmo.

*Escritor - Membro da Academia Grapiúna de Letras - AGRAL - antoniodaagral26@hotmail.com                                       

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