Mistérios da meia noite!
Antonio Nunes de Souza*
Ele, como um esperto e traquino gato, sempre à meia noite, camuflado com seu capote escuro, seguia para uma grande e linda casa meio isolada do centro, mas, considerada uma das moradias mais belas e chiques da modesta e pequena cidade do interior!
Esse indivíduo era Ferdinando Caldeiras, tranquilo, sagaz, voz mansa e, de uma inteligência admirável que, além de fazer poemas, filosofava da vida com uma desenvoltura dos profetas dos livros. Um homem envolvente, com características singulares, capazes de conquistar gregos e troianos, principalmente as gregas e troianas. E, foi com essa conversa e sapiência, que conquistou secretamente a mulher do coronel da cidade. Mulher jovem e bonita, já do segundo casamento, pois ele ficou viúvo cedo e, na cidade grande, conheceu essa moça pobre e carente, levou-a para sua cidade, casando-se de papel passado e tudo! Uma festança que rolou por todo fim de semana, com muita comida, bebidas, danças e cantorias. E não é que o Ferdinando também cantava e tocava violão! Pois o danado abriu o peito com o repertório de Caetano e Djavan, entrando por Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, chegando a Gil e Milton Nascimento. O cara tinha bom gosto e sabia ser romântico na hora que desejava. E, com isso, a mulher se derreteu toda, lógico chegando a ficar gamada no especial homem da festa. Mas, mesmo com essa admiração de início, a coisa somente começou a acontecer, alguns meses depois, em função do coronel, a pedido da sua linda mulher, começou a organizar saraus que dobravam pela madruga a dentro, sem faltar queijos e vinhos entre as conversas e discursões e, claro, as cantorias de Ferdinando e outros convidados menos habilitados, mas, muitos competentes!
Toda essa lembrança chegou na minha mente, olhando para a sepultura do meu amigo, que acabara de ser enterrado, pois, numa dessas suas benditas e pecadoras investidas amorosas, foi flagrado pelo coronel que, assustado, traído e envergonhado, descarregou seu revolver matando os dois amantes, entrelaçados em sua própria cama! A mulher foi transportada para sua cidade, onde foi enterrada com a presença dos seus familiares!
O coronel, respondendo em liberdade, pois tratava-se de um crime de “lavagem de honra”, provavelmente, seria absorvido!
Terminada a cerimônia, com a presença de poucas pessoas em respeito ao coronel traído, virei as costas e segui meu caminho, já imaginando que seria prudente da minha parte, também parar de comer a mulher do juiz de paz. Pois, quem sabe se ele não poderá, também, fazer uma guerra?
*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com
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