Dia dos finados!
Antonio Nunes de Souza*
Se todos tem seus dias comemorativos, por que não os mortos?
Claro que, os criadores religiosos, se preocuparam também com os que foram e, os que ficaram, aproveitaram a deixa para melhorar suas atividades comerciais, vendendo suas belas e diversificadas flores, velas, jarros e plantas ornamentais, além da área de serviços que, tranquilamente, ganha sua grana extra fazendo as limpezas e faxinas nos túmulos e catacumbas. Parecem tarefas fúnebres e assombradas, mas eleva o movimento comercial, quase igualando-o aos dias das homenagens as noivas, crianças, mães, namorados, etc., perdendo, obviamente, para o natal, já que esse dia começa a arrecadar em suas vendas por mais de um mês de antecedência. É o recordista com suas mídias e tentações, inclusive porque, sua abrangência, atinge todas as outras vertentes, excetuando os pobres mortos que já se foram!
E, nesse dia, morre, inesperadamente, no auge de seus cinquenta anos, o pobre do Mirinho, homem culto, pacato, bom humor, tranquilo, ótimo aspecto e, aparentemente, uma saúde de aço e invejável. Morava em um sítio pertíssimo do centro da cidade e, com os filhos terminando as faculdades em Salvador, somente sua esposa era companhia, além, claro, de Zezinho seu empregado “faz tudo”, pessoa de pouquíssimos conhecimentos, porém, trabalhador, educado, simples e fiel aos seus patrões em todos os vinte anos que com eles trabalhava!
Zezinho muito tristonho, deixava cair algumas lágrimas, eventualmente, quando olhava para o caixão exposto na sala, cercado de amigos, parentes e paroquianas que foram colegas da adorada mãe do falecido. E, como Mirinho tinha ido deitar normalmente e pela manhã amanheceu morto, para todos que chegavam e davam os pêsames perguntado sobre a morte prematura, a viúva dizia: minha filha, ele morreu como um passarinho! E, cada pessoa que chegava, pela lógica curiosidade, perguntava como aconteceu. A pobre e chorosa viúva sempre repetindo entre lágrimas: meu Mirinho morreu como um passarinho, coitado! Zezinho, também ao lado do caixão, ouvia a observação da viúva e não entendia bem o que significava tão observação, já que todos ouviam, baixavam a cabeça e davam os pêsames!
Aí, afobadamente, chega o prefeito da cidade, saltou do carro e, vendo Zezinho empregado de confiança da família, foi logo perguntando: Zezinho, de que foi que ele morreu? E, na sua santa ignorância e simplicidade, depois de ouvir várias os dizeres da viúva, respondeu: “Doutor ele morreu como um passarinho. Ou foi indigestão de alpiste ou então uma badogada!”
O prefeito não pode conter o riso e foi olhado por todos como alguém que não estava considerando seu bom amigo, colaborador e bem falante! Mas, depois esclareceu a razão, pediu desculpas e enviou flores e uma linda capela como uma lembrança inesquecível do glorioso Mirinho!
*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com
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