quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Por que tenho tanto medo?


                                              Antonio Nunes de Souza*
Sempre que nada tenho a fazer, escolho algo fora dos meus padrões normais de comportamento, no sentido de ver e ouvir coisas inusitadas para conhecer novas estórias dessa maravilhosa vida louca.
E hoje, casualmente acertando o meu rádio/relógio, resolvi sintonizar em uma emissora qualquer e comecei a ouvir um programa dedicado a conselhos sobre relações amorosas. Como acho engraçadas essas cartas enviadas aos locutores pseudos psicólogos, comecei a prestar atenção a o que ele dizia:
Com um fundo musical bem romântico, começou a falar: Na nossa programação de hoje dedicaremos a responder a carta da ouvinte Sara Bernadete, moradora do bairro da Liberdade que, com muita preocupação, relata o seguinte:
Prezado J. Castro,
Tenho 22 anos, sou solteira, trabalho na secretaria de educação, tenho boa aparência e estou fazendo faculdade, mas, infelizmente, não consigo arranjar namorado porque me preocupa muito relacionar-me com um rapaz, em função dos perigos que podem causar os contatos que tenho que me submeter durante os nossos encontros. Posso exemplificar os diversos riscos que correrei, assim que começar um namoro. Se ele pegar em minhas mãos sem que as tenha lavado antes, imagino logo que ele está me passando uma série de bactérias trazidas pelos lugares que ele andou pegando pelo caminho, deixando-me contaminada com possibilidade de um unheiro ou alguma doença de pele. Se ele me beijar (ai meu Deus que nojo!), já imaginou quantos estafilococos ou bacilos ele pode ter na boca e, através da saliva, debilitar a minha saúde com uma tuberculose, hepatite ou uma tremenda bronquite? Ave Maria! Não quero nem pensar! Isso sem falar se ele tiver também alguns dentes cariados, mal hálito e implantar umas placas bacterianas em meus dentinhos. Chega até a me dar arrepios!
Pior ainda será se eu conseguir suportar esses contatos iniciais e, por ironia do destino ou uma loucura momentânea, eu vá para a cama com ele (só em pensar me dá náuseas) e tivermos uma relação sexual. Claro que vou exigir preservativo, mas, se a camisinha romper? Já imaginou a tragédia? Ele poderá ter uma porção de doenças transmissíveis! Tem algumas que ainda são curáveis, mas e a herpes, sífilis e a mortal aids? Só em escrever já estou suando e morrendo de nojo e medo!
Portanto, caro locutor, gostaria de ouvir sua opinião se seria justo eu solicitar aos rapazes que se aproximam de mim, uma bateria de exames clínicos e laboratoriais, atestado de saúde, justamente com um atestado psíquico de sanidade mental (imagine se ele for louco e querer me submeter a urgias satânicas e masoquistas?)
Creio que não estou sendo exagerada, apenas uma modesta precaução básica que, com certeza, me proporcionará um relacionamento bom e saudável.
Estou ansiosa por sua abalizada resposta!
Depois de lida essa carta, com um fundo musical a altura, o locutor analista/psicólogo começou o seu comentário abalizado (?):
Querida e estimada ouvinte, facilmente percebe-se que você é uma pessoa bastante previdente, chegando as raias de certo exagero que, para não contrariar seus cuidados, sugiro que não tenha relacionamento de nenhuma espécie, esteja sempre usando luvas, abolir, definitivamente, as preliminares de um namoro ou transa, comprar um ótimo vibrador auto-lavável para suas relações sexuais e se adaptar aos seus orgasmos solitários sem os perigos que hoje lhe afligem. Acredito que você será uma moça feliz, livre dessas doenças desastrosas que são disseminadas pelos homens que não se cuidam.
Qualquer dúvida volte a me escrever que estarei ao seu dispor!
Aí o fundo musical foi aumentado e o divertido e absurdo programa continuou, com outra carta de uma consulente!

*Escritor (Blog Vida Louca – antoniomanteiga.blogspot.com –                 antonioda agral26@hotmail.com)

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