Antonio Nunes de Souza*
Preta
como as penas da graúna, bela, sedutora e sensual, sambava na roda, requebrando
com as cadeiras lindas e bem torneadas, seu sensual jeito faceiro, gestos
estudados e hábitos herdados dos seus antepassados africanos, tudo isso fazia
com que estivéssemos todos embevecidos, e de bocas abertas, sem contar as
excitações, provocadas pelas cadências dos seus passos, milimetricamente,
dentro daquele ritmo gostoso do maravilhoso samba de roda!
Essa
era a Maria Tereza, Terezinha de dona Zefa, a parteira do pobre bairro que,
pelos seus moradores, parecia ser mais uma comunidade negra que um reduto
urbano de Salvador!
Mas,
como sabemos todos, a Bahia pelas graças de Deus, foi abençoada em receber uma
enorme leva de escravos, que pelos seus trabalhos, coragem e sangue guerreiro
que corriam e correm em suas veias, praticamente construíram uma grande parte
de nosso Estado e, gostosamente, nos presentearam com as mais deliciosas
iguarias, excitantes danças, trejeitos, sensualidade, e não podemos negar, um
pouco de safadeza gostosa com suas liberdades sexuais, nada exageradas, porém,
cultuadas com muito carinho e menos hipocrisias!
A
enorme roda de samba alimentada por atabaques, pandeiros, violas, violões,
berimbaus e cuícas, era simplesmente uma tentação para que todos, batendo
palmas e cantando os refrões, sacudissem seus corpos e, eventualmente,
entrassem no meio para dar os seus passinhos, mostrando que a nossa tradição é
de alegria, encanto e felicidade, herdados tudo isso desse povo nobre e
encantador vindo da África!
As
barracas armadas para esse festejo vendiam cervejas, capetas, refrigerantes e,
logicamente, as caipirinhas e cachacinhas puras para ampliar as animações,
despertar os corpos e espíritos, e animar mais ainda o que já era um verdadeiro
e maravilhoso samba de roda, mais conhecido no passado como: “festa de largo”!
Todos
esses hábitos e costumes, herdamos dessa etnia valorosa e importante, que mesmo
não sendo das suas vontades, para aqui foram trazidos, maltratados, humilhados
e castigados, suplantaram todos esses sofrimentos, enfrentaram e enfrentam uma
discriminação nada velada, apenas tolerada em função das famas e das riquezas
e, orgulhosamente, estão mostrando ao mundo que são iguais a todos, faltando
apenas as mesmas oportunidades!
Tomando
minha cerveja diretamente na latinha, olhava com gulodice para a atraente e
empinada bunda de Terezinha de dona Zefa, pedindo a Deus que, naquela noite, eu
fosse o contemplado com as suas valorosas carícias no fim da festa, indo para
uma pensão modesta do bairro, e recitar uns versos que espelham o retrato fiel
da nossa querida Bahia:
“Camas
de lonas ringindo
Corpos
suados entrelaçados
Bahia
de todos os Santos
Bahia
de todos os pecados!”
*Escritor,
Historiador, Cronista, poeta e um dos membros fundadores da Academia Grapiúna
de Letras!
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