Antonio Nunes de Souza*
Mesmo com o passar dos anos, sempre lembramos de acontecimentos marcantes que ocorreram em nossa vidas. Esse que narrarei é de estarrecer e deixar muitos de boca aberta, imaginando impossível!
Não posso dizer que tinha uma vida tranquila, mas, mesmo sendo socorrista do SAMU por mais de cinco anos, sentia-me feliz por estar, em dias alternados, subindo e descendo pela cidade, atendendo pessoas!
Terminei meu curso de enfermagem com 23 anos e logo fiz um concurso estadual e conseguindo esse emprego, que embora não tenha uma remuneração boa, dava para cobrir minhas despesas em um apartamento de dois quartos, juntamente com meu marido, alimentação razoável e alguns modestos lazeres!
Jamais poderei esquecer o dia 9 de setembro de 2007, exatamente as 21:14 horas, recebemos um chamado para atender um acidente ocorrido na Av. Paralela. E, como é nosso hábito, costume e obrigação, imediatamente partimos para o local, no sentido de dar atendimento de urgência, conforme a solicitação telefônica!
Ao chegarmos, deparamos com um carro de luxo que havia colidido com um poste, entre as ferragens estava um homem de meia idade, cabelos grisalhos, com o corpo banhado em sangue, desmaiado e sem nenhum movimento que demonstrasse estar vivo. Eu e o paramédico providenciamos retirá-lo do carro, colocando-o na maca e, rapidamente, dentro da ambulância. Logo constatei que ele estava vivo, porém, com fratura em um dos braços, costelas, na cabeça via-se um corte, que estava provando um sangramento constante. Vi que sua respiração estava muito fraca, dando a impressão inicial que estava tendo um AVC e uma parada cardíaca. Comecei a fazer massagens no seu tórax, coloquei a máscara de oxigênio, e com uns dois ou três minutos, notei que ele não estava tendo reações e teve uma parada cardíaca. O paramédico fez uma cara triste e pára a operação, mas, mesmo nervosa, apanhei o desfibrilador e, maquinalmente, dei uma carga em seu tórax e nada de reação. Já nervosa e tensa, voltei a dar outra aplicação, desta feita mais forte e, como um milagre, seu coração voltou a bater, sua respiração foi se normalizando, dando sinais claros de uma recuperação. O paramédico olhou para mim com um sorriso e disse: você foi uma heroína, pois, eu já tinha perdido as esperanças. Sorri e disse: Nunca perco as esperanças!
Chegamos no pronto socorro e, curiosamente, ele voltou a si e fracamente pediu que o levasse para o hospital Aliança, que preferia um atendimento em um local mais adequado. Embora não sendo nossa obrigação, resolvemos atende-lo, pois, pelo veículo de alto luxo e as característica da pessoa, percebia-se que tratava-se de alguém especial!
Seguimos e no caminho, o paramédico falou para ele o perigo que passou, sendo graças a minha obstinação e profissionalismo, ele ainda estava vivo. Ele, mesmo com os olhos fechados, deu um fraco sorriso de agradecimento, não deixando da dar alguns gemidos de dor em função dos ferimentos. Limpei o seu rosto com um pano úmido e pude ver que era um senhor de mais ou menos sessenta e cinco anos. Chegamos, demos entrada, falamos que tinha sido uma solicitação dele, pegamos em sua carteira seus documentos, que dentro tinha cartões de visita, onde diziam que ele era engenheiro chamava-se Andreas Mercury, Diretor presidente da Construtora Andreas Edificações Ltda., acabei de ver que se tratava de um homem rico e de fino trato!
Deixamos ele, peguei um dos cartões para, na manhã seguinte, ligar para a empresa comunicar onde estava o Eng. Andreas internado, e falar do acidente. Essa parte não nos compete, porém, como me sentia um salvador de sua vida, preocupei-me de lhe dar um atendimento até fora dos padrões!
Mas, curiosamente, quando ia já ia saindo do plantão pela manhã, veio uma ligação do hospital Aliança, querendo falar com a enfermeira que deu entrada no senhor Andreas na noite anterior. Achei super estranho, mas, atendi a ligação e tratava-se de uma solicitação do referido que senhor, que eu fizesse a grande gentileza de ir até o hospital, que ele desejava falar urgente comigo. Achei esquisito, pois, diariamente atendo pessoas e, depois de hospitalizadas, quase nunca tenho notícias dos resultados!
Mas, como tratava-se de alguém especial, peguei meu velho carrinho e segui até lá. Apresentei-me na recepção, falei da solicitação e, prontamente, uma moça que estava ao lado, disse ser a secretária particular do Dr. Andreas, e levou-me a presença dele no apartamento. Entramos, o cumprimentei, ele mandou-me sentar, seu apartamento era de luxo, com sala de estar, e logo perguntei a razão do meu chamado, se havia algum problema, etc., e fiquei aguardando sua explicação. Ele deu um sorriso e começou a falar: Logo cedo, liguei para o paramédico e ele disse-me enfaticamente que você salvou a minha vida, que, ele mesmo, já tinha perdido as esperanças, quando você, obstinadamente, pegou desfibrilador e fez aplicações imediatas, fazendo com que eu voltasse a respirar e meu coração começasse a bater. Respondi que tudo se tratava da minha obrigação profissional, e que nas horas que vemos pessoas debilitadas, temos o dever de fazer o possível e impossível, para resolver as questões!
Ele então, rebateu dizendo que eu era alguém muito especial para ele, em função do meu comportamento e, sem sombra de dúvidas, não fosse a minha perseverança, ele não estaria ali conversando, com apenas duas costelas e um braço quebrado, além de uns pontos na cabeça. Dei um sorriso e disse: Graças a Deus o que poderia ser uma tragédia, transformou-se em um acidente de menores proporções!
E, para minha maior surpresa ele me disse que era grego, tinha vindo para o Brasil há vinte e cinco anos, era viúvo, não tinha filhos e, como praticamente não tinha parentes na Grécia, ele como foi sempre uma pessoa solidária e reconhecida ao povo desse país que o acolheu, e deu a sua grande independência, sempre que se deparava com alguém merecedor, se sentia feliz em fazer alguém feliz, principalmente quando é algo afeto a minha própria vida. E, assim sendo, vou lhe dar um presente para que você nunca se esqueça de mim, pois, eu jamais me esquecerei de você!
Nada Dr. Andreas, não precisa de forma alguma, basta eu saber que o senhor está bem (falei achando que ele estava pensando em me dar algum dinheiro). Aí ele disse: Fique tranquila que estou fazendo algo que pouco significa para mim, mas, tenho certeza que seja muito bom para você. (Tornei a imaginar que ele mandaria sua secretária me dar um cheque de mil reais, que achei que seria um absurdo, mas, teria de não aceitar). Ele olhou para minha mão esquerda e disse: Estou vendo que você é casada e, para sua maior felicidade vou lhe presentear com um apartamento de três quarto na Barra, que acabei de construir, e já está prontinho para se morar. Vá com minha secretária até lá, escolha o andar, passe seus documentos para ela que, rapidamente, providenciará a escritura!
Debilitada e super cansada do plantão da noite, simplesmente, desmaiei e caí no sofá!
A secretário chamou alguém, me socorreram, viram que apenas uma reação de emoção, me deram um café e em alguns minutos, já estava restabelecida e Dr. Andreas rindo com a minha reação!
Depois de chorar de alegria, fazem milhões de agradecimentos, fomos ao edifício lindo, com piscina, salão de festas, academia, enorme [u1] área de lazer e de frente para o mar. Escolhi, ainda pensando que era um sonho, foram feitas todas tramitações, recebi as chaves, meu marido até hoje, mesmo sem dizer, sinto que ele tem uma desconfiança que tive no passado algo com Dr. Andreas, porém, somos felizes e, todos os anos, no aniversário ele nos convida para ir jantar em sua mansão no morro do Ipiranga!
Parece uma história de novela, mas, graças a Deus, aconteceu comigo, bastando apenas por ter sido responsável e agido com amor e profissionalismo em meu trabalho!
Estou aqui de cima olhando meus dois filhos tomando banho na piscina, o mais velho Maurício e o caçula Andreas!
*Escritor- Historiador- Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-ntoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga,blogspot.com
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