Antonio Nunes de Souza*
Com essa pandemia miserável, fiquei desempregada, endividada, presa em casa e, logicamente, com um puto medo de me contaminar nas idas ao mercado e a caça de emprego!
Não digo “imagine vocês”, pois sei que essa vida cruel, todos estão passando, principalmente os pobres batalhadores, que trabalham em troca de uma razoável subsistência, pois, para os ricos, apenas ficam um pouco menos ricos temporariamente, porém, passando do bom e do melhor em seus lindos apartamentos, ou belas mansões!
Vê-se claramente que a desgraça quando atinge, 90% é nas costa do coitado do assalariado que, ao perder seus empregos, passam a comer ovo com pão, ou com farinha, vendo seus filhos tomando café preto com um simples bolachão!
Esse preambulo é somente para retratar o que acontece, quando estamos desesperas a procura de trabalho, ou emprego, as propostas que enfrentamos e, muitas vezes, somos obrigadas a ceder, em função das urgentes necessidades!
Apenas como ilustração, vou contar o que me aconteceu a semana passada, quando fui a uma empresa de informática ver a possibilidade de trabalhar lá, já que tenho uma experiência grande na área de computação, em função de vários cursos que fiz há dois anos atrás!
Chegando, me apresentei no balcão, falei das minhas intensões e aguardei numa sala, que chamassem para eu me apresentar no departamento de RH (relações humanas).
Passados uns vinte minutos, uma moça veio e me chamou para acompanha-la até o gerente do RH.
Nos cumprimentamos e ele mandou que sentasse em frente a sua carteira e, logo em seguida, pegou meu currículo leu e começou a fazer perguntas alusivas a função pretendida, algumas de cunho pessoal, até que disse que eu tinha aptidões para a vaga que estava sendo criada, que dentro de uma semana eu deveria começar. Senti meu corpo tremer de emoção, pois, no momento, um emprego era a coisa mais importante da minha vida!
Aí, terminada a entrevista, ele sem nenhuma cerimônia, sem mesmo fazer um convite e esperar que eu decidisse que aceitava ou não, foi incisivo e disse: Vou pegar você as 21 horas para nós jantarmos comemorando seu emprego. Um abraço e até a noite. Meu endereço ele já tinha ciência através do meu currículo!
Fiquei petrificada por essa proposta inesperada e sem sentido, pois, com certeza essa atitude não fazia parte das minhas obrigações empregatícias, porém, como dizer não, sendo sujeita a não ser simpática e gentil facilitando minha admissão?
Com meus critérios de comportamentos, imaginei que não passaria de um jantar, talvez algum flerte e depois estaria tranquila em casa. Mas, meu pensamento foi de uma idiota, pois, simplificando, digo para vocês que Rogério (esse era o seu nome), assim que pagou a conta e fomos para o carro, foi logo determinando que nós iriamos a um motel para selar a noite!
Fiquei putíssima com a proposta e, sem saber o que fazer, em função do meu emprego, fiquei calada, numa atitude de quem consente, seguindo ele com a maior tranquilidade!
Chegamos, entramos, transamos, porém, eu bastante tensa e revoltada, me prostituindo em função da situação e minhas necessidades!
Voltamos, ele despediu-se deixando-me em casa, que já entrei com lágrimas nos olhos, pedindo perdão a Deus, porém, com uma pontada de alegria, por ter conseguido um emprego, que começaria a trabalhar em uma semana!
Pois, para que vocês fiquem estarrecidos, quatro dias depois recebi uma telefonema da empresa, comunicando que a vaga que eu pretendia foi ocupada por outra pessoa. E que, caso surgisse outra, eles mandaria um e-mail me requisitando!
Isso foi como uma facada no peito, pois, depois de me submeter aos capricho do canalha gerente do RH, provavelmente, deve ter saído com outra melhor na cama que eu e, consequentemente, a escolheu!
Essa é uma realidade cruel, que nós mulheres temos que nos submeter a assédios e abusos cotidianamente, no sentido de conseguir realizar nossos sonhos. O sexo, inegavelmente, passou a ser um passaporte. E vale dizer que não é uma atitude em função da pandemia, esse comportamento tornou-se normal e comum que, tranquilamente, já está oficializado o antigo: “Ou dá ou desce!”
*Escritor-Historiador-Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com
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