Antonio Nunes de Souza*
Arredio como sou, já habituado as minhas solidões propositais, geralmente não saio para fazer festejos nessas datas, sagradas, ou profanas, preferindo a paz que só encontramos, com certeza absoluta, em nosso lar!
Mas, nesse natal, por uma insistência grande dos avôs de Billy, não tive como dizer não, ainda mais por se tratar de pessoas que tenho o maior carinho e afeto, mesmo não os vendo normalmente. Uma prova cabal que as distâncias não interferem nas amizades, quando essas são sinceras!
Passei antes na casa da minha irmã para uma rápida visita e segui para festejar um natal com a família do jovem Billy, que na verdade eu nem o conhecia, mas, pelo seu avô João, já tinha conhecimentos das suas peripécias e traquinagens dentro e fora de casa, provavelmente pelo grande mimo que é tratado por todos da família. O danado é meio histérico, barulhento e faz a maior festa dando pinotes nas pernas e nos colos dos que vão se aproximando dele. Muito divertido e, logicamente, prende a atenção de todos, achando graça no seu comportamento folgado, aproveitando a maneira especial que é tratado em todos os aspectos.
Para que vocês não se surpreendam, vou logo dizendo que o nosso querido e famoso Billy é nada mais, nada menos que um cão da raça Pinscher miniatura, daqueles que parecem um anãozinho Doberman, raquítico, mas late e salta bastante, faz imitações de ataques, porém o seu desejo é apenas de brincar, chamar a atenção de todos e, obviamente, ganhar carinhos e alimentos. Depois de alguns momentos já estávamos familiarizados e ele ficou brincando por toda casa, sempre cobrando um pedacinho de peru, queijo cuia, chester e todas as boas iguarias que compunham o delicioso jantar natalino. Juro que fiquei impressionado com a maneira do tratamento dispensado ao Billy, não só por João e sua maravilhosa esposa Neuzinha, que se intitularam avós, como também pelos seus filhos genros e nora, logicamente, tios dessa figura canina impoluta. Ele claro, usava e abusava, já compreendendo que era o rei da festa e, logicamente, o dono do lar, quando todos os parentes seguiam para suas cidades e casas e ele, folgadamente, até dormia na cama do casal, como se fosse uma criança de verdade!
João orgulhoso com a sua nova cria, substituta dos filhos que já foram cuidar de suas vidas, não parava de elogiar suas aptidões e as especiais perfumarias e óleos, roupinhas, etc., que, religiosamente, compravam para alimentar suas vaidades e deixar seu animalzinho querido cheiroso e bem cuidado. Pois, além de ter seu veterinário particular, comemorava seus aniversários com festas e convidados de vários cãezinhos de bairros da cidade!
Foi uma noite agradabilíssima, diverti-me bastante, conheci essa figura altamente paparicada e, logicamente, me deu vontade de escrever algo sobre o assunto. Entretanto, voltando para casa, radiante de alegria pelos momentos agradáveis que passei, comecei a matutar e me lembrar que milhares de “Billys” humanos, naquela hora estavam já nas latas de lixo apanhando as sobras para suas refeições natalinas. Preparando com papelão suas camas embaixo das marquises e, sem nenhumas perspectivas de vidas melhores, continuariam vagando pelas ruas, provavelmente tornando-se marginais no futuro. Obvio que não sou contra a criação de animais domésticos, respeito e também admiro quem tem, ou cria algum, mas, creio ser mais sensato, apadrinhar uma criança que sofrendo, vive nos asilos a espera de uma adoção, pois, uma modesta ajuda mensal pode torná-lo um médico, engenheiro, advogado, professor, etc. e, conseqüentemente, menos um delinqüente nas vias públicas. Suponho que uma reflexão nesse sentido é bastante válida!
É sempre mais humano a solidariedade com seus semelhantes, que se entregarem de corpo e alma em adorações por animais irracionais, iludindo-se com visões abstratas que o animal está até falando através de gestos e olhares!!!
Vale a pena atentar para meu modesto raciocínio e a franqueza de não derramar milhões de elogios falsos, apenas colocando mais grilos na cabeça de meu estimado “João Grilo”!
Obs. Esse jantar acontecido no Natal e, lamentavelmente, meu querido amigo João Grilo, faleceu no mês de janeiro, vítima da cruel virose!
*Escritor–Historiador-Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com
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