Antonio
Nunes de Souza*
Normalmente,
os habitantes de centros urbanos, sempre sonham em ganhar muito dinheiro, serem
ricos, famosos e poderosos. Mas, nas pequeninas cidades ou comunidades de
arredores suburbanos, seus personagens e moradores, mesmo vendo nas novelas o estardalhaço das riquezas, sentem que, essas fantasiosas vidas, somente existe
nas ‘telinhas”, ou para pouquíssimos privilegiados!
Digo
isso pela experiência que vivi na minha infância até o fim da juventude, vendo
meus pais, feirantes de verduras e temperos verdes, batalharem constantemente
e, o maior sonho de meu pai era ter uma bicicleta. Imagine vocês, que sonho
pobre miserável: ter uma simples bicicleta! Mas, para ele, adquirir seu
transporte próprio, representava maior status e independência de coletivos.
Infelizmente, a grana era sempre curta, pois perdia-se muitas mercadorias em
função do calor que as ressecavam, ou das chuvas que não deixavam os clientes
irem as feiras livres. Tinha que rezar para as duas estações climáticas para
não desequilibrar os orçamentos.
Vi
e senti na pele todos esses tormentos ao longo dos meus 17 anos, até que,
casualmente, um desses caçadores de promessas futebolísticas, foi ao nosso
campinho e gostou do meu jeito de jogar bola e convidou-me para levar-me para
treinar em um grande time que ele era “olheiro”. Meio sem fé, como nada
custava, mesmo sem falar com meus pais, marcamos e no dia seguinte fomos até o
estádio da grande equipe. Juro que cheguei a tremer de emoção e medo de decepcionar,
ou mesmo de perder aquela chance inesperada.
Após
as apresentações ao técnico, me passaram o material do treino (eu nunca tinha
jogado com chuteiras) e fomos para o bate bola! O técnico escolheu dois times e
me escalou para meio de campo, acreditando na recomendação do “caçador de
estrelas”!
Para
encurtar a conversa, em meia hora fiz três gols driblando toda defesa titular e
jogando a bola no fundo da rede. A essa altura, eu despreocupado no meu jogo,
nem percebi que chamaram o diretor de esporte para me ver jogar e, sem nenhuma
dificuldade, fiz um outro de meia bicicleta no goleiro titular do esquadrão.
Foi aí que ouvi umas palmas e gritos dos poucos espectadores formada pelos
funcionários e diretores da entidade!
Assim
que deu o intervalo, avançaram em mim, levaram-me para o escritório, mesmo eu
todo suado e, logo queriam que eu assinasse um contrato provisório com a
equipe. Como nada estava entendendo, pedi que deixasse eu falar com minha
família primeiro. Eles disseram que me buscariam em casa no dia seguinte pela
manhã e acertaríamos tudo. Porém, talvez para me prender ao compromisso, me
adiantaram mil reais. Para mim, tudo aquilo era novidade e jamais pensei em ser
jogador de bola. Meu sonho era continuar com o negócio de meus pais, pois sou
filho único e assim fazendo, estaria realizado.
O
cara foi me levar, mas, pedi a ele que passasse em uma loja, pois esse primeiro
dinheiro que tinha ganho, queria realizar um grande sonho do meu pai. Entrei e,
sem nem pechinchar, comprei uma bike novinha, colocamos na caminhonete do
olheiro e fomos para casa. Eu com os olhos marejados, já estava vendo a
felicidade do meu pai. E não deu outra, contei antes tudo ocorrido e depois fui
ao carro e trouxe a bicicleta, dando-lhe um beijo e um abraço. Não precisa
dizer que o choro brotou de ambos os lados, enquanto minha mãe sorria de
alegria!
Encurtando
a conversa, hoje jogo no Atlético de Madrid, ganho uma fábula mensalmente, já
fui convocado para a seleção brasileira algumas vezes, moro com meus pais em
uma linda mansão, somos super felizes e, meu pai, mesmo tudo isso já tenha
passado 7 anos, ele guarda a bicicleta que lhe dei de presente, sempre
limpando-a e lubrificando-a como se fosse uma joia rara!
Confessei
tudo isso da minha vida para apenas mostrar que, como diz o ditado popular,
“toda araruta tem seu dia de mingau!”
Lute
muito, mas, acredite na sorte para realizar seu sonho!
*Escritor
– Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com
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