segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Não se queixe da sorte!

Antonio Nunes de Souza*

Sem que seja uma coincidência, ouvimos sempre, repetidamente, em todas as áreas a frase: “Essa sorte não acontece comigo!” Essa sentença, geralmente é dita quando acontece algo inusitado, extravagante e inesperado em qualquer parte do mundo, onde alguém foi agraciado com uma oportunidade invejável e de melhora de vida, saindo da pobreza e partindo para a riqueza, sem os esforços de trabalho de anos de vida! Geralmente, trata-se de um atalho divino!

Porém, essa tolice repetida constantemente, não é uma sentença que exprima a realidade da vida. Comprovadamente todos nós temos o dia de sorte e oportunidade de dar uma guinada de 360 graus e, por desconhecimentos, falta de qualificação, desconfiança e arroubos pertinentes na fase jovem, fazem com que uma cegueira temporária tome conta do indivíduo, deixando, lamentavelmente passar a sua “grande chance”, levando em conta que trata-se de propostas que consideram ridículas. E, quando passa o velho tempo, vão perceber a merda que fizeram desprezando sua chance real e maravilhosa, porque acreditou que sua posição na ocasião era a correta. Aí é tarde e Inês está morta!
Para ilustrar melhor o que estou dizendo, posso contar um fato verdadeiro que ocorreu tempos atrás:
Haviam duas mocinhas com 16 e 17 anos que, como ainda acontece, vendiam doces e quinquilharias nos semáforos para se sustentarem e ajudar em suas casas nas despesas. Ambas sem pai, vivendo com suas mães que trabalhavam de lavadeiras de roupas, morando em barracos no morro em péssimas condições. Certo dia, parou um carro e elas se aproximaram, o senhor que estava dirigindo, falou para a mais jovem: Todos dias eu passo aqui e vejo você lutando pela vida, entre aqui que quero lhe fazer uma proposta! Então ela respondei grosseiramente: Se respeite seu velho descarado! (e ele tinha 38 anos, apenas cabelos grisalhos nas têmporas). A amiga ficou horrorizada com a atitude e falou: posso entrar e ouvir a proposta do senhor? Ele, meio desconcertado, disse que sim, abrindo a porta do carro para que ela entrasse!
Seguiram, pararam num jardim próximo e começaram a conversar. Ele apresentou seu cartão e identidade, disse que era advogado, divorciado há 2 anos, e não tinha filhos. Ela começou a ficar mais confiante, falou sobre sua vida e, em uma hora já estavam se dando bem, indo a uma lanchonete, pois ela disse que, até aquela hora, nada tinha comido. Assim, inesperadamente, começou a amizade de Marília e Walter. Ele falando da sua solidão e querendo uma nova relação com uma pessoa completamente fora do seu círculo social e que realmente ele pudesse ajudar de alguma forma. Para ele a beleza não era o primordial, mas, o caráter sim! Na despedida, já com encontro combinado pra o dia seguinte, ele quis pagar a caixinha de Drops e batom que ela não pode vender em função da saída do ponto e o tempo que ficaram conversando, porém ela recusou e disse que, somente ter conhecido ele e a oportunidade que estava recebendo, valiam muito mais que a sua vendagem em toda sua vida. Lógico que estou sintetizando tudo, citando apenas algumas nuances importantes.

A verdade é que eles foram morar juntos (ela e a mãe) no apartamento de Walter, tratamentos dentários, planos de saúde e, enquanto dona Albertina cuidava da casa, Marília fazia um curso para se habilitar ao vestibular de assistente social que era sua preferência. Hoje já passados 8 anos, ela formada e trabalhando, quando passa no velho semáforo, ainda vê, sua amiga com um filho pequeno segurando sua mão e uma barriga enorme a espera de outro. Ela para o seu carro e compras vários doces para ajudar a amiga que (e também levar para sua filhota de 3 anos), recusou sua grande oportunidade e terminou tendo um filho de pai desconhecido e esperando outro de produção independente!

Na minha ousadia, sempre aconselho que as pessoas sejam corajosas, guerreiras e valentes, enfrentando as chances que aparecem. Pois, somente tentando, saberá se é: a sorte que era para acontecer com você!


*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com

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