Antonio
Nunes de Souza*
Minha
vida não é um “palco iluminado e nem me visto de dourado”. Ela é, mais
provável, um picadeiro do tipo daqueles circos mambembes, redondos forrados de
serragens, ou pó de serra, por cima do terreno comum, ladeado por modestos
camarotes que, em cada apresentação, enche seus espectadores especiais da
elite, com uma poeira intensa, principalmente quando tem apresentação de
animais!
Sinto-me
como se fosse o modesto dono do circo, que é mais modesto ainda, lutando pela
sobrevivência, já que as concorrências modernas estão fazendo desaparecer a
vida tão maravilhosa e de boas lembranças, como os verdadeiros espetáculos
circenses!
Imagino-me
como um dublê de dono do circo e, ao mesmo tempo palhaço, que além de fazer os
outros sorrirem e se divertirem, tem que nas minhas apresentações estar sempre
alegre, bom humor, sorridente, mesmo que na cabeça, no coração e na alma,
somente contradições e preocupações estejam pairando. A obrigação é provocar
alegrias, mesmo cheio de tristezas e solidões. O espetáculo não pode parar e o
palhaço é o mediador das atrações, fazendo suas travessuras e dizendo suas
piadas, muitas vezes, debochando de si próprio e das sua vida de certas
amarguras!
Se
me perguntarem se sou feliz pensando dessa forma, sinceramente, digo que sim.
Pois, todos nós sofremos os altos baixos dessa vida louca que atravessamos,
tendo que, muitas vezes, sorrir quando na verdade o desejo e a necessidade é de
chorar! É como dizem popularmente: “É a cruz que temos que carregar como
provação ou purgação”. Sendo assim, não posso me queixar, nem achar que sou um
grande sofredor.
Sou apenas mais uma pessoa que, sem lamúrias, reconhece os
seus encantos e desencantos. Hoje, as pessoas que conhecem meus escritos, certamente,
estranharão esse desabafo cheio de controvérsias, desnudando certas
particularidades do meu ser. Mas, somos humanos e os desafios são similares,
assim como as soluções.
Daqui
a pouco, vou colocar as minhas pernas de pau, me caracterizar com pinturas e
roupas, saindo pelas ruas com uma porção de garotos atrás, fazendo propaganda
de mais um espetáculo, gritando no megafone: O palhaço o que é que é? E eles
respondem: É ladrão de mulher!
*Escritor
_ Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com
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