quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Quem não ouve sossega, ouve coitado!

Quem não ouve sossega, ouve coitado!
Antonio Nunes de Souza*

Esse adágio popular do tempo de antanho, era repetido sempre pelo meu querido e saudoso avô nas horas das minhas traquinagens, que na verdade não eram poucas. Por ter ouvido muitos “coitados”, jamais consegui esquecer e usei muito com meus próprios filhos e, profissionalmente, dentro do meu trabalho!
Um simples alerta que pode, em diversas circunstâncias, evitar constrangimentos, prejuízos, doenças e mortes, bastando apenas que seja usado bom senso, cautela e memória, para ver que fatos desagradáveis e cruéis já aconteceram em outras oportunidades e as tendências sejam que novamente poderão voltar a acontecer.
Antes essas tragédias ocorriam, normalmente, nos morros e suas encostas, onde o povo invadindo áreas foi criando favelas, que hoje são monstruosidades em tamanhos e desorganizações, graças às benevolências de políticos inescrupulosos e interesseiros por votos fáceis, fechavam os olhos para que as coisas acontecessem, ajudando até os falsos presidentes de associações de moradores que, na verdade, eram e são seus cabos eleitorais e arregimentadores de votos, trocados por áreas proibidas e inadequadas, sem a preocupação dos eminentes perigos que todos passarão nas épocas anuais das chuvas. O povo coitado, na avidez de ter uma casinha seja em que lugar for, não percebe as verdadeiras armadilhas que estão, cedo ou tarde, prontas para cobrarem preços caros por moradias baratas e inseguras. E com esses resultados, tristemente, temos o desprazer de ver verdadeiras calamidades anualmente, seguidas de medidas paliativas e promessas esquecidas quando as chuvas passam.
Entretanto, enquanto esses fatos estavam atingindo apenas as partes pobres e miseráveis da população, pouquíssimas medidas foram e são tomadas para resultados definitivos, já que o sentimento de solidariedade nas classes mais privilegiadas é tão insípido e pouco representativo que, nos seus individualismos, praticamente, passa a ser inexistente. Porém, como cada um colhe o que semeia, ontem tivemos um grande exemplo desse fato, quando a tragédia que abalou e está abalando a região serrana do Rio de Janeiro, Minas, Espírito Santo, S. Paulo e algumas cidades do sudeste, atingindo, desta feita, as classes a, b, c e d, destruindo condomínios e casas luxuosas, levando os veículos como se fossem de brinquedo, destruindo ruas, pontes e estradas, talvez sirva de alerta e tema de preocupação para essa tão propalada “sociedade organizada”, que só se organiza quando é atingida diretamente. No normal seus comportamentos são de pequenas ajudas empresariais para descontar nos impostos, solicitando recibos maiores que os valores doados e madames fazendo “chazinho de caridade” para serem destacadas nas colunas sociais. Sempre tive nojo desse comportamento e, pessoalmente, jamais participei, mesmo vivendo dentro da sociedade!
Em nenhuma hipótese essa crônica é com espírito de satisfação pelo fato, apenas chamar mais uma vez a atenção dos homens para que sejam mais solidários, comprometidos, exerçam cidadania nas suas ações e percebam que uma péssima ação de cruzar os braços provoca uma terrível reação. E a omissão é um dos mais tristes comportamentos humanos, principalmente, quando os reflexos tendem a afetar a todos e, principalmente, os menos favorecidos.
Vamos cuidar do mundo para que ele cuide de nós. Tudo na vida se souber usar, nunca vai faltar, mas, estamos usando o mundo com tanta ousadia e querendo demonstrar sabedoria, quando na verdade é mais uma ganância em nome do progresso que, brevemente, Deus vai ter um novo trabalho de reconstruir esse paraíso. E, quem sabe se Ele, como garantia, só vai povoá-lo com animais irracionais?
*Escritor (Vida Louca – ansouza_ba@hotmail.com – antoniomanteiga.blogspot.com)

Um comentário:

Levy Andrade Ganem disse...

Muito bom caro amigo Antonio, isto é Cidadania em ação, parabéns.