terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Confissões de um homem feio!

Confissões de um homem feio!
Antonio Nunes de Souza*
Para servir de consolo a nós que não fomos agraciados com a sorte de termos nascidos bonitos, inventaram a filosófica e insólita frase: O importante é a beleza interior! Mas, essa deslavada mentira, somente engana os idiotas, pois quem dá valor a interior é radiologista e decorador. O que as mulheres querem realmente é ter ao seu lado, encima ou embaixo é aquele cara charmoso, elegante, sarado, bonitão e, principalmente, com grana. Sendo que ainda existem algumas tolas que não se preocupam muito com esse último item e arrependem-se depois.
Eu, infelizmente, sou feio, baixinho e, para completar, filho de uma família pobre pra caramba. Desde menino trabalho pra cacete e estudei o mais que pude para ser sempre o melhor da classe, na esperança idiota que, sendo culto e cheio de conhecimentos gerais, minha tal beleza interior fosse impressionar as mulheres e eu me desse bem nos meus relacionamentos. Mas, nada disso aconteceu! O mais que consegui na faculdade foi ser chamado as escondidas de CDF e, abertamente, um apelido sacana de HIV. De início não gostei porque achei que era em alusão a AIDS, mas, fiquei puto mesmo, foi quando soube que a sigla que me denominaram tinha outro significado: Homem Imitando Vampiro.
E o pior é que a merda do apelido tinha algum sentido, pois, além da feiúra, eu era gazo e tinha os caninos um pouco pronunciados. Segurei essas barras todas, sempre estudando muito, mas, já que as mulheres bonitas não me queriam, eu também não dava chances às feias. Elas que se arrombassem igual a mim e fossem se estourar no inferno. Sempre fui orgulhoso e, se não podia ter o melhor, estão o pior eu desprezava, pagando na mesma moeda que recebia. E não tenho vergonha de dizer que me formei em direito com 25 anos e ainda não tinha tido uma relação sexual com uma mulher. Até uma colega nossa chamada Tânia que todo mundo da turma já havia transado, uma noite em um fim de festa que eu pensei que ia me dar bem, quando me insinuei todo, ela disse pra mim: Oh! Gabriel, eu gosto tanto de você, mas não pra isso. Você pode me levar pra casa?
Fiquei tão puto que esqueci completamente a minha linha de cavalheiro e respondi na tampa: Não! Vá a pé, filha da puta!
Com esse desdito celibato compulsório, tornei-me um emérito rei da masturbação. Assim como que Pelé chutava com os dois pés com precisão, eu manipulava com as duas mãos com uma destreza de um exímio jogador de peteca, conseguindo até manter a mesma velocidade essencial, tanto com a esquerda como com a direita, dando-me a vantagem de descansar os braços a hora que quisesse sem o perigo de perder a cadência.
Não tenho vergonha de estar fazendo essa confissão, pois cheguei a uma maravilhosa conclusão que sou um homem super feliz. Tenho meu bem montado escritório de advocacia e casei-me com minhas duas mãos, que são como irmãs gêmeas, carinhosas, sempre disponíveis para me darem prazer, uma não tem ciúmes da outra, não me dão despesas à não ser a ida a manicure quinzenalmente, e o melhor de tudo é que não tenho sogra pra sacanear. Minha sogra é minha mãe e sempre me dá razão em tudo.
Graças a minha feiúra, hoje sou um bígamo feliz, muito embora ainda mora dentro de mim a curiosidade de experimentar o sabor de uma transa feminina. Mas, pagar pra isso eu não farei nunca! Tem que ser por amor e a mulher ser muito bonita, para que eu venha trair as minhas duas lindas mãos, que me afagam e não me apedrejam.
*Escritor (Vida Louca – ansouza_ba@hotmail.com – antoniomanteiga.blogspot.com)

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