sábado, 1 de janeiro de 2011

Meu revellion do ano passado!

Meu revellion do ano passado!
Antonio Nunes de Souza*
Desse fim de ano não passa!
Fiquei feito uma tola escolhendo a vida toda um príncipe encantado, guardando minha castidade somente para ele e, resultado, todas as minhas amigas e colegas de colégios, casaram, tiveram filhos produções independentes, outras se separaram e recasaram, uma grande maioria faz biscates semanais, e eu, como uma idiota, nunca senti o prazer de uma boa transada, sendo inclusive ridicularizada pela minha imbecil atitude. Mas, nesse fim de ano, vou fazer tudo que tenho direito e descontar o castigo que dei a minha coitada e solitária “perseguida”.
Imagine vocês, estou com trinta e dois anos, já era para ter em meu currículo pelo menos uns vinte caras, centenas de orgasmos e, se não fosse minhas bolinações pessoais, meus eventuais sonhos eróticos, não teria nem a idéia do que seria essa sensação descrita por todos como o apogeu do prazer. E não é que essa merda até em sonho ou manipulado é gostoso?
Pelas confidências das minhas amigas o bom mesmo era com um cara nos beijando, agarrando, sugando, mordendo, por cima, por baixo, de lado, de costas, etc., que para mim, mais parecia uma luta de judô no tatame que uma relação sexual. Eu imaginava logo que, além de entrar com a xoxota, ainda teria que ter uma resistência física para enfrentar essa tal transa, que mais parecia uma briga de rua. Na minha idiota pureza, imaginava que a posição papai/mamãe era satisfatória para se chegar ao ápice.
-Que nada, Mirelle! Papai/mamãe hoje nem as meninas de quinze anos querem mais. A coisa vai de boquete a anal com abundantes variações que terminavam em 69, mas, agora com o funk e o arrocha vai até 100 fácil, fácil. O que precisa é ter ao seu lado a pessoa certa, pois tem essa meninada sarada que bebe, bebe e chega à cama se transforma em um DVD=Deita, Vira e Dorme. Ou então ficam exibindo os braços parecendo duas toras de jequitibá, o peitoral duro como se fosse esculpido em mármore e a rola mole como se fosse uma esponja de lavar prato.
-Pensei que fosse mais fácil e esses caras de academias eram os maiores rufiões do mundo.
-Nada minha filha! Homem fortão cheio de músculos é bom quando a gente vai fazer mudança. Carregam uma geladeira e um armário com uma facilidade danada. Na cama são uns babacas narcisistas.
-Pode ter certeza Lucienne, que eu vou escolher um cara legal e vou mandar ver seguindo suas instruções e todas aquelas loucuras que vejo nos filmes de sacanagens, que pensava tratar-se de loucas fantasias. Quando eu era menina li uma frase que marcou em minha vida: “Não há maior prazer do que dançar”. Por isso é que gosto tanto de dançar.
-Pois, quem essa asneira escreveu, vê-se logo que nunca fodeu!
-Há! Há! Há! Você é doida mesmo! Mas, amanhã no nosso revellion na praia, quando estiverem soltando os fogos eu estarei soltando a xoxota para iniciar o ano sendo uma mulher de verdade.
Noite do dia 31, todos se preparando para seguir para a praia onde seriam os festejos e as oferendas para Yemanjá, eu ainda pensei brincando e sorrindo: Não vou comprar nem perfumes, nem espelhos para ela. Vou dar de presente é o meu velho e enferrujado cabaço.
Entramos no carro de Mirelle, eu e mais duas amigas e seguimos para a Cabana Sonhos de Verão, local que seria a base de toda nossa festança.
Ainda eram 22 horas quando chegamos, pois preferimos ir mais cedo, uma vez que o trânsito sempre congestiona na avenida da praia, como também, estávamos sozinhas e seria importante chegarmos cedo para nos “arrumarmos” para uma noitada inesquecível. Sentamos em uma mesa bem localizada e começamos a beber alguma coisa ao som do DJ que mandava ver, por enquanto, músicas românticas e pop para ir dando clima ao ambiente.
Por incrível que pareça, com meia hora a cabana já estava lotada e, ao lado de nossa mesa, sentou-se um casal e mais dois caras com boas aparências, idade entre 30 a 40 anos e, melhor ainda, sem alianças nos dedos, sendo um bom sinal de que eram livres e desimpedidos. Eu, como não queria perder tempo, comecei a soltar sorrisinhos para o mais alto e mais bonito, demonstrando que estava interessada em alguma coisa. Meus sorrisos eram correspondidos e, minutos depois, ele virou-se para mim e chamou-me para dançar.
Nem titubeei. De um salto, o abracei e começamos a dançar “Emoções” de Roberto Carlos, canção digna para se iniciar uma esfregação no salão, dando a entender que no fim iria dar samba.
-Meu nome é Raul e o seu?
-Mirelle. Você é daqui de Ilhéus?
-Não sou de Porto Alegre e estou a negócios. Algumas coisas que deveria fazer atrasaram e tive que ficar aqui para passar as festas.
-E você é de onde?
-Sou de Itabuna e todos os anos venho curtir a “passagem” aqui na praia de Ilhéus que é uma maravilha.
Continuamos a conversar abobrinhas, rostinhos colados e, algumas músicas depois, voltamos a nos sentar. E ele, juntamente com os outros, fizeram a proposta para juntarmos nossas mesas. As meninas apoiaram e nem deram maior importância ao fato, pois, como eram cobras criadas, já estavam entrosadas com uns caras e dançavam numa esfregação tão grande que, comparada com o “arrocha”, esta pareceria Ciranda Cirandinha. O casal da mesa estava sempre dançando, o outro homem de nome André circulava direto pelo salão e em volta da cabana, enquanto eu e Raul bebíamos, dançávamos e conversávamos ininterruptamente, demonstrando uma intimidade de meses.
Quinze para meia noite, como eu queria cumprir minha promessa de começar o novo ano sem a rotulação de virgem, chamei Raul para darmos uma volta pela praia e fazer uma caminhada por lugares mais sossegados e desertos para admirarmos a lua e os fogos na hora da comemoração. Senti que ele achou estranha a minha proposta, pois todo mundo sempre comemora em conjunto, mas, mesmo assim, pegou uma garrafa de champanhe, dois copos e saímos caminhando para um lugar longe da barraca, escuro, deserto e a areia sequinha e limpa. Cenário ideal para desenrolar o que se passava em minha cabeça. Embora não sendo mais uma menina, minhas mãos estavam molhadas de suor pelo nervosismo daquela nova situação para mim.
Sentamos, ele colocou champanhe nos copos e deixamos do lado para brindarmos exatamente a meia noite. Aí, não me contendo mais, comecei a beijar Raul e fui empurrando-o lentamente para trás, já pensando em deitar-me sobre ele e começarmos o que planejei realizar. Disfarçadamente, olhei para o relógio e faltavam cinco minutos para meia noite. Nisso, ele calmamente se esquivou para o lado e disse:
-Eu tenho que lhe confessar uma coisa.
-Você quer me dizer que é casado? Para mim não tem problema, pois será apenas uma noite de festa, alegria e prazer e depois é provável que nunca mais nos encontremos.
-Infelizmente a história não é essa. A verdade é que sou homossexual e André, aquele rapaz que está na mesa é o meu caso há mais de 10 anos e eu não vou traí-lo, como também, embora você seja uma moça bonita, não é exatamente o que realmente gosto. Me desculpe, mas, não deveria ter alimentado o papo, porém, o casal que está conosco são os empresários que viemos tratar de negócios e não queríamos dar bandeira para eles.
Nesse instante, além da puta explosão que deu em minha cabeça, começaram a estourar os fogos, todos a gritarem Feliz Ano Novo, Boas Festas, etc, e Raul saiu em disparada dizendo que ia cumprimentar André.
Fiquei chorando sentada na areia, esperei por mais de meia hora para acalmar os ânimos e parar de ouvir os fogos e gritarias, e saí andando de volta para a barraca, imaginando com que cara iria encarar o povo da mesa e minhas amigas.
Felizmente, quando entrei no salão, olhei e vi que a mesa deles estava vazia, somente na nossa estava uma das meninas, a Lucienne, sentada no colo de um cara e dando o maior chupão do mundo na boca do rapaz.
Quando encostei, que ela me viu sozinha, com a cara bastante assustada me perguntou:
-Mirelle cadê o Raul?
-Deve estar por aí tomando no cu!
Foi a resposta que saiu automaticamente da minha boca, demonstrando como eu estava totalmente fora de mim. Depois dessa merda toda e uma decepção desgraçada, fui para o carro dormir e esperar até de manhã as meninas, como sempre, se darem bem.
Juro que passei o ano todo na fossa curando essa trágica desilusão, sem sair para lugar nenhum. Mas, desse fim de ano não passa!
Podem esperar que depois eu conto.
*Escritor (Vida Louca – ansouza_ba@hotmail.com – antoniomanteiga.blogspot.com)

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