domingo, 29 de janeiro de 2023

O MARAVILHOSO CARNAVAL DE SALVADOR!

 

Antonio Nunes de Souza*

“Você quer água? Tá com sede? Olha, olha, olha a água mineral, mineral!”

Ao ouvir a Timbalada tocar essa música, que é quase o seu hino, fiquei toda arrepiada e comecei gritar, pular e cantar o refrão, parecendo que o demônio tinha se apossado de mim, já que a emoção de ouvir qualquer banda baiana, me tira do sério, deixando-me completamente fora de mim. Aliás, essa sensação era sentida por todos na multidão que acompanhava o bloco, vestida com lindos abadás coloridos, sendo uns mais decotados que outros, deixando aparecer as partes mais sensuais possíveis, que serve para aliviar o calor, e também para chamar a atenção para as prováveis agarrações carnavalescas. Lógico que procurei dar uma cortada bem profunda na minha blusa, para mostrar meus volumosos e duros seios, na certeza que essa minha parte do corpo, além de provocante, é um chamariz de abraços e algumas “mãos bobas”. Mas, carnaval é carnaval, e tudo isso faz parte daqueles dias do ano que mais nos liberamos, e esquecemos alguns conceitos e preconceitos, nos dedicando as luxúrias e aos prazeres!

Sem que eu esperasse, senti aqueles braços fortes em volta da minha cintura, puxando-me para o meio e, ao mesmo tempo, como um relâmpago, me tascou um beijo na boca, que mesmo sem saber de quem se tratava, retribui as linguadas e esfregações, deixando para saber depois se estava ou não fazendo um bom negócio. Pensei rápido imaginando o seguinte: Se for um cara legal não vou largar tão cedo, mas, se não for, eu saio de baixo e faz de conta que foi a minha caridade baiana no carnaval! Depois de um beijo demorado, pulos e empurrões dentro e fora do ritmo, o cara se afastou um pouco e pude ver, que embora ele não fosse essa beleza toda, agradava no geral para que pudéssemos nos divertir, pelo menos temporariamente, até aparecer coisa melhor. Sabe come é: no começo pegamos o que aparece, depois passamos a selecionar, e no final da noite pedimos a Deus que apareça qualquer um. O importante é não terminar a noite no 0 X 0, pois, carnaval foi criado exatamente para que possamos fugir dos comportamentos usuais e dar vazão aos nossos instintos, colocando a culpa nessa festa sodomiana!

Não demorou muito, o cara que nem cheguei a saber o nome, disse que ia buscar uma cerveja e evaporou-se na multidão, deixando-me livre para que eu pudesse azarar e ser azarada sem limitações. Olhei para os lados e muitas das minhas amigas já estavam acompanhas, brincando, dançando e os beijos rolavam aos montes entre risos e abraços. Curiosamente, dentro do bloco parecia um treinamento de respiração boca/boca, só que os participantes estavam mais vivos do que nunca, e só se largavam para tomar um gole de cerveja ou capeta, e voltar aos beijos babados, enlouquecidos pelos batuques de Carlinhos Brawn e sua banda!

Logo passou um cara louro e olhos azuis, bem branquelo e bochechas vermelhas, usando sandálias e meias soquetes que, por ser tão desajeitado e fora do ritmo, notava-se logo se tratar de um gringo turista! Mas, mesmo com esses predicados horríveis, o cara era um gato pra ninguém botar defeito. Ele veio em minha direção, abriu os braços e eu que não sou besta, o agarrei pela cintura e começamos a pular e cantar os pedaços das músicas que eu sabia. Ele só fazia gritar e sorrir, pois, não sabia merda nenhuma de português. Aí eu perguntei: Você é estrangeiro?

- Eu non fala brasileiro. Eu ser americano!

-Ah! Sim, Yes. Como é o seu nome, name?

- Eu ser Peter Kennety!

-My name is Katia. I know to speak English very litle!

-Oh! My God! (Oh! Meu Deus)

Dei uma risada pelo modo engraçado que ele falou, e continuamos abraçadinhos pulando e dançando, acompanhando os passos do bloco, que seguia da barra para ondina. Como pintou um clima gostoso entre nós, ficamos juntos todo percurso, aproveitando para umas boas pegadas, pois o gringo não sabia dançar o axé, mas, de sacanagem ele entendia muito bem, por ser uma linguagem internacional, que todo mundo aprende sem precisar de professores!

Quando dei por mim, já estávamos no final do percurso, a Timbalada parou, olhei e não vi nenhuma das minhas amigas. De momento não me preocupei, mas, quando me lembrei que tinha deixado a bolsa em casa por causa de roubos, e a chave do AP e o cartão com endereço de onde estávamos hospedadas (somos as quatro de Sampa).  Aí fiquei em pânico sem saber o que fazer. Peter não falava português e nem eu inglês. Pra sacanagem usamos as línguas para outras coisas e não precisa idiomas iguais que a coisa funciona bem. Ele sem entender porra nenhuma, somente sorria e me dava cada beijo que estava me deixando excitadíssima. Procuramos as meninas, mas não encontramos ninguém! Creio que cada uma seguiu o seu rumo e direção, já que a independência era e é a tônica entre nós. Nada de controles e policiamentos, pois somos maiores e independentes, sendo nossos atos de nossas próprias responsabilidades!

Senti que Peter estava afim de me levar para seu hotel e, como tinha rolado uma química legal, resolvi que iria ficar com ele. Já era quatro da manhã, tomamos um taxi, chegamos ao hotel, subimos para o quarto e logicamente, depois de um banho, transamos até adormecer pelos gozos e cansaços!

Dia seguinte, quase meio dia, depois de ligar do hotel para uma das meninas pedindo o endereço, mesmo envergonhada, pedi um dinheiro emprestado a Peter, explicando o fato através de palavras e gestos, ele entendeu, e me deu gentilmente cem reais. Trocamos beijinhos e combinamos para nos encontrar a noite no farol, num ponto marcado!

Mas, não sei se foi por não conhecer a cidade ou falta de interesse, Peter não apareceu mais durante o carnaval. Mas, aproveitei bastante com outros homens, e não fiquei uma noite sequer no 0 X 0, fiz um ou dois gols por noite. Esse carnaval da Bahia é festa, música, alegria e muita putaria!

*Escritor, Historiador, Cronista e Poeta!

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