Antonio Nunes de Souza*
Era
uma daquelas tardes, que embora cedo, desaba uma monstruosa chuva, o céu
torna-se escuro, o sol desaparece e, como acontece com quase todas as ruas
brasileiras, a água começa a acumular em abundância, fazendo com que as pessoas
que transitavam naquele momento, se enchessem de pânico e preocupações normais
de um transeunte. O vento colocava pelo avesso os guarda chuvas e sombrinhas, daqueles
que ousavam abrir para se proteger!
Os
mais atirados e afobados corriam em disparada, procurando encontrar transportes
ou abrigos, que fossem compatíveis com as necessidades daquele momento. Quando
Mônica deu por si, estava sozinha no abrigo e ponto de ônibus, vestido
completamente molhado, seus cabelos, lisos e finos, escorriam aos pingos,
enquanto seu rosto banhado pelas fortes gotas que caíam abundantemente. Ao
perceber sua solidão e a paralisação de movimento dos transportes, ausência de
táxis, inclusive carros particulares, imediatamente recorreu ao celular, mas,
como sempre acontece, com a situação climática naquele estado, as ligações não
são completadas e somente ouvimos a fatídica frase: Fora de área ou desligado.
Como não conseguiu falar com o trabalho para pedir que alguém fosse buscá-la,
ficou sem opções familiares, já que morava na cidade somente com o marido, e
este estava viajando e não poderia socorrê-la. Além do frio que fazia, aquela
roupa ensopada deixava o seu corpo já tomado pelo pavor, arrepiado e com
tremores de calafrios. Passaram-se uns quinze minutos, que pareceram horas e,
por incrível que pareça, não parou nem uma pessoa no ponto e nem passou um
taxi, van ou ônibus para qualquer lugar que fosse, apenas para lhe proteger e
levar até um ambiente seguro. Nessa hora, as orações não são dispensáveis nem
pelos mais ferrenhos ateus, pedindo a Deus que acuda e faça acontecer algo
miraculoso e salvador. E, como um verdadeiro milagre divino, parou um carro
preto e, descendo automaticamente o vidro do lado do carona, um senhor de meia
idade, cabelos grisalhos, aparência confiável, voz sedutora e firme, falou: Senhorita,
é muito perigoso você estar aí sozinha, rua já alagando, sujeita a assalto e
outros problemas mais graves. Vou lhe dar uma carona até localizar um taxi, e
poderá seguir para casa ou trabalho!
Sua
reação imediata era de recusar, mas, como fazer numa situação tão atípica e,
realmente, constituindo perigo, uma vez que aquele local não era, mesmo em
condições normais, dos mais seguros e tranquilos. Chegou perto da porta, me
olhou com certa desconfiança, mas, como tenho uma aparência confiável, e ela
não tinha outra alternativa, disse:
-Muito
obrigado! Vou aceitar sua generosidade e solidariedade, pois, seria uma louca
se assim não fizesse, uma vez que estou numa situação inusitada e sem
opções. Entretanto, no primeiro ponto de
taxi que passar o senhor me deixará para eu seguir meu destino!
-Fique
tranquila que farei isso com muito prazer, e será minha boa ação do dia. Falei
com um sorriso, talvez para quebrar o pânico estampado em seu lindo rostinho.
Ela entrou e como sou muito observador, pude perceber suas grossas e lindas
pernas torneadas, seus seios estavam intumescidos pelo tecido molhado,
podendo-se ver, claramente, suas tetinhas apontando para frente, dando uma
sensação de desejos libidinosos! Sinceramente, depois dessa visão, também
percebi que, mesmo com estatura baixa, toda molhada e desarrumada pela chuva,
não deixava de ser uma mulher desejável e bela com curvas sedutoras.
Percebia-se que era uma mulher feita e casada (usava aliança), porém, seu
jeitinho assustado e a carinha angelical davam-lhe um ar de ninfeta!
-Tenho
que agradecer a Deus ter enviado o senhor nessa hora tão desesperadora.
-Foi
Ele que me mandou e pediu que eu fosse o mais rápido e gentil possível. Disse
num tom divertido que, mesmo na situação, ela deu um sorriso, mostrando seus
dentes bonitos e uma boca sedutora. Pude perceber, mais uma vez, que as
mulheres, quando sem maquiagem, livres dentro da simplicidade, ficam mais
lindas e provocantes, muito mais que quando estão cheias de blanches, batons,
pinturas, penteados, sombras e outros artifícios usados no dia a dia. Para mim
foi inevitável, a partir daquela hora, não deixar de olhá-la com um modesto e
inicial desejo libidinoso, já achando que algo poderia acontecer de bom. Ou
seja, uma bonança durante ou depois da tempestade!
O
lugar onde encontrei Mônica foi na Avenida paralela! Curiosamente, eu estava
indo para a Ribeira pegar uns documentos da minha empresa e ela estava indo
para casa na Baixa do Bonfim. Então... minha carona foi uma dádiva, já que
nossos destinos eram coincidentes. Ela chegou a suspirar de alívio e concordar
aceitar seguir comigo até o seu endereço! Esses fatos coincidentes, criaram
uma confiança de antigos conhecidos, pois, mesmo com apenas menos de uma hora
conversando no carro (o trânsito estava horrível), já mantínhamos um diálogo
mais solto e confiável. Falei que tinha necessidade de passar em meu
apartamento para pegar algumas coisas (moro na Barra) antes de seguir. Porém,
pouco me demoraria e, como ela estava tendo calafrios em função da roupa
completamente molhada, ofereci que ela subisse e que eu lhe daria uma camisa
social e uma regata que ela poderia usar e, posteriormente, me devolver,
evitando assim que ficasse gripada, já que, por mais rápido que eu fosse, pelo
trânsito, demoraria algumas horas. E, para minha surpresa, ela aceitou minha
sugestão, deixando transparecer que minha companhia não lhe assustava. Subimos,
dei as roupas, ela vestiu e para fazer a cintura, forneci uma gravata que
combinava com as cores e dava um toque especial. Ela escovou os cabelos,
colocou um batom e, sinceramente, ficou super sedutora, com uma imagem bem
moderna e sexy, mesmo que a sua intenção não fosse essa. Dei-lhe um abraço e a
elogiei, dizendo-lhe que estava bem melhor agasalhada e vestida de uma maneira
nada convencional. Ela sorriu e falou que era melhor nós irmos, pois já era
17:40 horas e precisava estar em casa as 19:00 para liberar a empregada!
Descemos
e, ao chegar na garagem, a água tinha invadido e estava nas portas dos veículos
que ali estavam estacionados! Isso foi um baque, não só para ela como também
para mim! Fiquei preocupado e irritado com a situação, controlando-me para não
passar o meu desespero para Mônica, que aquela altura, ligava para casa para
falar com sua empregada! Conseguiu e combinou que chegaria atrasada e que ela
poderia ir, pois, não adiantaria esperá-la!
Como
não havia nada que pudéssemos fazer, resolvemos voltar para o apartamento, pois
lá estaríamos mais bem instalados e poderíamos ver na TV as notícias sobre as
chuvas e as previsões. Peguei uma garrafa de um bom vinho e, mesmo sem
perguntar se ela aceitaria, coloquei em duas taças e ofereci para brindarmos
nosso inesperado e casual encontro. Brindamos e eu, aproveitando a
oportunidade, dei-lhe um abraço apertado e beijei-lhe a testa. Ela, por sua
vez, deixou ser abraçada numa pegada nada inocente e, sem que eu esperasse,
beijou-me o rosto em ambos os lados. Nossos olhares se cruzaram e, pude
perceber que a nossa simpatia era recíproca e poderia acontecer alguma coisa
agradável, mesmo numa situação tão complicada. Enquanto a chuva,
torrencialmente, caía sem parar, bebemos mais duas garrafas de vinho, comemos
alguns queijos com mais algumas guloseimas que tinha em casa, e aproveitamos
para descer até a garagem para ver como estavam as coisas. Pior não poderia
estar. A água subiu mais ainda, impossibilitando a entrada ou saída de qualquer
veículo daquele local, como também o alagamento das ruas não dava condições de
nenhum tráfego!
Aí
subimos para ver o que poderíamos fazer, já que estávamos ilhados, porém,
felizmente, agasalhados e guarnecidos. Quando subimos o elevador, já a abraçava
pela cintura e ela a mim, parecendo que nossa intimidade era antiga. Mas, eu
percebia que ela estava assustada, porém, se sentindo feliz e contente de estar
ao meu lado. Na verdade, os desejos eram recíprocos! Sentíamos uma atração à
primeira vista e, com certeza, seria capaz de acontecer alguma coisa. E não deu
outra. Sentamos no sofá em frente à TV e, em alguns minutos, já estávamos nos
acariciando aos beijos, ela quase no meu colo e comecei a desnudá-la bem
meigamente, sentindo que ela estava feliz e se entregando como muito tempo não
fazia. Talvez a rotina que vivia, fez nascer nela à necessidade de uma
aventura, quebrando os tolos preconceitos, apenas fazendo aquilo que o seu
corpo desejava para satisfazer suas vontades reprimidas! Sentia que naquela
hora ela não cultuava pecados, e sim realizações, que se não aproveitadas, jamais
voltarão!
Amamos
das mais diversas maneiras, gostos e desejos, sem dar valor aos pudores
repressores das espontâneas ações, cujos resultados de prazeres eram, para nós,
o importante nesse inesquecível encontro. Foram momentos inusitados e ricos de
luxurias, liberdades e libertinagens, que, mesmo para mim, experiente e
traquejado, parecia um manancial de novidades, dado a participação liberal e
tranquila daquela pequena parceira que, no leito, transformou-se numa
gigantesca personagem! Nessa hora eu confirmei o dito popular que: “Os grandes
perfumes estão nos pequenos frascos!”
Cansados,
dormimos no sofá, entrelaçados como se fôssemos siameses, eu ainda dentro dela
como um cordão umbilical, vivendo uma experiência mágica, doce e marcante!
Somente
acordei no dia seguinte as 07:00 horas e, ao olhar para o lado, apenas vi um
bilhete:
Prezado
Lúcio Flávio,
Cometi
uma das maiores loucuras da minha vida. Mas, sinceramente, foi uma coisa
maravilhosa que aconteceu e, pelo que percebi, era necessário quebrar certas
rotinas que deixam meu casamento num mar de mesmices. E você foi maravilhoso,
respeitador, honesto e apareceu na hora exata que deveria! Acho que Deus lhe
mandou e o diabo tomou as outras providências (rs rs rs). Desejo-lhe tudo de
bom, e creio que jamais nos encontraremos, a não ser que ocorra um novo dilúvio
de Noé! (Rs rs rs). Com carinho, Mônica
Só
resta dizer que nunca mais soube, ou me encontrei com essa maravilhosa mulher
e, às vezes, imagino até que tudo não passou de um sonho meu de tão maravilhoso
que foi!
*Escritor,
Historiador, Cronista e Poeta!
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