Antonio Nunes de Souza*
Serei
sincero, no “Dia das Mães”, sem rodeios românticos e nem ceticismos, mostrando
a pura realidade. Pois, já nos cansamos de ouvir e ler os clichês sem novas imaginações:
Ela é a rainha do lar, Estrela maior do seio da família, Tormento de paixões e
sofrimentos, Símbolo do amor, etc.!
Suponho que
devemos mudar essa ladainha tapeadora e poética, passando a ser honestos tanto
com ela como a nós homens, olhando o privilégio de parir, como algo de sentido
dúbio para a mulher!
Vejamos mais
claramente em que baseio meu raciocínio: Começando pela parte boa da coisa, que
sem sombra de dúvidas, foi uma boa relação sexual (ou várias). Em seguida,
progressivamente, vai desabrochando a barriga, a vaidade de mostrar para todos
que vai ter um filho (principalmente para as amigas encalhadas), exibindo seu
poderio feminino e a capacidade de atrair um homem, que imagina que é só seu!
Durante esse
período de gestação, goza das maiores regalias, aproveitando-se da sua condição
de gestante, fazendo pedidos cabíveis ou não, sendo sempre atendida para não
causar aborrecimentos e fazer mal ao neném! Normalmente, são nove meses de
“paparicação” familiar, coroando-a literalmente, como a rainha do lar. Aí,
sempre no período previsto e normal, nasce mais uma inocente e bela criança,
para enfrentar essa vida louca e, entre lágrimas e sorrisos, ela torna-se mãe
propriamente dita!
Foram quase
300 dias de expectativas e preparações, culminando com o resultado esperado da
procriação, e o orgulho de ver um novo ser, normalmente com suas
características, dar os primeiros choros em seu quente e gostoso colo!
Agora, com
uma visão realista e imparcial, podemos descrever esse mesmo período de uma
maneira mais objetiva, onde as coisas não são tão lindas e românticas como
dissemos acima, mostrando como padece aquelas que têm o privilégio de parir!
Tudo também começa com uma
transa, que algumas vezes, por ejaculação precoce, ou falta de consideração à
mulher, o homem sente prazer e deixa a mulher a ver navios, como se sua
obrigação é somente de egoisticamente, colocar os espermatozoides lá dentro e
pronto. Para enfatizar melhor essa parte inicial do lado oposto, podemos
afirmar que a maioria das mulheres se torna mães, sem nunca terem sentido o
prazer do orgasmo!
Depois dessa desastrada
relação, começa a aparecer os sintomas da gravidez através de enjoos, tonturas,
sonolências, falta ou excesso de apetite, abalo no sistema nervoso, etc.
Aí, embora seja um
procedimento normal e preventivo, ela vai ao médico ginecologista, coloca-se
numa posição ultra-humilhante e é “futucada” sem dó nem piedade, para receber a
confirmação do seu estado gestante. Volta para casa, vem cheia de recomendações
e conselhos, acompanhados normalmente de uma receita, para tratar de alguma
anomalia encontrada. O crescimento da barriga passa a ser um estorvo, pois, as
roupas vão ficando apertadas, o peso é incomodativo, olha-se no espelho e vê
suas formas tomando rumos hilários e desproporcionais, o medo de não voltar ao corpo
de outrora, os seios crescendo e ficando sensíveis demais, percebendo também
que, mesmo enchendo-a de dengos, as procuras sexuais vão ficando escassas, etc.
Inegavelmente é uma
mudança comportamental substancial que, mesmo com os orgulhos, alegrias e
felicidades vividas da fase anteriormente descritas, provoca alguns momentos de
depressão, choros e tristezas, principalmente irritações pelos menores motivos.
Não devemos esquecer das inúmeras vezes que teve de voltar ao ginecologista,
ficar naquela ridícula posição, receber dedadas e olhares aguçados,
acompanhados de recriminações por um ou outro procedimento feito fora das
recomendações dadas, importantes para o desenvolvimento fetal!
Aproximadamente um mês
para o dia previsto do parto, começam as dores incômodas, os falsos avisos, a
dificuldade de locomoção, pernas inchadas, manchas escuras no rosto e uma série
de outras desagradáveis coisinhas, que a mulher passa a desejar urgente ter
logo seu filho!
As contrações começam a
perturbar bastante, a bolsa se rompe inesperadamente e, no momento mais
impróprio, chega à hora do parto. O marido não está em casa (quando se tem essa
figura), aviso para os parentes, chama o táxi ou carro do cunhado, carrega a
mala que já está pronta há mais de meses, e seguem todos para o hospital, onde o
irmão está tentando localizar o médico, que por sinal está viajando!
A mulher fica p.... da
vida, pois, depois de se arreganhar dezenas de vezes para um cara, já estando
acostumada com o dito, ter que se desnudar para um estranho, peidar e fazer
coco na hora de fazer força para parir, passando mais esse vexame em sua vida!
-Mas, pelo meu filho, sou
capaz de tudo. Pensa ela com um sorriso nos lábios, porém, retada por dentro!
Já na maca, aparece o novo
médico com a cara sonolenta e diz: Podem leva-la para a sala de cirurgia que
estarei lá em instantes!
Novamente volta aquela
posição nada elegante, porém desta feita, com fortes dores, contrações, água
escorrendo por suas pernas e uma vontade louca que aquilo tudo se acabe!
Enfim, nasce à criança,
vem o alívio, o repouso e a volta para casa dando graças a Deus pelo nascimento
normal e, principalmente, por livrar-se daquele tormento que durou quase um
ano. Imagina logo as visitas que receberá e o modo orgulhoso que apresentará o
seu filho!
Nas visitações de praxe,
como de costume as amigas perguntam:
-Como foi sua gravidez e
seu parto Virgínia?
-Querida, foi maravilhoso,
nada senti na gravidez e meu parto foi bem tranquilo. (Mulher não dá o braço a
torcer!)
Não sei se dou parabéns as
mães pela primeira ou segunda parte. Mas, creio que, pela segunda parte, tem
muito mais sentido em razão dos sofrimentos. Juro por Deus que se as mulheres
tivessem o poder de engravidar os homens, eu seria o maior dos celibatários,
pois, jamais enfrentaria esse período de sofrimentos, mesmo que fosse para ver
perpetuada a minha espécie!
De qualquer forma, dou
parabéns à todas mães do mundo!
Quanto a criação do filho,
essa é outra história pra depois!
*Escritor
– Historiador – Membro da Academia Grapiúna de Letras - AGRAL
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