sexta-feira, 13 de maio de 2022

ENCONTRO FATÍDICO!

 

Antonio Nunes de Souza*

Com um título desses parece ser uma das manchetes escandalosas dos jornais para comentar um crime hediondo qualquer, tão comum no nosso dia-a-dia. Mas, na verdade, trata-se apenas de um encontro com um velho amigo, na praça de alimentação do shopping, nosso único point itabunense que ainda se pode frequentar com dignidade e encontrar um ambiente agradável e salutar!

Observei a passagem de um velho, careca, gordo desproporcional a sua altura, óculos na ponta do nariz, e tão curvado para frente que mais parecia uma árvore sendo açoitada por uma ventania. Olhei para o seu rosto e, para minha surpresa, tratava-se de um colega de infância bem mais novo que eu, mas, companheiro em muitas das nossas aventuras juvenis!

-Oi Geraldo, não está me reconhecendo não?

-Poxa rapaz, você não é Antonio?

-Claro cara! Tem tanto tempo que não lhe vejo, que estranhei quando você passou. Mas, seus traços fisionômicos ainda são, relativamente, os mesmos!

-Porra meu irmão, creio que é a única coisa que me restou nessa velhice filho da puta!

-Mas meu amigo, você está desfrutando da belíssima terceira idade, também chamada de “melhor idade”!

-O sacana que arranjou essa titularidade, deve ter sido algum médico geriatra que, querendo encher o cu de dinheiro, tentou enganar os velhinhos com esse papo de jacaré. Depois dos sessenta mermão, a coisa pega pra caralho. E, o dia que você não amanhecer com alguma dor, pode ter certeza que morreu enquanto estava dormindo!

-O que é isso cara! Sou mais velho que você e ainda não tenho queixas!

-Pois eu tenho as piores do mundo. E, como você é meu amigo, vou lhe confessar. Pois, para os outros, eu tiro uma onda que tudo vai bem!

-Vou começar pelo problema urinário: tenho que mijar quase toda hora, até durante a noite. E depois de uma mijada, antes eu apertava o cu três vezes e não ficava nem uma gota. Hoje tenho que apertar o cu seis, ou sete vezes, senão quando sair do sanitário e apertar o furico, vem logo uma esguichada na calça. E no dia que descobri isso, foi bem aqui nesse lugar. Corri me sentei e pedi uma mineral, fiz que era um acidente e derramei o copo na roupa para justificar a molhação, e tive que ir correndo para casa!

-Porra! Que vexame retado em mano?

-Isso não é nada cara! Pior é ter que sacudir aquele monte de pelancas depois da mijada que, nem aquela velha e antiga tesão de mijo o filho da puta não se pronuncia. Olho para ele com o maior desprezo!

-E você tem se alimentado bem?

-Só não mando você ir tomar na bunda, porque não lhe vejo há muito tempo, mas, perguntar isso é foda. Não posso comer quase porra nenhuma. Uma coisa é ruim para os rins, outra para o coração, outra para os intestinos e algumas outras para o fígado. Tomo seis remédios por dia, tenho que anotar em uma agenda para não esquecer essas merdas.  Você não está vendo eu meio gordinho? Pelanca pura e inchaço cara! Fui olhar minha bunda outro dia no espelho quase choro. Está mais caída que o conceito de Bolsonaro. Parece um maracujá gigante que além de murcha, ainda está com uma rachadura no meio!

-Porra compadre, pelo que você diz parece que está muito mal. Mas, pelo menos ainda tem disposição para passear no shopping, se divertir, ver amigos, etc.

-Ah Ah Ah! Você esta me gozando. Eu vim aqui para comprar remédios, pois é o lugar mais perto da minha casa. Mas, estou cansado pra caralho com essa caminhada!

-E o intestino funciona bem?

-Bem mal! Tenho uma prisão de ventre daquelas bem brabas. E ainda peido o dia todo e toda hora sem querer. Às vezes vou andando e pareço uma motocicleta, pois vou peidando tipo carretilha. Já passei vários vexames por causa disso. Nem meu pobre cu me respeita mais!

-Felizmente a visão não lhe atrapalha!

-Graças a Deus não, mas, recentemente, tive que fazer duas operações de cataratas!

-Porra cara você também se lamenta muito. Pelo menos está vivo e ouvindo muito bem!

-Se isso é vida, estou sim. Porém, repare entre meus restos de cabelos, que vai ver que tive que colocar um aparelho na orelha, pois, nem a televisão com o volume tudo aberto eu ouvia!

-Bem, vou chegando e foi um prazer grande, ter lhe encontrado depois de tanto tempo!

-Um grande abraço e muita saúde, bom final de semana é o que lhe desejo de coração!

-Muito obrigado Antonio. Foi uma satisfação vê-lo forte, robusto e tranquilo. Vou agora direto para a academia fazer fisioterapia, pois, estou com uma atrofia na coluna, nos joelhos e nos pés!

Fiquei pasmo com o que ouvi, e a única expressão que me veio à mente foi: “Meu amigo está, literalmente, fodido!”

*Escritor – Historiador - Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL

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