sexta-feira, 6 de maio de 2022

ESSE MENINO É UM FILÓSOFO!

Antonio Nunes de Souza*

Essa expressão eu ouvi centenas de vezes, repetida não só pela minha mãe, com das pessoas que me cercavam durante a minha infância. E isso sempre acontecia, quando me falavam ou perguntavam algo, e eu respondia com um disparate qualquer. Todos riam e, imediatamente, diziam: “Esse menino é um filósofo!”

Até os meus dez anos, na minha mente infantil, a figura do filósofo era a pessoa que dizia besteiras, incoerências ou coisas engraçadas. Tinha até um certo orgulho, por ser tratado com essa adjetivação, pois, na verdade, eu era gaiato, bonachão e amolecado. Sentia-me um perfeito filósofo. Mas, com o passar do tempo, entrei no ginásio, e comecei a saber que filósofo era um cara inteligente, que sabia das coisas e fazia umas frases de efeito, não só sobre o presente, como premunições futuras incríveis que, já naquela época, muitas estavam acontecendo! Principalmente um tal de Sócrates, que era o mais citado nas conversas. Aí, triste pra caralho, me senti decepcionado vendo que eu não era filósofo coisa nenhuma! Minha mãe e a vizinhança me enganaram redondamente, pois, na verdade eu era, simplesmente, um menino gaiato!

O tempo foi passando, comecei a ler bastante livros, começando com Kalil Gibran Kalil, depois, Platão, Descartes, Aristóteles e, digo com sinceridade, que fiquei apaixonado por essas fantásticas personagens, encabulado com tanta sabedoria na antiguidade!

Passei um tempo sem ler filósofos, dedicando-me a livros de escritores romancistas famosos do passado e da época, sempre, procurando aprimorar minha ilustração, chegando ao ponto de ler toda coleção de Jorge Amado, José Mauro Vasconcelos, Dostoievski, Franz Kafka, Neruda, Gabriel Garcia Márquez, Miguel de Cervantes, Liev Tostoi, Victor Hugo e muitos e muitos outros, nacionais e internacionais! Eu era uma verdadeira traça de livros, somente Paulo Coelho que li um livro achei chato, li outro para conhece-lo melhor, e achei mais chato ainda. Até hoje fico encabulado dele ser um dos maiores vendedores de livro do mundo!

Assim sendo, cada ano que passava, eu ia vendo que de filósofo em não tinha zorra nenhuma. Então... como decidi me meter a escritor, escrevendo algumas loucuras que vinham em minha cabeça, para ampliar meus conhecimentos, fui a faculdade fazer licenciatura em história que, certamente, ampliaria meus conhecimentos, ajudando-me na literatura. E foi aí que me bati com uma serie de filósofos: Nietzsche, Kant, Hegel, Maquiavel, Confúcio, Karl Marx e muitos outros maravilhosos e de visões incríveis, pensamentos, citações de sacadas impressionantes, que perduram com verdades mais que comprovadas. Adorei muito esse encontro e saí dele, bastante enriquecido!

Hoje eu sei que filósofo é um cara importante, estudioso, pensador, sociólogo, profeta, vanguardista e, geralmente, desligado dos bens materiais, e grandes conhecedores da vida humana!

Atualmente, já envelhecido, ainda fico sacaneado quando me lembro que minha mãe, madrinha, suas amigas e minha tia me chamavam de filósofo, porque eu dizia um bocado de abobrinhas. E eu, idiotamente, me enchia de pose e orgulho!

Agora raramente uso da filosofia nas minhas crônicas, e procuro “mobralizar” ao máximo os escritos, para que qualquer vivente possa ler sem precisar ir ao dicionário, tornam-se assim, leituras digestíveis e de fácil assimilação, e, sagazmente, aproveito as entrelinhas para dar os meus recados sem precisar filosofia, ou talvez, uma maneira simples de filosofar!

*Escritor – Historiador – Membro da Academia Grapiúna de Letras - AGRAL

 

 

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