Antonio Nunes de Souza*
Essa
expressão eu ouvi centenas de vezes, repetida não só pela minha mãe, com das
pessoas que me cercavam durante a minha infância. E isso sempre acontecia,
quando me falavam ou perguntavam algo, e eu respondia com um disparate
qualquer. Todos riam e, imediatamente, diziam: “Esse menino é um filósofo!”
Até
os meus dez anos, na minha mente infantil, a figura do filósofo era a pessoa
que dizia besteiras, incoerências ou coisas engraçadas. Tinha até um certo
orgulho, por ser tratado com essa adjetivação, pois, na verdade, eu era gaiato,
bonachão e amolecado. Sentia-me um perfeito filósofo. Mas, com o passar do
tempo, entrei no ginásio, e comecei a saber que filósofo era um cara
inteligente, que sabia das coisas e fazia umas frases de efeito, não só sobre o
presente, como premunições futuras incríveis que, já naquela época, muitas
estavam acontecendo! Principalmente um tal de Sócrates, que era o mais citado
nas conversas. Aí, triste pra caralho, me senti decepcionado vendo que eu não
era filósofo coisa nenhuma! Minha mãe e a vizinhança me enganaram redondamente,
pois, na verdade eu era, simplesmente, um menino gaiato!
O
tempo foi passando, comecei a ler bastante livros, começando com Kalil Gibran
Kalil, depois, Platão, Descartes, Aristóteles e, digo com sinceridade, que
fiquei apaixonado por essas fantásticas personagens, encabulado com tanta
sabedoria na antiguidade!
Passei
um tempo sem ler filósofos, dedicando-me a livros de escritores romancistas famosos
do passado e da época, sempre, procurando aprimorar minha ilustração, chegando
ao ponto de ler toda coleção de Jorge Amado, José Mauro Vasconcelos,
Dostoievski, Franz Kafka, Neruda, Gabriel Garcia Márquez, Miguel de Cervantes,
Liev Tostoi, Victor Hugo e muitos e muitos outros, nacionais e internacionais!
Eu era uma verdadeira traça de livros, somente Paulo Coelho que li um livro
achei chato, li outro para conhece-lo melhor, e achei mais chato ainda. Até
hoje fico encabulado dele ser um dos maiores vendedores de livro do mundo!
Assim
sendo, cada ano que passava, eu ia vendo que de filósofo em não tinha zorra
nenhuma. Então... como decidi me meter a escritor, escrevendo algumas loucuras
que vinham em minha cabeça, para ampliar meus conhecimentos, fui a faculdade
fazer licenciatura em história que, certamente, ampliaria meus conhecimentos,
ajudando-me na literatura. E foi aí que me bati com uma serie de filósofos:
Nietzsche, Kant, Hegel, Maquiavel, Confúcio, Karl Marx e muitos outros
maravilhosos e de visões incríveis, pensamentos, citações de sacadas
impressionantes, que perduram com verdades mais que comprovadas. Adorei muito
esse encontro e saí dele, bastante enriquecido!
Hoje
eu sei que filósofo é um cara importante, estudioso, pensador, sociólogo, profeta,
vanguardista e, geralmente, desligado dos bens materiais, e grandes
conhecedores da vida humana!
Atualmente,
já envelhecido, ainda fico sacaneado quando me lembro que minha mãe, madrinha,
suas amigas e minha tia me chamavam de filósofo, porque eu dizia um bocado de
abobrinhas. E eu, idiotamente, me enchia de pose e orgulho!
Agora
raramente uso da filosofia nas minhas crônicas, e procuro “mobralizar” ao
máximo os escritos, para que qualquer vivente possa ler sem precisar ir ao
dicionário, tornam-se assim, leituras digestíveis e de fácil assimilação, e,
sagazmente, aproveito as entrelinhas para dar os meus recados sem precisar
filosofia, ou talvez, uma maneira simples de filosofar!
*Escritor
– Historiador – Membro da Academia Grapiúna de Letras - AGRAL
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