Antonio
Nunes de Souza*
Atraído
pelos modismos e os sucessos que estavam e estão estourando, Padre George
Paccini, homem bem apessoado, descendência estrangeira, católico nem tanto
fervoroso, mas, atendendo um pedido da sua querida mãe, em função de uma
promessa, foi colocado em um seminário desde pequeno, ficando preso a religião
por mais de uma dezena de anos, somente saindo após sua ordenação. Citei esse
fato para que vocês saibam como ele chegou a ser padre e, que na verdade, não
foi vocacional e nem seu desejo!
Então,
como já disse acima, resolveu também fazer parte da galera religiosa
“cantante”, pois, além de desfrutar o sucesso, ganharia uma boa grana e sairia
da rotina de missas, batizados, casamentos, etc., pensava pois, nas procissões,
ele já se via como um grande e famoso cantor, seguido por aquela multidão para
abraça-lo e pedir autógrafos!
E,
para começar a fixar seus planos, entrou para uma escola de canto (tinha alguma
experiência de quando cantava nos corais gregorianos) e, ao mesmo tempo,
aprender a manejar bem uma guitarra, pois, violão ele já dominava desde sua
juventude. Com essa atitude, seguindo com afinco diariamente, com quatro meses
já se sentia apto a começar suas apresentações, de início em sua paróquia e,
posteriormente, viajar pelo Brasil, acompanhando a onda celestial e católica
que estava dominando o mercado, batendo de testa com os adventistas sertanejos
e mestres no canto gospel!
Em
Salvador onde morava, mandou fazer umas roupas adequadas um tanto vistosas,
mas, discretas ao mesmo tempo, cortou o cabelo, fazendo um penteado da moda,
procurou uma produtora para lança-lo e, sentindo-se pronto, depois de ter
investido suas economias com instrumentos e apetrechos necessários, começou a
ensaiar sua primeira apresentação na Concha Acústica, graças aos esforços e
conhecimentos da produtora, que viu nele, um bom quinhão financeiro, uma vez
que o cara era bonito, voz boa, carisma e padre. Um prato cheio para alimentar
o carente e carinhoso povo, que cantando e dançando, pensa que alcançarão o céu
mais depressa!
Muita
propaganda, outdoor, cartazes, TVs, rádios, carros volantes, faixas, internet, etc.,
tudo isso investido pela produtora que, astutamente, fez um contrato de 50% das
rendas durante 5 anos. Padre George, na avidez do sucesso, nem se prendeu a
regatear e assinou tranquilamente. Com sua inteligência e versatilidade, criou
uma série de músicas com letras baseadas nas escrituras, ritmo-as para rock
pesado estilo a banda Sepultura, algumas roupas exóticas para trocar durante os
espetáculos e, sem mais nem menos, achava-se super preparado para enfrentar a
sua nova carreira, porém, sem abandonar sua profissão de padre, pois essa lhe
abriria muitas portas, principalmente entre os devotos mais fervorosos e
chegados a músicas alucinantes!
Chegou
o dia da sua estreia, a concha enchendo com o povo curioso e feliz de conhecer
esse novo fenômeno religioso, mandado por Deus, para purificar e apascentar
suas ovelhas. Vinte uma horas em ponto, como previsto, entra no palco ultra
iluminado de holofotes coloridos, tendo ao fundo um imenso telão apresentando
passagens da Bíblia, entra um locutor anunciando: Com vocês, temos o orgulho de
apresentar, nosso Elvis celestial do Brasil, enviado por Deus: Padre GEORGE
PACCINI!
Pode
parecer exagero da minha parte, mas, a concha veio a baixo quando ele começou a
cantar a sua composição, feita e criada para tal fim: “Madalena foi mulher de
Jesus”. Em seguida entrou com “Judas se vendeu barato”, “Nossa Senhora das
Loucuras”, “O Milagre dos prazeres” e foi mandando bala com seu repertório
alucinante, o povo pulava, dançava e dava gritos ensurdecedores, esquecendo até
da sua condição de padre, um forte coro de tietes, com os braços levantados e
dizendo: Padre George, lindo, meu lindo! Ele entusiasmado, parecia endiabrado e
possuído, tocava sua guitarra, deitava no chão, fazia mil e umas caras e bocas,
olhando feliz o seu desejo se tornando realidade e grande sucesso. No final, teve
que voltar ao palco 3 vezes, inclusive fechando o show com a música de Roberto
Carlos em ritmo de pauleira: “Eu te darei o céu meu bem!”
Depois
das entrevistas para a imprensa, receber autoridades no camarim, seguiu para
jantar com a produção super feliz com o resultado. Em seguida foi para um hotel
5 estrelas, seguindo a recomendação da sua equipe, no sentido de dar maior
status na manhã seguinte, pois, com o sucesso alcançado, fatalmente, seria
procurado para apresentações em programas como Domingão do Huck, Faustão,
Fátima Bernardes, Serginho Groisman, etc.
Entrou
no banheiro para tomar um banho rejuvenescedor e, na saída, tomou o maior
susto, pois, em sua cama estava uma fã linda que logo lhe disse: Eu me
enlouqueci por você, George beija-me!
Ele
completamente nu, se esqueceu da sua condição sacerdotal e, sem nem pensar,
deitou na cama mandou ver com vontade e desejo contido por muitos anos!
Transaram tanto, tanto, tanto que, depois adormeceram, sem ter dado tempo para
nosso paroquiano pensar o que estava ou esteve fazendo! Acordou quase meio dia
e olhando para o lado, viu que a mulher já tinha ido embora, e aí começou a pensar
na zorra que havia acontecido, pois, sinceramente, não fazia parte de sua
começada vida artística. Depois veio a saber que tudo foi armação da produção
querendo que ele conhecesse o outro lado do mundo artístico. O bom que todos
adoram!
Mediante
esse surpreendente resultado, pediu férias e licença por 3 meses da sua
paróquia, pois, apareceram contratos para várias outras apresentações e era
fundamental que estivesse completamente liberado! Começou a viajar por outras
capitais, apresentações em TVs, etc., mas, já safadamente, sempre pedia que
fosse mandada uma dádiva para seu hotel, sendo guardados todos os segredos
possíveis. George já falava calmamente que, essa transada, como dizia Cazuza: Faz
parte do meu show!
E
assim, hoje ele é sucesso nacional, licenciado por tempo indeterminado da sua
paróquia, não deixa a batina, pois sua condição lhe abre portas pela
excentricidade católica, além de conservá-lo como um “come quieto”, sem a
obrigação de casar. Amanhã, devido nossa velha amizade, vou atender seu convite
e vou ao seu show no Castro Alves, com o curioso título: “VADE RETRO SATANÁS!”
*Escritor
– Historiador - Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL