terça-feira, 16 de novembro de 2021

O ESTUPRO!

 

 Antonio Nunes de Souza*

-O senhor teria direito a um advogado contratado para defendê-lo, ou seja, um defensor público. Porém, preferiu fazer sua própria defesa. Quero alerta-lo, que seria melhor se seu julgamento, contasse com alguém com maiores conhecimentos das leis e melhores desenvolturas forenses. Falou o Juíza Marjory Bonfim, dirigindo-se ao réu, que se sentava a sua frente, acusado de atentado ao pudor e estupro!

-Senhora Juíza, preferi defender-me, pois, somente eu poderia externar para os senhores, a mais pura verdade dos fatos, já que foram vivenciados por minha pessoa e, por mais perspicaz que meu advogado fosse, jamais poderia expressar o fato da maneira que realmente aconteceu!

-Então, vamos ouvir a promotoria, que representa a sociedade dessa comarca, para fazer a acusação. Com a palavra o promotor José Antonio dos Santos!

-Meritíssima senhora Juíza Marjory, senhores jurados, estamos diante de um homem que, num ato insano e vil, invadiu a casa da sua vizinha em pleno dia, levou-a a força até o quarto, manteve relações sexuais duas vezes com a vítima, depois saiu calmamente de volta para sua casa, tomou um banho e, tranquilamente, foi dormir, como se nada tivesse acontecido. A vítima, ficou totalmente atordoada com a bestial atitude do seu vizinho, não reagindo em função da surpresa inesperada, e do medo de uma reação violenta, pois, ele parecia uma fera no cio, e somente depois de voltar a raciocinar melhor e tomar consciência do ocorrido, telefonou para a polícia, solicitando socorro e a prisão do réu. Quando os policiais chegaram, ela contou o fato com todos os detalhes do ato, apontando ao lado a casa do seu terrível e tarado agressor moral e físico, que a estuprou, com penetrações dolorosas e violentas!

-Os policiais a orientaram para aguardar o SAMU para leva-la para fazer o corpo delito, e formalizar a queixa, ao tempo em que se dirigiram a residência ao lado, para prender esse homem, que representa uma ameaça brutal para a sociedade!

-Os policiais tocaram a campainha e ele veio atender:

-Boa tarde!

-É o senhor José Carlos Hafush?

-Sim. Algum problema?

-O senhor está preso! Dizendo isso, os policiais foram logo pondo as algemas, colocando-o na viatura e dirigindo-se imediatamente para a delegacia!

-Calma! Pelo menos me digam qual é a acusação?

-Você ainda pergunta seu bandido tarado! Você atacou e estuprou sua vizinha há duas horas!

-E esse homem, cinicamente, durante todo trajeto, gritava que era inocente, inclusive, chegando ao ponto de chorar copiosamente, mesmo depois de ser reconhecido pela vítima, na acareação no distrito, na hora que estava sendo lavrado o boletim de ocorrência!

-Como não houve nenhuma testemunha, quero apenas que os senhores ouçam o depoimento da pobre vítima que, mesmo tendo de passar por esse dissabor da publicidade do fato, preferiu assim proceder, para que monstros como esse, seja trancafiado no xadrez, fazendo-se justiça, para servir de exemplo!

Ouviu-se aquele sussurro na plateia, provocando um certo barulho, fazendo com que a Juíza Marjory batesse o martelo solicitando silêncio!

Nisso a Juíza convidou a vítima para fazer sua narração do crime e, para encurtar, ela falou, literalmente, a mesma história que o promotor tinha relatado, isso entre lágrimas e soluços, fazendo com que o corpo de jurados se olhassem, e com um balançar de cabeça, demonstraram a repulsa ao hediondo acusado!

-Está com a palavra a partir de agora, o arquiteto José Carlos Hafush, mais conhecido como “Zeca Hafush. Falou a Juíza Marjory Bonfim, já demonstrando no rosto, o desprezo pelo réu, em função da sua condenável atitude!

-Senhora Juíza, prezados jurados e todos os presente nesse salão. Quero declarar para todos que estou sendo acusado injustamente, de um ato que jamais eu poderia cometer, digo até infelizmente, pois, para simplificar e acabar com essa farsa, peço licença a corte, para chamar na plateia o Dr. Adalmir Pacheco de Farias, que apresentará vasta documentação da minha inocência. A Juíza Marjory, mesmo sobressaltada com a surpresa, consentiu, juntamente com o promotor José Antonio e, imediatamente, o doutor adentrou ao recinto privado, levando na mão um grande envelope, abriu e mostrou uma radiografia, provando que o senhor Zeca Hafush era eunuco, em função de um acidente de carro, isso há mais de 20 anos! Foi um zoadeiro tremendo, a juíza voltou a martelar fortemente, determinando respeito e silêncio!

O promotor contestou a testemunha de última hora, alegando inclusive, que tudo poderia ser uma farsa para inocentar o réu e, de pronto, solicitou que a Juíza, juntamente com ele, fossem até uma sala ao lado, para comprovar, “in loco”, a alegada castração do réu!

Mediante o impasse, meio titubeando, mas, para proceder imparcialmente, seguiram imediatamente para um local privado, comprovando que o senhor Zeca Hafush era capado totalmente, inclusive o saco escrotal!

Ao voltarem ao recinto, o promotor pediu a absolvição do réu, a Juíza se prendendo para não rir, Zeca Hafush todo escabreado, e a vítima tremendo de medo da merda que tinha se metido!

A essa altura a Juíza perguntou, qual a razão da vítima, ter inventado aquela história absurda?

E ela, ainda chorosa, disse: Eu sempre fui apaixonada por doutor Zeca, desde que ele veio morar em Canavieiras, sempre dava algum mole, me insinuava, etc., mas ele nunca me ligou. Então eu resolvi me vingar, inventei esse estupro, para, como castigo, ele ser preso por ter me desprezado e esnobado! Agora eu entrei bem, vou responder processo de difamação e falsa acusação, e estou sabendo o “por quê” desse capado desgraçado, nunca ter ligado pra mim!

A juíza encerrou o julgamento inocentando o suposto réu e, ao mesmo tempo, o promotor entrou com uma queixa crime contra a mulher louca, que por um grande azar na vida, se apaixonou pela pessoa errada!

*Escritor – Historiador – Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com

 

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