Antonio Nunes de Souza*
Havia na cidade um convento, onde podia-se encontrar e contar, com mais ou menos trinta irmãs de caridade!
Elas estavam sempre atentas as necessidades da comunidade, tinham uma escola bem administrada para os cursos primários e secundários, sendo a mais preparada e eficiente da cidade, tanto que era disputadíssima nas horas das matriculas!
Nesse convento, a Madre Superiora era a Irmã Amélia, jovem ainda de seus 40 anos, pessoa das mais distintas, servidora em todas ocasiões, cuidava dos doentes, idosos, crianças com deficiências, enfim, era uma pessoa totalmente envolvida nas grandes e pequenas necessidades da bonita e querida cidade!
Por incrível que pareça, ela também se envolvia nas áreas comerciais, pequenas indústrias, comércio informal, como também, até nas politicagens locais!
Era, sem a menor dúvida, uma mulher santificada, meiga, carinhosa, solidária a toda prova que, algumas ocasiões, o povo desejou que ela entrasse na política e fosse candidata a prefeita, prometendo inclusive que trabalhariam para que houvesse apenas uma chapa única em seu benefício. Mas, mais que depressa, ela rejeitou e agradeceu aos paroquianos que estavam na frente da futura eleição!
Essa era a grande imagem da quase “santa” Irmã Amélia, pessoa que dava a cobertura celestial através das suas ações, sem olhar cores, sexos, riquezas ou pobrezas. Para ela, todos eram iguais na lei de Deus!
Esse ritual de ajudas, era religiosamente das sete até as dezessete horas impreterivelmente. Jamais passava desse horário, pois, alegava que iria rezar o terço para o Senhor!
Como todos já sabiam do seu horário determinado, muito raramente alguém ousava pedir algo fora do estipulado, mas, com jeito e paciência, ela fazia com que a pessoa deixasse para o dia seguinte. A não ser, em casos de doenças terminais!
Feliz a cidade abençoada por Deus que encontra uma Irmã de caridade como nossa sagrada Irmã Amélia!
Aconteceu que com o passar dos anos, quando Irmã Amélia já havia morrido, não sei como, ou quem descobriu e contou para todos, o que ela na verdade, fazia depois das dezessete horas! Dizem que ela era amante do Frei Nicolau, que depois que rezava a missa da tarde, se encontrava com ela, e os dois iam para a torre do convento, e sem nenhuma cerimônia, transavam até as dezoito horas, horário que ele voltava para o mosteiro na cidade vizinha!
Pode parecer um absurdo, mas, os pecados não foram apenas criados para os hereges, os santificados também caem na tentação sexual, já que é uma necessidade fisiológica. Não sei até onde vai essa versão pecaminosa (?) de Irmã Amélia, porém, pelo que ela fazia por todos, durante dezenas de anos, creio que foi tranquilamente perdoada e agraciada por Deus!
Dizem que essa história veio a tona, quando Frei Nicolau, nos estertores da morte, confessou essa sua artimanha na hora da Estrema Unção, e o Padre que foi seu confessor, deixou vazar esse santificado pecado!
*Escritor – Historiador - Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL - antoniodaagral26@hotmail.com-
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