Antonio Nunes de Souza*
Ludmilla, que nada tinha de russa, era uma menininha do morro que, como a Conceição de Cauby, vivia a sonhar com coisas que o morro não tem. Ganhou esse nome, dado pela mãe, que viu na TV uma linda mulher e, logo acompanhando o modismo, a batizou de Ludmilla Bispo dos Santos. Sobrenomes genuinamente nacionais, quase que atestando sua origem de pai desconhecido!
Desde de pequenina, Celina sua mãe, mulata conhecida nas rodas dos sambas e pagodes, já lhe ensinava a dançar, rebolar e, principalmente, fazer “caras e bocas” para ser mais atrativa e, logicamente, bem safadinha. Obviamente, com essa criação desregrada e livre, cedo já estava mexendo e requebrando nas camas e barracos da sua comunidade. Aliás, infelizmente como é normal, desde treze anos as meninas se tornam mulheres, principalmente as mais “gostozinhas e bonitas”, como era o caso de Ludinha. Sua mãe, ainda fogosa e meia porralouca, pouco ligava para o comportamento da filha. Se via ou sabia, achava normal, ou não ligava deixando a zorra rolar. Esse comportamental nas favelas, não tem nada de sobrenatural ou absurdo!
Ludinha, ganhou corpo de mulher, peito e bunda empinadinha, herdada das suas raízes negras, com o rosto enfeitado com uma dentadura de invejar o teclado de um piano de calda de alto luxo. Com seu sorriso e o jeito meio “sacana” do olhar, ganhava qualquer cara, seja moço ou coroa, pois, a essa altura, sua vida era, simplesmente, fazer vida!
Bem remunerada, além de presentes, convites para fazer companhia em viagens, passeios, fim de semana nas praias e, na verdade, qualquer negócio que rendesse prazeres e grana!
E, como aconteceu com Sua mãe, aos 17 anos engravidou sem saber nem quem era o pai e, com aquela ilusão de ser mãe tão jovem seria maravilhoso, terminou tendo a sua filhinha, que foi batizada com o nome de Sacha, logicamente, Bispo dos Santos, logo apelidada de “Sachinha”, uma vez que pobre coloca nomes exóticos mas, logo em seguida, só tratam eles por apelidos!
Ludinha se refez do parto, nada mudou no seu corpo, continuou a sua vida anterior, como era de se esperar começou a ensinar a Sachinha, dançar, rebolar, sorrir, fazer caras e bocas, etc., seguindo a mesma criação que recebeu!
Hoje Celina sua mãe, já meio coroa vive de lavar roupa de ganho, Ludinha nos Funks, pagodes e sambas nas lajes, ainda jovem com seus trinta anos e, nossa querida Sachinha, com 13 anos começando a debutar nas camas e motéis, seguindo a linhagem profissional da família!
Esse retrato triste existente nas favelas e morros, deve-se a falta governamental de oportunizar as comunidades pobres, levando, principalmente educação!
Até quando teremos que assistir a repetição desse triste e horrível comportamento público e notório?
*Escritor – Historiador -Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com
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