quarta-feira, 2 de abril de 2025

UMA "ESTÓRIA" DE PESCADOR! (Clique e leia)

Antonio Nunes de Souza*

Semana santa próxima, nada melhor que se falar a respeito da sua refeição preferida, que é o peixe e, logicamente, pescador!

Não é nenhuma novidade, e é de conhecimento geral, que os pescadores sempre aparecem com “estórias” mirabolantes e grandiosas, geralmente com detalhes incríveis, visionárias e exageradas. Tanto que, nas rodas da vida, quando alguém fala algo que está acima das normalidades, todos logo repetem em coro, a classificação de “estória de pescador”!

A mais famosa delas, foi retratada em 1952, pelo famoso escritor (Nobel da Literatura em 1954), Ernest Hemingway, através do seu livro “O VELHO E O MAR”, escrito em Cuba!

Porém, mesmo sabendo dessa faceta dos pescadores, temos que dar ouvidos a algumas delas, principalmente, quando são grandes pescadores que, singrando o mar sem limitações, sempre depois de uma quinzena, voltam com seus pescados, e contam os fatos acontecidos durante seus percursos!

Rommel, advogado por profissão, mas, pescador emérito por diletantismo, além do seu barco, quase um saveiro ou escuna, há muito não fazia suas excursões marítimas, ficando preocupado apenas com a vendagem dos grandes cardumes, pescados em alto mar pela sua equipe de auxiliares embarcadiços, que na verdade, eram os reais pescadores!

Com seus cinquenta e sete anos bem vividos, um dia Rommel resolveu, para matar a saudade, ir em uma das viagem de pescaria. Infelizmente, depois de dois dias em alto mar, aconteceu uma tormenta inesperada e violenta, que a embarcação não resistiu e virou no meio das grandes ondas, jogando todos para fora. Ainda tiveram tempo de pegar um bote inflável e remos, que acolheu aos três marítimos, porém, Rommel sumiu no meio das águas. Com a bruta chuva, ondas gigantes e a agonia de todos, nada se via pela frente e pelos lados, que pudesse ser a pessoa do nosso querido pescador!

Ao amanhecer, o tempo voltou com uma calmaria super tranquila e, pelas suas experiências, conseguiram remar até a costa, aportando alguns quilômetros da sua cidade!

Entraram em contato com familiares, que foram busca-los, mas, a falta de Rommel era sentida por todos que, naquela altura já o davam como morto, afogado pelo mar violento!

Ele era um solteirão inveterado, e de parentes tinha apenas uma irmã, que com seu marido, ajudavam na administração e vendas dos pescados!

Muita tristeza por vários dias, aí foi que aconteceu o inesperado. Depois de um mês da tragédia, apareceu um táxi e, deixando todos completamente apavorados, sai de dentro o nosso querido Rommel, forte e robusto, provocando uma alegria inusitada com misturas de choros, pois, todos lhe queriam bem!

Prepararam uma reunião no próprio salão da peixaria, não só para comemorar o retorno, como também para que todos ouvissem de Rommel o que aconteceu com ele!

A noite com a chegada dos convidados, cada um trazendo iguarias e bebidas, todos sentaram, e ele começou a contar sua aventura de Netuno, o Deus do Mar!

Depois de uma hora mais ou menos, me batendo nas ondas e ventanias, apareceu uma mulher linda que me agarrou nos braços, e foi seguindo para um lugar mais calmo. Eu mesmo meio desfalecido, agradecia a Deus ter enviado essa exímia nadadora para me salvar. E, numa hora de desespero, eu abracei a moça pela cintura e percebi umas escamas, aí desci mais as mãos e, apavorado, vi que era uma Sereia com sua longa cauda de peixe. Essa constatação me deixou, mesmo estando sendo salvo, completamente apavorado e sem acreditar nesse absurdo. Mas, sinceramente, era pura verdade!

O fato é que ela me levou para uma grande caverna, cuidou dos seus pequenos ferimentos, preparou alimentação deliciosa, somente com frutos do mar e ervas marinhas. Então, passados uns dias, como acontece quando existe um aconchego entre um homem e uma mulher, transamos uma noite inteira no maior amor. Da cintura pra cima beijos e abraços, embaixo ferro e espeto no peixe. Foi uma delícia incrível esse mesclado, que mais parecia um sonho!

Passado um mês nesse romance de salvamento, ela me levou nas costas para perto da praia, saltei, lhe deu muitos beijos de gratidão e, sinceramente, já estava ficando meio apaixonado. Nos despedimos, cheguei a praia, pedi socorro e, como estava na cidade vizinha, todos já sabiam do meu sumiço, me ajudaram, deram roupas, dinheiro para o taxi, e aqui estou eu sã e salvo cheio de saúde!

Todos, principalmente os pescadores, com suas bocas abertas e entre trocas de olhares, olharam para o céu e agradeceram a Iemanjá, por ter salvo o grande amigo!

Rommel comprou um novo barco, continuou sua vida como era antigamente e, segundo o pessoal da aldeia, depois de nove meses, pescaram um tubarão que era a “cara de Rommel”.

Todos ficaram na maior dúvida: Será que esse danado desse peixe é filho de Rommel?

A verdade é que ele morreu depois de muitos anos, e ninguém sabe na verdade, como foi que ele se salvou. Mas, a dúvida da sua “estória” perdura até hoje!

*Escritor, Historiador, Cronista, Poeta e um dos membros fundadores da Academia Grapiúna de Letras!


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