Antonio Nunes de Souza*
Em
uma pequena e antiga cidade do interior paulista, que me resguardo a dizer o
nome, tinha e tem ainda uma pequena e centenária igreja, que foi construída
pelos Franciscanos Jesuítas, e até hoje ainda está de pé e bem conservada,
graças a dedicação da modesta, humilde e pobre população ultra religiosa!
O
sacristão e responsável pelas coisas da igreja, era um velhinho beirando os
oitenta anos, que já fazia esse serviço desde menino, e morava num quarto e
sala improvisado e construído no fundo da sacristia, exatamente para essa
finalidade!
Mas,
como não somos eternos, Fernando o sacristão, veio a falecer em função de uma
doença hereditária. Muitos sentimentos das beatas, idosas, meias idades e
muitas ainda jovens, que se incumbiram do enterro e suas preparações.
Foi
uma profunda tristeza, uma vez que Seu Fernando era quase considerado um ministro
de Deus, pelas suas palavras meigas, afetivas e o tratamento especial devotado
aos fiéis.
Porém,
Frei Mendonça que era o pároco da igreja, para preencher a lacuna, convidou um
sobrinho que era coroinha na Paraíba, sua terra natal, e já conhecia as sistemáticas
da religiosidades!
Ele,
rapaz ainda dos seus 23 anos, aceitou a proposta e, imediatamente, veio ocupar
o lugar deixado por Seu Fernando. Se instalou, foi apresentado na paróquia, e
todos ajudaram a arrumar a sua nova casa, pois, ele solicitou que fossem
retiradas as coisas pertencentes ao falecido. Talvez, uma superstição!
Tudo transcorria às mil maravilhas, até que, passado algum tempo, começaram a ver a luz de uma vela na igreja durante a noite e, pra completar a estranheza, um vulto de um capuchinho rondando os altares, com um grande terço ia debulhando orações aos pés de cada santo da igreja, depois, apagava a vela e desaparecia. O estranho de tudo isso era que o Capuchinho usava uma carapuça de meia na cabeça, não deixando que fosse reconhecido ou conhecido por alguém. Tratava-se de um capuchinho misterioso, que as paroquianas logo trataram de dizer que era a alma se Seu Fernando, que pela bondade, Deus o transformou num capuchinho, alguém capaz de fazer milagres!
E
assim sendo, as escondidas, as mais desejosas de saber das suas vidas, seus
futuros e receber benesses, nada melhor que consultar o misterioso Capuchinho.
Lógico que cada uma passou a ir em segredo, nas horas das aparições e, como
verdadeiros baús, guardavam segredo do que se passava. Mas, mesmo assim,
começaram a aparecer notícias de milagres acontecidos e as paroquianas passaram
a programar visitações individuais e secretas do Frei Mendonça, das noites dos
milagres, que o próprio Capuchinho Misterioso programou que deveria ser dia
sim, dia não. Isso através de bilhete manuscrito!
O
curioso é que o capuchinho misterioso, antes de abençoar os desejos das crentes
e fervorosas religiosas, as levava para detrás do altar mor e, com uma coberta
estendida no chão, transava gostosamente em nome de Jesus, alegando que estava
abrindo o corpo para a entrada do pedido sacrossanto. E como tratava-me de uma visagem
santificada, todas aceitavam, tranquilamente, para que os efeitos fossem mais
rápidos!
Mediante
o Zum, zum, zum, a notícia chegou aos ouvidos do Franciscano Mendonça, responsável
pela paróquia, e este resolveu em segredo, bisbilhotar ao vivo o que estava
acontecendo. Fechou a igreja e ficou escondido atrás do altar de Santa Rita,
que ficava quase junto ao altar mor. E, lá pelas tantas, aparece o Capuchinho
Misterioso já abraçado com a próxima vítima. Ele, nas pontas dos pés, chegou
por trás e arrancou a carapuça da cabeça do milagreiro e, assustado, viu que o
safado causador de tudo era seu sobrinho o sacristão. Deu dois tabefes bem
dados e o cretino saiu correndo pelo fundo e nunca mais apareceu, nem na
paróquia e nem tão pouco na cidade!
Foi
um vexame danado e até hoje esse caso é contado entre risos e muitas gozações com
as que ficaram sabendo que foram “abençoadas” pelo falso milagreiro!
Que
esse exemplo lhe ensine, que para se obter milagres, se é que existem, você tem
que orar muito, ter fé e fazer suas promessas diretamente a Deus. Tenha cuidado
com as intermediações de falsos ministros, principalmente com esses que
prometem o céu cobrando dízimos e exigindo pix!
*Escritor,
Historiador, Cronista, Poeta e um dos Membros fundadores da Academia Grapiúna
de Letras!
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