Antonio Nunes de Souza*
Quem me conhece de
perto, sabe perfeitamente que eu já brinquei dezenas de carnavais,
principalmente em Salvador, sendo pelo menos uns 35 anos seguidos na Praça
Castro Alves, em cima, atrás e ao lado dos trios elétricos, nos Blocos com
Abadás, Afoxés, som das barracas, ou seja, tudo que você possa imaginar. Era
considerado um grande folião, que além de cantar as músicas, ainda dançava
todas as danças inventadas cada ano: da Galinha, Manivela Tititi, Than, Axé, Rebolation,
Satanás, fora as variações que iam inventando durante os dias momescos. Eu era
o que podia-se dizer com a boca cheia: “Um cara foda!”
Depois que o corpo foi
pedindo uma regulagem, inteligentemente, passei a brincar nos mais maravilhosos
camarotes (2222 de Gilberto Gil e o de Daniela Mercury), onde você desfruta das
maiores mordomias dignas de Dubai, tudo 0800, não só pela minha velha amizade
com os anfitriões, como também sempre estava acompanhado do meu querido mano
Caetano Veloso (vale dizer que ele foi meu parceiro, literalmente, também na
Praça, embaixo da estátua), e ele é um passaporte para qualquer lugar na Bahia.
Nos camarotes você pode brincar, dançar, beber e comer as melhores iguarias, e
ver os trios frente a frente (eles sempre param para homenagear), fora a
abundância de lindas mulheres, astros e estrelas globais, e muitas “free
lancer” (periguetes de 1ª). Você só não se arruma, se for um bobão eleitor de
Bozo. Se você imagina que o céu é um lugar maravilhoso, não duvide ele perder
para esses camarotes. Lá, sem você precisar ir para as nuvens, toda hora se
bate com uma estrela. Uma coisa surreal!
Depois dessa “farraria”
toda, de oito anos pra cá, voltei de Salvador, e já sentindo o peso dos anos,
não mais fui a capital desfrutar, mesmo como simplesmente apreciador a
distância. Recolhi-me a minha insignificância, esquecendo um pouco as folias,
já que minha cidade não tem carnaval há alguns anos. Com isso, passei a ser um
grande folião televisivo, desfrutando a distância a maravilhosa festa profana!
Aconteceu que nessa
sexta-feira e sábado, fui agraciado com uma festa carnavalesca, referente a
“Lavagem do Beco do Fuxico”, pequena rua frequentada por boêmios, onde tem um
bar considerado o refúgio dos intelectuais, que se deliciam com as famosas
batidas de frutas, elaboradas pelo famoso Caboclo Alencar!
Como meu apartamento
fica bem em frente ao tal beco, logicamente toda essa festança ocorreu em minha
rua, ou seja defronte da minha sacada, fazendo lembrar-me dos tempos de
camarotes. E nisso mermão, fiquei olhando de perto toda movimentação, pessoas
de todas idades, danças bonitas, sensuais e muitas desengonçadas, alguns
bêbados, a maioria com uma latinha de cerveja na mão, muitas mulheres com
roupas provocantes, machões sem camisas, vendedores com seus isopor, policiais
desfilando no meio da multidão, blocos, trios, bandas, charangas e as porras
todas, alusivas a esses festejos. E, sabe o que veio a minha cabeça oitentona?
Puta merda! Quanta
loucura desse povo, nessa multidão bebendo, fazendo papagaiadas, vestidos
ridiculamente, se contaminando com a aglomeração, tendo seus celulares
roubados, muitos homens e mulheres prevaricando, não entendo e não me conformo,
de ter feito essas merdas todas. Sinceramente, me envergonhei todo e resolvi
escrever essa crônica, contando meus doces pecados. Pois, na época, não posso
negar que foi uma maravilha e deixou uma grande saudade!
*Escritor, Historiador,
Cronista e Poeta!
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Um comentário:
Tudo verdadades
Boa noite amigo!
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