Antonio Nunes de Souza*
Visitar Santo Amaro sempre
é uma satisfação orgásmica em todos os sentidos, pois, revivo desde minha tenra
infância até a patente terceira idade, representada pelos meus não tão bastos
cabelos brancos!
Desta feita
tive oportunidade de levar, entre meus doces pensamentos e eternas lembranças,
um amigo que, além de buscar novas emoções na sua área cultural e artística, trazia
dentro de si uma esperança das mais significativas da sua vida, que era a de
encontrar rastros ou velhas pegadas que o levasse ao caminho das suas origens!
Para mim foi
um choque saber da história no decorrer da viagem. Embora em muitos momentos procurasse brincar
com o assunto, sinceramente me tocou profundamente o fato em si, uma vez que reconheço
claramente quanto é importante à figura paterna no desenrolar de nossa vida,
pois, mesmo tendo um pai conhecido e visível, até hoje sinto dentro de mim as
sequelas deixadas pelas suas omissões e a falta dos carinhos tão necessários
entre todos os animais! Brinquei com um assunto extremamente sério,
simplesmente para quebrar a bruta seriedade existente dentro dele. Aliás,
caracterizo-me por proceder dessa forma, dando sempre um cunho hilário em todos
os assuntos que vejo ou me são passados. Vejo normalmente o lado pitoresco e
alegre das coisas!
Levando
muita fé, mas, pouca esperança, logo na chegada nos colocamos “detetivamente”
em buscas das informações que desejávamos, fazendo uma série de perguntas aos
nossos amigos e antigos moradores da boa terra. E, por incrível que pareça, em
menos de uma hora em solo santamarense, já contávamos com detalhes enriquecidos
sobre a família que, avidamente, desejávamos localizar. Até a existência de uma
irmã (que não tínhamos conhecimento), nos foi relatada por uma colega de turma
e formatura do desconhecido principal, que era o pai de nosso querido amigo!
Já eufóricos
pelo andar proveitoso dos acontecimentos, passamos a fazer festas e
premonições, imaginando que logo em seguida, estaríamos frente a frente com o
dito cujo. E, mesmo querendo disfarçar sua ansiedade e seus sentimentos, era
visível no rosto do nosso amigo, quanto tudo aquilo estava representando
psiquicamente para ele. Seu rosto estava tenso e o sorriso amarelo deixava
transparecer quanto o estava abalando o impacto das notícias apuradas!
Mais tarde,
depois de termos descansado no hotel, voltamos a Lira dos Artistas (local onde
preparavam os apetrechos para a procissão dos Reis Magos), encontramos com mais
um amigo que, sem nenhuma maldade, modificou nossa pesquisa inicial, partindo
para uma outra família de igual sobrenome, nos fazendo ver que se tratava dos
descendentes diretos e indiretos do visitante aflito. Essa informação nos
encheu de euforia, pois, casualmente, um sobrinho do suposto pai procurado, era
médico e morava em Santo Amaro!
E, para
maiores encantos, tratava-se de um músico que também era filho de músico.
Obviamente, essa hereditariedade consanguínea revitalizava ainda mais a
esperança de estarmos bem próximos da verdade e dos seus protagonistas, já que
nosso amigo é chegado e versado nas notas musicais!
Infelizmente
ou felizmente, esse novo fato caiu por terra logo à noite, quando se descobriu
amigos íntimos e contemporâneos dos irmãos e da irmã, inclusive as profissões
exercidas, e mais importante: a cidade onde atualmente moravam. Mas, por uma
desdita da sorte, lamentavelmente, o mais velho dos irmãos, pai do nosso
querido amigo, já havia falecido há algum tempo. Senti claramente o impacto
causado nele ao saber que morreria sem ver o seu pai, pois, por certo, mesmo
sem ter se dedicado ferrenhamente por essa busca anteriormente, tinha em seu
subconsciente o desejo e a vontade de um dia conhece-lo e abraça-lo
carinhosamente!
Embora todos
nós tivéssemos brincado ou vibrado com a nova e verdadeira notícia, no íntimo
sentimos quanto não foi agradável ele saber daquela forma direta e objetiva que
o seu pai não mais estava vivo. Imagino que, quando ele saiu alegando que seria
para tomar um ar, certamente foi para refazer-se do susto levado e, ao mesmo
tempo, colocar para fora o pranto que sempre fora guardado com reserva, para um
encontro de alegria que não acontecerá jamais!
A noite
todos nós estávamos conscientes de que tinha aflorado a verdadeira diretriz da
família procurada, faltando apenas o detalhe de encontrar os irmãos em Salvador
e, conseqüentemente, algum ou alguns dos filhos do falecido, que serão os mais
novos irmãos do nosso viajante amigo!
Daí pra
frente tudo foi somente festa. A saída dos Reis Magos de Dona Canô, o desfile
pela cidade, as paradas programadas numa procissão cheia de encantos e
inovações para meu amigo visitante e o casal que nos acompanhava, mostrando a
beleza da tradição folclórica!
Na parada no
presépio vivo da casa dos Velosos, encontramos com Caetano Veloso que, como
sempre, está presente para essa festividade, abrilhantando e, com certeza, sem
ser sua intenção, sendo a atração maior!
Chegamos ao
espaço de eventos, onde a parte profana seria realizada, nos acomodamos em
mesas separadas e começamos a beber e comer as iguarias típicas do recôncavo
baiano, todas ligadas diretamente à rica culinária africana. Uma verdadeira
delícia. Assim como tudo que veio da
África, principalmente as mulheres com suas ancas protuberantes e arredondadas,
elegantes no porte, dentes fortes e brancos, peles lisas e sem pelos, sem falar
nos lindos, duros e pequenos peitos sempre nos apontando como dedos em riste.
Que Deus salve a América, mas, olhe com mais carinho o continente africano!
Uma hora
depois da nossa chegada, surge Caetano que, depois de várias paradas para atender
tietagens, aconchegou-se em nossa mesa para conversarmos relembrando velhos
assuntos e atualizarmos os mais recentes. Como prometi, chamei meu amigo para
apresentar a estrela maior da festa, concretizando o seu segundo desejo naquela
viagem, que por certo, será inesquecível.
O papo de
ambos levou quase uma hora, onde se percebia a simpatia mútua que nascia
naquele momento! A diversidade de assuntos era enriquecedora para ambos, pois,
cultura e inteligência são qualidades peculiares nessas duas pessoas. Prosa
Ruim (apelido do outro amigo que estava conosco) não parava de perpetuar o belo
e esperado encontro, fotografando-nos nos mais diversos ângulos, os sorrisos e
os semblantes de satisfação!
Horas
depois, já cansados pelos festejos e as emoções vividas naquele fim de semana
santamarense, voltamos para o hotel, dormimos e, assim que acordamos, nos
arrumamos para voltar ao nosso convívio grapiúna que, lamentavelmente, nos
deixa muito a desejar!
Essa foi
mais uma das minhas idas ao meu querido Santo Amaro, cidade que me faz muito
feliz e também a felicidade de muito dos meus velhos e novos amigos!
Essa viagem
foi no início de janeiro de 2011!
*Escritor –
Historiador e poeta!
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