Antonio Nunes de Souza*
Acordei, fiz meus habituais exercícios na área da casa, tomei meu banho, preparei meu café da manhã, vesti-me e fui pegar o meu taxi para começar a trabalhar!
Posso me considerar um privilegiado, pois, com 28 anos, já tenho meu próprio carro, com alvará e totalmente pago. Isso me dá uma boa renda, não tenho horários para cumprir, fora as condições de vida que tenho, sendo solteiro e morando sozinho!
Era sete horas, segui pela avenida e, logo em seguida, um casal me deu a mão, parei imediatamente, eles entraram e fui aí que vi que a mulher estava grávida, com a barriga enorme e gemia desbragadamente, enquanto seu esposo, um jovem rapaz, completamente nervoso, tremia amarelo e bastante fora de si!
Ele pediu que os levassem ao primeiro hospital que fosse possível, pois estava na hora do nascimento da criança, mas, infelizmente, como acontece todas as manhãs, o trânsito estava moroso, ainda mais, tinha havido um acidente na frente, que deixava uma fila de espera de mais de cem veículos!
Nesse instante a mulher começou a gritar dizendo que a bolsa havia estourado e, quando olho para trás, vejo seu marido desmaiado deitado no chão do banco trazeiro e a mulher deitada, com as pernas para cima. Tomei um grande susto e encostei o carro numa vaga em frente uma garagem, local proibido, mas, não tinha outra alternativa!
Saltei da frente, abri a porta trazeira, entrei e, assustadoramente, o banco do carro estava todo molhado, com algumas manchas de sangue e, para completar, a mulher fazia uma força enorme para o menino sair, ao mesmo tempo peidava e se cagava toda, causando uma cena bárbara para alguém que, apenas ver um pequeno corte num dedo, ficava horrorizado.
Ela com o vestido suspenso, já tinha vindo sem usar calcinha, causando uma visão horripilante para um jovem leigo que nunca tinha presenciado nada semelhante. Nesse instante, começou a aparecer a cabeça da criança, enquanto a mulher gritava e pedia que eu ajudasse a saída, usando as mãos. Olhei para o lado e, absurdamente, o marido parecia morto de tão desmaiado que estava.
Fui obrigado a meter a mão naquela imundice (merda, mijo e peidos), pegar a cabeça do bebê e ir puxando lentamente. Sinceramente, nunca tinha imaginado a elasticidade de uma vagina para dar saída a uma criança. Parecia a boca de uma daquelas cobras Sucuris do pantanal que engolem um boi inteiro.
Eu e a mulher, completamente molhados de suor, pois havia desligado o carro e o ar condicionado também. A criança foi saindo lentamente, até que pude tê-la em minhas mãos e coloquei no colo da mãe. Não precisou dar o tradicional tapinha na bundinha para ele chorar, uma vez que, talvez pelas condições adversas do seu nascimento, já estava chorando de alegria por ter saído daquele ambiente fétido e terrível!
Não só o carro, como minhas roupas estavam em petições de miséria, minhas mãos nem fale, estavam uma verdadeira imundice!
Nesse instante o pai acordou, viu o filho no colo da mãe e começou a chorar de emoção e alegria. Quando dei por mim, em volta do carro tinha uma aglomeração de gente que me aplaudia e me chamava de herói!
Mas, o que eu queria mesmo era voltar para casa, tomar um bom banho, ir a um posto lavar o carro e continuar minha rotina. Alguém já havia chamado o SAMU, que chegou, pegou o casal, levando-os para um hospital.
O rapaz quis acertar a corrida e as despesas de lavagem do carro, mas, preferi dar para ele meu cartão e que depois ele me telefonasse para acertar. Naquele momento, o importante era sua mulher e seu filho.
Passado um mês, já sem esperança, recebi uma telefonema do casal, foram em minha casa levar a criança para eu conhecer, e deram o meu nome como uma gratidão!
Fiquei bastante feliz e rimos muito da situação terrível que passamos, inclusive, fui convidado para ser o padrinho, que aceitei de bom grado!
Peço a Deus para nunca mais acontecer uma coisa como essa comigo, pois, não sei se resistirei, ou terei coragem de novamente enfrentar um parto!
Hoje, eu juntamente com minha esposa e um casal de filhos, estamos indo para a formatura de engenharia do meu querido afilhado Ruizinho!
Mas, jamais vou esquecer, da experiência que passei, que foi um dia FDP!
*Escritor-Historiador-Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com
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