sexta-feira, 21 de maio de 2021

ATÉ ONDE VAI A SUA CULPA?

 

Antonio Nunes de Souza*

Para que você possa avaliar quanto tem de culpa nesses resultados tão cruéis, torna-se importante, ler, atentamente, esse fictício depoimento na delegacia de polícia que, com algum esforço e tristeza, que farei abaixo, mostrando grandes verdades existentes, os motivos, as culpabilidades, a persistência de comportamentos, e o pior de tudo, os desastrosos resultados!

Durante o relato, será usado um linguajar normal e natural usado na criminalidade e nas favelas, inclusive com erros de concordâncias, palavras, abreviaturas, etc., sem também que sejam considerados nomes feios e chulos, mas, comumente e corriqueiramente usados no dia-a-dia da marginalia!

Em frente ao paciente Dr. José Antonio Pinto, delegado do Terceiro Distrito Policial, estava o bandido e criminoso João Nilton da Silva, 17 anos, prestando o seu depoimento para, posteriormente, ser entregue a justiça para as devidas providências!

 

- Dotô reconheço tudo que dissero de mim e não nego que roubei, matei e já cometi outros crime desde meus 14 ano. Não tenho nenhum rependimento e se duvidar, quando saí dessa, sou capaz de continuar da merma forma, roubano e apagano gente, basta que seja priciso. Mermo com minha pouca idade, quem veve em favela envelhece rápido, toma conhecimento das coisas muitas vez até apulso ou pela necessidade, basta que ele sinta na carne e na pele o desprezo e nojo que a sociedade tem por nois, tratano agente como bichos ou animais nojentos e perigosos.

Sou filho de pai desconhecido, já criança via minha mãe transar com vários homens, para conseguir o pirão dos 3 filho. Ela comprava dropes e chocolate batom pra agente vender nos sinais, pra ajudar em casa, e o que eu sofria era foda ver a grande maioria fechar o vridro em nossas cara, nos xingar, e seus filhos no banco de traz com risadas de deboches darem adeus e fazendo careta. Mostrano com isso as sua superioridades e nos desprezano como se estivesse ofendeno eles, já que apenas agente queria ganhar uma merreca para ajudar nas despesa. Na minha favela, como em muitas outras, a escola era uma merda, cheia de goteiras, sem merenda, professores putos da vida por seus salários serem pouco e sempre atrasados. Não tinha condições de comprar livros e cadernos, então frequentar aula pra que? Era melhor fazer entrega de drogas para os traficantes que nos tratava bem e a grana era certa. Resulvi voltar a ser honesto e fui para os faróis com um litro de água e um limpador para lavar os para-brisas! Foi pior ainda, pois não ganhava porra nenhuma e ainda éramos xingados de filhos da puta e que se afastasse do carro. Então passei a ser sacana e me vingava desses merdas colocando um prego e quando ele acelerava ia levando um bonito arranhão na pintura. Achano pouco, pelas ofensas e desprezos recebidos, passei a usar uma garrafinha de mineral cheia de solução de bateria, que jogava um pouco nos tetos e com o sol queimava a pintura. Uma vingança filho da puta, mais essa raça de sacana mericia!

Fui cresceno sem nenhuma portunidade, morano numa merda de um barraco de madera e flandes, completado com papelão, dormindo 4 pessoa no mermo quarto. Sem emprego, faltando tudo, as vezes apareciam uma porrada de madames dondocas, com um fotografo de revista e TV, levando umas merdas de roupas velhas, apenas para aparecer como notícia. Grande tropa de putas descaradas, achano que estavam colaborano até mais do que podiam!

Dos meus 16 anos em diante comecei a entrar no crime pesado, roubano, assaltano, vendeno drogas nas portas de escolas para os riquinhos discarados, que tinham tudo e se metia em vícios. Já devo ter matado várias pessoas, ou atirado apenas por ódio e raiva, desse tratamento podre que recebi, e o povo pobre continua recebeno dessa sociedade falsa, e mais bandida que nois, que só cuida dos seus interesse. Os pobres que vão para as putas que lhes pariu!

Não atinano eles que, com esse comportamento escroto, estão a cada dia criano pessoas iguais a mim, que eles, cinicamente, chamam de monstros. Não percebeno que somos apenas frutos do que eles plantam e continuam plantano e, vergonhosamente, só fazem colocar a culpa nas costas do governo!

Dou risadas largas em ver esses sacanas trancados em casa, com medo de sair nas ruas, se cagano de medo de morrer, e nois livres e fazeno tudo que eles merece, e procedeno como os bichos que eles mesmo criaram. Enquanto esses filhos da puta forem ruim, nós procura ser pior. Sei que a qualquer hora vou morrer, então, aproveito, ganho dinheiro e, imediatamente, gasto com bebidas, drogas e as putas!

Com minha idade, devo tirar três ou dois ano de cadeia e, certamente, voltar as mermas façanhas, já que a podre sociedade e a política não muda em nada. Com essa puta cegueira eles se fode e nois botamo pra foder!

Terminado o depoimento, o escrivão que fazia a lavratura, olhou para o delegado e deu por encerrado, tirando duas cópias na impressora!

O delegado chamou um policial e mandou que essa fera fosse posta na jaula, sabendo ele, que milhares iguais estão circulando pelas ruas das cidades. Seria bom que essa acomodada e idiota sociedade, lesse esse depoimento, passasse um filme em suas memórias, e vissem quantas vezes se comportaram dessa forma descrita pelo marginal, e sintam “ATÉ ONDE VAI A SUA CULPA”!

“Quem planta cactos, só pode colher espinhos!”

*Escritor–Historiador-Membro da Academia Grapiúna de Letras – AGRAL – antoniodaagral26@hotmail,com-antoniomanteiga.blogspot.com

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