terça-feira, 31 de dezembro de 2019

ÚLTIMO DIA DO ANO!

Antonio Nunes de Souza*

Finalmente chegamos ao “finalmente”!
Calendário criado pelos romanos quando eram os poderosos da terra. Dividiram o ano em meses, colocaram seus nomes neles como honrarias e demonstração de poderes e, logicamente, a cada mudança na contagem progressiva, nada mais justo que uma comemoração das mais significativas, ganhando em muito do Natal cristão, que representa muito mais um acontecimento do nascimento de uma divindade que, segundo a história, veio ao mundo para pregar o amor, a paz e a a igualdade entre os seres humanos. Então o óbvio aconteceu: Foi morto sem a menor dignidade, desfilando com uma cruz pelas ruas, no sentido de mostrar ao povo que, quem ousa contra a força e a riqueza, será sempre barbaramente punido. Evidentemente, como é feito até hoje. As classes dominantes quando o povo, ousadamente, bota a cabeça pra fora nesse sentido, é grotescamente decapitado, uma vez que, segundo os poderosos, “povo foi feito para votar e não para ser votado!” Vejam que podre e pretenciosa filosofia!
Alguns desses incrédulos, chegam ao desplante de dizer que: Jesus foi um primeiro comunista da história, com as pregações pelas ruas e templos para a igualdade dos seres!
Deixando de lado as tristes verdades, o que lamentamos é que, mesmo com os pulinhos da sete ondas e um pedidos a Iemanjá, entra ano e sai ano e as coisas continuam deficitárias, tristes e amargas para os pobres e miseráveis!
Infelizmente, já que somos cordeiros e ordeiros, praticamente já estamos tolamente se adaptando a esse “modus vivendis” e, com coragem de guerreiros, enfrentando os normais acidentes de percursos!
Eu, como um pobre atrevido e ousado já pulei minhas ondas a famosa Orixá em dois Oceanos (Atlântico no Brasil e Pacífico no Havaí), mas, mesmo com essa dualidades linguística, nada aconteceu que eu esperava.
O mais certo é virar “Maria vai com as outras”, comer bem, beber muita champanhe e até cachaça para os mais pobres e, tranquilamente, danças até o amanhecer, pois, seguramente, no dia seguinte, continuará com sua rotina de vida!
Que o Ano Novo, mesmo com as trapalhadas que estão acontecendo, traga alguma coisa verdadeiramente boa para todos. Divirtam-se hoje à noite, pois o amanhã ninguém pode fazer previsões!
GRANDE ABRAÇO FRATERNAL!
*Escritor-Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL-antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com


segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

FICÇÃO - O TERROR HIDROGRÁFICO!

                           Antonio Nunes de Souza*

Ao ligar meu receptor da TV mundial e universal, já que somente temos uma única estação de transmissão via satélite, com tradução simultânea para todos os idiomas e dialetos terrestres, pude ver em quarta dimensão, uma notícia que, pela sua repetição, vinha assombrando todos os países, sem que a polícia internacional tivesse condições de amenizar esse tipo de prática criminosa. Estou referindo-me aos roubos arquitetados por quadrilhas internacionais das mais altas periculosidades, especialistas em roubos de cargas de água potável!
Estamos no ano de 2051, mas, desde os anos de 2035 que já acontecia fatos que davam para se prever que, dentro em breve, isso se tornaria uma rotina, deixando em perigo a população, pois, nessa época, os marginais já assaltavam os meninos que iam para as escolas tomando suas doses de um copo de água para sanarem as suas sedes diárias. Diga-se de passagem, que essa modesta dose, era ofertada pelo governo, já que a água que, eventualmente, corria nas torneiras, não tinha mais condições de serem recuperadas em função da alta poluição de mercúrio, coniformes fecais e outras sujeiras provocadas pelos comportamentos dos homens em nome do grande (?) progresso.
Naquele momento aparecia ao vivo uma quadrilha de andróides fabricados para esse fim, utilizando metralhadoras a laser e, a sua direita, outro caminhão tanque com uma mangueira fina e eficaz, que sugava toda água para seu recipiente, enquanto a polícia responsável pela fiscalização da distribuição na cidade tentava combater esse terrorismo urbano. E, essa modesta, mas, preciosa carga, estava acabando de chegar de um aproveitamento de um restante de geleiras do pólo norte, custando uma fortuna aos cofres públicos em termos de valores de importação.
Fiquei bastante triste e estarrecido, fui tomar o meu banho genérico no chuveiro de raios ultra limpex e, recordando meu tempo de criança, lembrei-me dos maravilhosos banhos que tomava no meu querido rio cachoeira, hoje, como a grande maioria do mundo, não mais existe!
*Escritor –Membro da Academia Grapiúna de Letras –                   antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com

IRONIAS DO DESTINO!

                                                 Antonio Nunes de Souza*
                                                                                                   Sentado, as lágrimas desciam pelo rosto ao ouvir uma frase forte e comovente que, num passado distante, a ouvi com entonação de carinho e preocupação e encontrava-me alegre e feliz. Fiz uma retrospectiva, projetando em minha mente um filme que não gostaria de tê-lo assistido:
-Pâmella Mary, saia da lama menina! Falou a mãe enquanto enxaguava na bacia a roupa de lavagem de ganho.
Sorri, internamente, quando ouvi o nome da pequena criatura que, sentada numa poça d’água imunda, brincava tranqüilamente como se fosse uma piscina. Analisei como é interessante e peculiar entre as pessoas pobres, colocar nomes exóticos e estrangeiros em seus filhos, procurando enriquece-los de alguma forma, imitando os nomes comumente usados nos filmes e novelas da tv. Mais engraçados ainda são os acréscimos de letras para dar maiores ênfases, muitas vezes tornando ridículas as pronuncias e as combinações. Pâmella Mary era um exemplo típico desse fato!
-Bom dia dona Mariana!
-Bom dia, Dr. Márcio! Eu estava esperando o senhor na parte da tarde, por essa razão não preparei a menina.
-Infelizmente surgiu um compromisso inesperado para hoje à tarde, e resolvi vir logo pela manhã. Mas, como a senhora não tem telefone, não tive condições de avisar. Porém, pode ficar tranqüila que aguardarei de bom grado a preparação da criança.
Enquanto mandava que eu sentasse em um tamborete com as pernas meio bambas, Mariana desocupou a bacia estendendo as roupas no varal improvisado em plena ruela da favela, enchendo-a de água e, em seguida, pegou a menina pelo braço e a colocou dentro, antes porém, lavou os sujos pés que estavam enfiados na lama fétida do fundo da poça.
Conforme havíamos combinado, eu estava ali para levar a menina, adotando-a extraoficialmente, pois estava casado há 10 anos e não consegui ter um filho em função de um problema genético da minha mulher. E fomos informados que dona Mariana não tinha condições de criar a menina e estaria disposta a dá-la para um casal que fosse respeitável e lhe desse uma boa educação. Ela foi a nossa casa, nos conheceu, viu que tínhamos boas intenções e concordou em nos dar a criança, mesmo sem as burocracias da justiça. Como a menina tinha dois anos e não era registrada, nós a registraríamos como se fosse nossa própria filha e tudo ficaria na mais completa tranqüilidade e segredo para ambos os lados. Pretendíamos dar algum dinheiro para Mariana como uma compensação por estar nos dando uma felicidade ímpar, mas ela recusou-se categoricamente, alegando que, somente em estarmos dando conforto e segurança para sua filha, representava a maior das fortunas que ela poderia ter na vida. Mas, mesmo assim, prometemos ajuda-la em alguma ocasião que fosse preciso.
Não ficamos temerosos com relação a alguma reclamação posterior do pai de Pâmella, pois se tratava de um individuo que apareceu na favela tempos atrás, sem documentos, eiras nem beiras, nenhum parente e fazia biscates diversos para sobreviver. Mariana o conheceu num pagode, ficou, e aconteceu. Uma semana depois desse fato, ele foi atropelado e morto numa rua da zona norte. Mariana só veio saber, através dos comentários habituais da favela. Entretanto, ninguém sabia desse rápido envolvimento e nem ela percebera que já estava grávida. Quando descobriu, deu prosseguimento a sua gravidez, guardando segredo de quem era o pai, pois, naquele ambiente, ninguém tinha preocupações ou causava estranheza alguém aparecer de barriga.
-Pronto Dr. Márcio. Aqui está sua bonequinha! Coloquei nesse saquinho de mercado algumas roupinhas, embora o senhor tenha dito que já tinha em casa um enxoval completo no quartinho dela, que tive a felicidade de ver. Ela disse isso escondendo com um sorriso os olhos lacrimejantes de uma mãe que está entregando um pedaço de si.
Dei-lhe um abraço, agradeci mais uma vez, e alegre e comovido carreguei a criança nos braços, partindo para o carro que estava um pouco distante, em função do caminho do seu barraco ser intransitável, onde Eunice, minha esposa, me aguardava, pois não queria ver a cena da despedida. Mas, nada aconteceu que fosse dramático.
Pâmella não esboçou nenhuma reação e nem estranhou as pessoas que a estavam levando-a O passeio de carro, as novas paisagens e a variação de novidades, eram suficientes para faze-la feliz e nem lembrar do seu barraco ou da própria mãe.
Tomamos todas as providencias combinadas e normais para perfilha-la e criar a menina dando-lhe educação, carinho e amor. Não mudamos o seu nome, como uma homenagem ao gosto(?) da sua mãe.
Os anos passaram, Pâmella terminou o curso secundário, fez vestibular e passou a cursar a faculdade de arquitetura. Quanto à dona Mariana, curiosamente, após dois meses que havíamos trazido a menina, voltamos ao seu barraco e não a encontramos. Seus vizinhos não souberam nos dar nenhuma notícia, como também, nesses 19 anos, jamais voltamos a nos falar ou ter alguma referencia do seu paradeiro. Em função disso, jamais contamos nosso segredo para a menina.
Mas, como muitas vezes o destino nos prega peças nem sempre agradáveis, Pâmella começou um namoro com um rapaz que era usuário de drogas e, infelizmente, levou-a para o vício. E, como comumente acontece, quando percebemos já era tarde. Ela começou a ser agressiva, passar dias fora de casa, deixou de freqüentar a faculdade, além de beber e fumar, iludida como muitos jovens, achando que isso é que era felicidade.
Tentamos de todas as maneiras contornar a situação, mas, somente pode-se ajudar, quem realmente deseja ser ajudado. E ela nada queria e não aceitava mais nossos carinhos e atenções, terminando por ir morar com o tal indivíduo em um quartinho de uma pensão de quinta categoria.
Depois de meses nessa vida, onde não tínhamos nenhuma notícia, hoje ela apareceu aqui em nossa casa, com uma aparência horrível, olheiras, mal vestida e, cinicamente, veio nos pedir, quase exigindo, dinheiro para comprar drogas, pois estava em tempo de enlouquecer e, caso não tomasse uma dose iria morrer de dores por todo corpo.
Foi nesse instante que ouvi a fatídica frase, desta feita repetida por minha mulher, com muita compaixão, lágrimas e amor, que me fez lembrar toda essa triste história:
-Pâmella Mary, saia da lama menina!

*Escritor – Membro da Academia Grapiúna de Letras-AGRAL- antoniodaagral26@hotmail.com-antoniomanteiga.blogspot.com